Capítulo 29 - O Que Comecei

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- Por que mudou de ideia? - questionei, sentindo o vento bagunçar alguns fios da minha peruca.

- Porque você tinha razão. - apertei os olhos, o fitando. - Eu estava tão cego pela dor da perda, que esqueci que você tentou nos ajudar, principalmente o Chota. - disse e eu permaneci quieta, pensativa. - Eu só queria culpar outra pessoa além de mim mesmo. - disse com tristeza, me fazendo sentir empatia por ele.

A dor da perda realmente nos fazia fazer coisas que jamais faríamos se estivéssemos bem. Principalmente quando tal dor não era engavetada.

- Você me perdoa? - indagou me olhando, esperançoso.

Concordei com a cabeça.

- Jura? - questionou levemente surpreso. - Então não vai me dissecar com lâminas ou me usar no tiro ao alvo?

- O quê? - o olhei espantada.

- Eu ouvi coisas sobre a Akira. - se defendeu.

- Por que eu faria algo do tipo? - questionei, ofendida. - Que horrível.

- Desculpa. É que eu ouvi um monte de coisas sobre você. - disse rápido, me fazendo negar com a cabeça e olhar para as pessoas abaixo de nós.

- Não acredite em tudo que escuta, Arisu. - mandei.

- Desculpa novamente. - pediu, envergonhado.

- Pare de se desculpar. - mandei, ficando irritada.

- Tudo bem. - disse ficando em silêncio por alguns minutos.

- Mas se me ameaçar novamente eu vou arrancar a sua língua. - disse com naturalidade, o fitando séria.

O rapaz abriu a boca e arregalou os olhos, tentando formar uma frase, mas nada saiu e automaticamente eu fiquei com pena dele.

- Eu estou brincando. - disse, dando um meio sorriso, vendo a cor de seu rosto voltar. - Meu Deus, como você é medroso. - apontei, fazendo ele baixar a cabeça e sorrir. Um sorriso singelo.

- Você quase me matou. - pousou uma mão no peito e suspirou, sorrindo e olhando ao redor. - A propósito, o Chota me falou sobre sua amiga. - começou, depois de um tempo calado.

- Eu não quero falar sobre ela. - o cortei, séria, evitando o assunto.

- Tudo bem. - disse rápido.- Não vamos brigar. - me encarou e levou as mãos para o alto, em sinal de paz. - Mas se precisar conversar, eu posso ser um bom ouvinte. - comentou me fazendo encara-lo.

Foi então que percebi. No momento em que o cortei de forma rápida e no momento que pensei a respeito de sua dor.

Eu nunca tinha sentido a minha dor da perda.

Eu havia chorado sim. Mas em momento algum eu tinha dito como me sentia. Eu nunca tinha sido de fato ouvida sobre como me sentia com a partida dela. Sempre que Kuina tentava arrancar algo de mim, eu a cortava e evitava falar sobre o assunto. Eu nem se quer conseguia falar das coisas que eu amava nela sem me sentir totalmente infeliz.

Era um bloqueio. Eu cortava tudo e tentava ao máximo esconder que eu estava quebrada pela perda. E eu passei tanto tempo tentando esconder essa dor, colocando esse plano em primeiro lugar, que por um tempo, eu consegui encobrir tudo. Mas como a verdade é algo que não se pode esconder por muito tempo, ela me foi revelada. Naquele momento, com aquela observação e com aquele pequeno diálogo, eu percebi que precisava olhar e sentir a minha dor.

- Vou avisar sua namorada que estamos aqui. - mencionou depois de um tempo, retirando um rádio da bermuda. Não um rádio qualquer, o mesmo que usamos no plano para pegar as cartas.

Fúria In Bordeland حيث تعيش القصص. اكتشف الآن