Capítulo 13

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Minhas roupas estavam cobertas de sangue, meu ombro latejava e a terra estava por todos os lugares, desde meu ferimento até meu rosto. Eu estava em uma enorme cova, havia corpos por todo lado, estava ferida, havia perdido muito sangue, mas ainda estava respirando. Yuna estava a alguns metros de mim e eu estava completamente preocupada com ela. O Chapeleiro a acertou em cheio, diferente de mim, a bala atravessou. 

— Acho que a irmãzinha do Yuki ainda está respirando. — fechei os olhos ao ouvir uma voz desconhecida.

— E? — uma segunda voz questionou. — Seu doente. — continuou soltando uma risada nasal.

— O quê? Ela era uma delícia. — disse fazendo uma ânsia subir pela minha garganta, pelo modo que ele falava dela. — É. — completou. — Eu vi o peito dela subir e descer, ela ainda está viva. — Houve um silêncio, então passos se afastaram.

— Divirta-se. — O segundo disse. — Mas seja rápido, vou esperar no carro. — então o som da porta de um carro abrindo e fechando.

— Eu não me importo em dividir, amigo. — a primeira voz voltou a soar, rindo diabólicamente. Filho da puta. Maldito, filho da puta. 

Abri os olhos e encarei o céu acima de mim, logo, em seguida, movi a cabeça e tive a infeliz visão daquele verme encima de Yuna. Eu estava com tanta raiva, completamente possessa, que forcei meu corpo a sentar. Não me concentrei na dor, só na raiva. Silenciosamente, sem tirar os olhos do verme um, puxei meu joelho direito até o queixo e com a mão direita, comecei a desfazer o laço do cadarço do meu tênis, sujo de vermelho.

— Quietinha, eu não vou te machucar, querida. — ouvir ele direcionar a voz a ela, dizendo palavras terrivelmente covardes, cruéis e falsas, me fez tremer de raiva. — Vamos nos divertir um pouco.

Quando consegui retirar o cadarço, o levei a boca e segurei com os dentes, para que com o auxílio da mão direita, eu buscasse apoio no chão e então impulso para ficar de pé. Olhei para trás, de dentro daquela cova e observei pelo vidro da caminhonete, o segundo homem concentrado em algo em suas mãos. A caminhonete estava terrivelmente suja e o vermelho que se fazia presente na mesma agora, não era só tinta. O odor forte e o liquido brilhoso espalhado, entregava a traição, a carnificina e o ato covarde daquela noite. Para completar o cenário, o lugar era deserto, não havia árvores ou casas, apenas uma estrada de terra, que creio eu, levaria até a estrada principal. Fora isso, era simplesmente deserto.

Me virei para frente e engoli em seco. Comecei a me aproximar, devagar, tropeçando nos corpos sem vida dos meus amigos e cúmplices, sentindo meu corpo ser tomado por uma fúria avassaladora.

— Sabia que mudaria de ideia. — O homem sibilou quando eu parei bem atrás dele. — O que quer fazer primeiro? — perguntou e eu, sem aguentar, deixei a raiva se apoderar do meu corpo, como quando a gente relaxa e deixa o sono te levar.

— Isso. — grunhi como um animal, um animal selvagem e furioso. Antes que o homem pudesse se virar, eu ignorei toda a dor do meu ferimento, agarrei o cadarço, um em cada mão e o levei para o pescoço dele, como quando colocamos um colar no pescoço de alguém. Mas ao invés de trancar a fechadura, eu a puxei e apertei, o mais forte que consegui no pescoço do homem. Ele imediatamente levou as mãos ao pescoço, tentou, tentou e tentou desesperadamente salvar a sua vida miserável. Entretanto, seu esforço foi desperdiçado, pois eu só parei quando ouvi o som do seu pescoço sendo quebrado.

— Kira. — ouvi a voz de Yuna soar com dificuldade, ao me ver. Ela respirava com dificuldade, a blusa branca com bordados nas mangas, estava encharcada de sangue. Os cabelos estavam espalhados na terra e a franja grudava na camada fina de suor que cobria sua testa. Seus olhos ainda tinham aquele brilho, igualzinho quando nos conhecemos. Eu jamais poderia viver sem ela, então foi ali que eu prometi, que não a deixaria morrer. Minha amiga, minha companheira, minha cúmplice, o amor da minha vida. Ela estava prestes a morrer naquela cova e eu estava tão inconformada, que ignorei as probabilidades.

Fúria In Bordeland Where stories live. Discover now