Capítulo 30 - Amigos De Confiança

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Brinco com o fio do fone enquanto aguardo fora do edifício, paciente e pensativa, o Chapeleiro terminar de jogar.

Apesar de não estar me sentindo feliz pelo meu ato futuro, não me sentia triste com o que iria fazer. Chapeleiro, manipulado por Yuki, arrancou de mim meus amigos e o grande amor da minha vida. Não me sentia mal ou culpada. Eu sentia raiva e ressentimento. 

Eu confiei meus amigos a Chapeleiro. Eu fui ingênua demais, boba demais. Agora, aquela Kira não existia mais. E no futuro, se é que existe um, eu prezo para que a Kira de hoje morra e seja enterrada junto as covas que eu ainda pretendo cavar. Já que eu não podia esquecer, talvez eu pudesse seguir em frente e mudar a minha história.

Estava tão perdida em pensamentos, que quase não ouvi o parabéns ecoar pelos becos, indicado o fim e a vitória do jogo.

Rapidamente, arrumei a postura e esperei, ansiosa o homem sair. E como de esperado ele logo saiu, mas permaneceu parado na frente do edifício. Observei, curiosa, sua cabeça pender para trás, seu olhos fecharem e ele respirar fundo, enquanto levantava as mãos para o céu, como se tivesse agradecendo.

Apertei com o força o fio em minhas mãos.

Maldito. Ele não merecia o ar que respirava.

Espero ele se afastar um pouco para segui-lo, mas sou surpreendida quando Chapeleiro vira uma rua e corta caminho.

Aperto os olhos, confusa.

Que merda esse doido estava fazendo?

Coloco o capuz do corta vento branco, enfio o fone no bolso e sigo o homem até seu último destino. Uma coisa era certa, de hoje ele não passaria.

Continuo o seguindo, no entanto, paro ao vê-lo adentrar em um outro edifício.

Franzo a testa.

Onde diabos ele estava indo?

Faço o mesmo caminho que o homem, tomando todo cuidado para não fazer barulho e observo de longe ele entrar em uma das portas do corredor empoeirado e escuro. 

Me aproximo da porta e me encosto na mesma, tomando cuidado para não tropeçar no vaso com terra que ali estava. 

— O lugar continua igualzinho. — ouço a voz do Chapeleiro ecoar no silêncio.

Pronto! Agora enlouqueceu de vez. Está até falando sozinho.

Arrasto os pés devagarinho e tento enxergar o interior, mas rapidamente paraliso e volto ao meu posto ao me deparar com Aguni sentado em um estofado, completamente tranquilo, no mesmo ambiente que o Chapeleiro.

— Eu cheguei ao meu limite. — O militar revelou, parecendo cansado. — Está mais difícil controlar o Yuki, o Niragi e os milicianos. — continuou num tom sério, fazendo meus olhos se arregalar. — Vamos acabar com a praia. — pediu, como se estivesse suplicando.

No momento em que ele disse isso minha ficha caiu. Eu estava estupefata, completamente chocada. Ele não parecia angustiado e preocupado a todo momento só por causa da milícia. Ele não ficou irritado durante a reunião de hoje cedo por causa das intromissões e teorias. Ele estava daquele jeito por causa dele. Por causa do Chapeleiro. Aguni e Chapeleiro não eram líderes inimigos, eles eram amigos!

Agora tudo fazia sentido.

Puta merda! Eu estou, literalmente, na toca do lobo. Preciso cair fora daqui.

— Acabar? — Chapeleiro chamou minha atenção, com o questionamento. — Combinamos de deixar Yuki vivo para que Niragi pudesse se distrair com ele e conseguimos. Você tem total controle da milícia. — apontou, me fazendo voltar a ficar atenta a discussão. 

Fúria In Bordeland Where stories live. Discover now