Capítulo 14

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12:40

— Acabei de ver os Imbecis que nos atacou. — disse afobada, voltando a me juntar a Kuina. Estávamos na cantina, havíamos acabado de almoçar, e eu decidi pegar um chá gelado. O dia havia passado num piscar de olhos e o que eu mais tinha feito no decorrer dele foi comer. —  Yuki não estava entre eles, e eles pareciam bem tranquilos. — disse bebericando o meu chá de camomila, hortelã e abacaxi. Camomila para acalmar, hortelã e abacaxi para refrescar. Eu adorava misturar os sabores. 

— Fachada. — Kuina respondeu bebendo seu suco de morango com hortelã. — bastão de choque dez vezes. — disse olhando ao redor. — Todos eles, com exceção do Yuki, foram ver a Ann depois.

— E é essa exceção que me incomoda. — admiti. Após a punição, Yuki se trancou na sala de treinamento, Aguni foi falar com ele e pediu para que ele fosse ver a Ann, mas ele se negou. — Queria que ele tivesse terrivelmente machucado. — disse terminando meu chá. Não me levem a mal, não sou uma torturadora cruel, nunca fui a favor da tortura, mas meu ódio por Yuki é tanto que afetou as minhas crenças, ideais e meus pensamentos mais lúcidos.

— Você nunca pensou em seguir em frente? — perguntou me encarando, enquanto sacudia o canudo.

— Seguir em frente? — apertei os olhos, estranhando a pergunta. Seguir em frente? A única coisa que me fazia viver era isso. Minha vingança. A espera pela morte de Yuki e se possível, o cadáver do Chapeleiro. Como que se vive quando o amor da sua vida é brutalmente arrancada de você e os culpados ainda estão por aí? Como seguir em frente quando você não foi capaz de salva-la? Como seguir em frente quando você nunca vai sair de um inferno como esse? Como seguir em frente quando ainda dói tanto? — Acho que não sei como fazer isso. — Admiti. 

— Acho que você sabe sim. — retrucou. — Não existe aquele negócio dos estágios do luto? — me encarou esperando uma confirmação. 

— Sim. — disse revirando os olhos. Negação. Raiva. Barganha. Depressão. Aceitação. Luto é algo muito vasto. Questões como o tempo de cura e o jeito que lidamos, é diferente para cada pessoa. Talvez eu estivesse pressa em um desses estágios, mas não sei se conseguiria passar por eles e mesmo que conseguisse, o que iria me restar depois? — É bem mais complicado na prática. —  bufei, olhando para minhas próprias mãos, evitando olhar para ela.

— Aposto que ficar batendo na mesma tecla e ficar revivendo tudo é mais. — falou convicta, me fazendo levantar os olhos.

— Vamos mudar de assunto. — mandei, não perguntei. — Viu o platinado hoje? 

— Isso é uma fuga. — apontou, não perguntou.

— Seria, se estivéssemos em terapia. — disse começando a ficar irritada. — Não quero falar sobre isso. — disse séria.

— Você quem sabe. — levantou as mãos em redenção. — E não, eu não vi o Chishiya hoje. — continuou metendo as mãos nos bolsos da calça jeans, retirando seu cigarro e o levando a boca. Eu iria perguntar sobre a mudança de plano, entretanto fiquei curiosa.

— Por que você só o coloca na boca? — questionei intrigada.

— Minha mãe. — ela fez uma pausa tirando o cigarro da boca. — Ela está no hospital. Assim que eu descobri, parei de fumar, mas também fui mandada para cá. — disse levemente irritada. — Eu mantenho ele por perto para me lembrar do porquê eu parei e do porquê eu devo continuar.

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