Capítulo 4

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Era impossível não encarar a cicatriz toda vez que eu estava exposta diante de um espelho. Era impossível não lembrar daquele maldito dia. Do cheiro do sangue. Das paredes manchada. Da pilha de corpos. Da Yuna. Do som da arma sendo disparada contra mim. Da dor. Eu tinha a marca da minha morte cravada acima do peito. Poucos centímetros do coração. Outras pessoas diriam que foi um milagre. Eu, castigo.

Graças aos vários jogos que eu e meu grupo tínhamos jogados, sem o Chapeleiro saber, eu tinha vários dias de vida. Então com os cuidados pertinentes e o repouso constante, não demorou muito para que eu pudesse me curar. Foi então que sozinha, cheia de raiva e completamente desolada, eu resolvi me vingar do Yuki e do Chapeleiro e, se possível, acabar de vez com essa merda de lugar utópico.

Passei a mão na cicatriz, respirei fundo e arrumei a camiseta, voltando a me concentrar no meu ferimento recente. Não era uma ferida de longo comprimento, mas era um pouco profunda e isso me preocupava.

Após muita insistência de minha parte a mulher de cabelos curtos, que eu descobri se chamar Ann, me forneceu materiais para sutura e outras coisas. Não vou dizer que ela me entregou facilmente, pois além de linda e habilidosa, a mulher também era insistente. Ela insistiu para me ajudar, todavia, eu não era burra de me expor desse jeito.

Eu havia finalizado o último ponto, quando a porta foi aberta em um baque. Mas eu não tenho um minuto de paz nesse lugar.

— Que merda! — berrei, enquanto segurava a gaze contra o meu ferimento. — Vocês sabem o que é bater? — berrei para o homem platinado e a mulher de tranças. — Eu poderia estar pelado! — Peguei os pedaços de esparadrapo e coloquei no curativo, fixando com cuidado. 

— Eu avisei. — a mulher olhou para o platinado.

— Por favor, Kuina, você iria adorar a cena. — O homem platinado disse fazendo a morena, Kuina corar. Que amigo! — Eu achei que você fosse morre lá! — Continuou.

— Não dessa vez. — respondi seca. Eles com certeza não tinham vindo para falar da minha luta. — Tire as mãos! — berrei quando a mulher tocou na minha mochila.

— Você está bem estressado, né? — Kuina perguntou. — Sabe o que cairia bem? Um almoço e um tour para conhecer o lugar. — disse simples.

— Fala sério! — suspirei sem acreditar. — O que vocês querem? Eu tenho que tomar um banho e me trocar! — queria mesmo era que eles dessem o fora do quarto. O homem platinado olhava tudo, inclusive a mim, quase como se pudesse ver a minha alma. Ele era observador e isso me irritava. A mulher, apesar de sorrir de maneira dócil, me olhava de maneira estranha. Eu não conseguia decifrar e isso, também me irritava. Pior do que você saber de algumas coisas, é não saber.

— Acho que o seu banho pode esperar. — começou o ainda desconhecido. — Vai por mim, você não é burro, vai querer almoçar conosco. — disse cheio de si. Bastardo arrogante. Não vou mentir, eu estava curiosa a respeito do que eles tinham em mente, então dei o braço a torcer.

— Posso ao menos me limpar? — os dois se entreolham e me lançaram um olhar estranho, antes de sair. Respirei aliviada, peguei o material que usei para fazer o curativo e corri para o banheiro. Joguei tudo na lata de lixo, lavei minhas mãos, retirando todo o sangue e em seguida encarei meu reflexo no espelho. 

Você consegue! São dois peões. É só ouvir o que eles tem para dizer e então, seguir com seus planos. Saí do banheiro, peguei minha pequena faca e a coloquei novamente na bota. Vamos lá! Abri a porta e me retirei do cômodo dando de cara com os dois idiotas. O garoto tinha uma expressão calma e a garota parecia confusa.

Fúria In Bordeland Where stories live. Discover now