Capítulo 20 - Madrugada Turbulenta

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04:45

— Por que nos trouxe para uma praia? — perguntou com dificuldade, quando eu estacionei na areia fofa.

— Porque acabamos de fugir de uma. Eles não vão nos procurar em uma praia. — falei preocupada com seu ferimento. Ela precisava de cirúrgica para remover a bala e parar a hemorragia. — Tem um hospital aqui perto, eu vou só te deixar em um local seguro e então...

— Não. — falou, agarrando meu braço quando eu fiz menção de sair do automóvel. — Sabe bem que até lá, eu vou acabar sangrando até morrer. 

— Isso não vai acontecer. — me aproximei dela, tocando seu rosto pálido, pela perca de sangue. — Eu posso ajudar! Posso salvar você! — segurei sua mão, enquanto guiava a outra para seu ferimento. — Aqui, mantenha pressão aqui! — disse angustiada. O medo de perdê-la era gritante.

— Quer me ajudar? — observei o sangue escorrer por seus lábios. — Fique comigo, eu não quero ficar sozinha enquanto morro. — aquilo fez meu coração doer e eu rapidamente neguei com a cabeça.

— Você tem que parar de falar. — fiz uma pausa, procurando as palavras certas, mas ela tinha razão. Ela estava morrendo. — Só está causando mais dor. — tentei argumentar com a menor, sentindo meus olhos queimar.

— Eu fui uma péssima amiga! — continuou. —Eu devia saber que ele faria isso, eu devia ter ficado do seu lado quando você me alertou...

— Tudo bem, tudo bem, não foi culpa sua. — Me aconcheguei no banco e a puxei contra mim, de maneira que sua cabeça ficasse encostada em meu peito. 

— Ele já fez isso antes. — a olhei fixamente e coloquei minha mão por cima da sua, quando percebi a mesma escorregar. — Eu devia ter feito algo, ou dito algo. — disse com certo desespero. — Eu sinto muito! — vi seus olhos marejados. Eu sabia que ela não aguentaria.

— Tudo bem. — a garota começou a tossir. — Você não é responsável por isso. — as lagrimas saíram sem meu consentimento. — Não é responsável por nada disso, Yuna.

— Obrigada. Por estar sempre ao meu lado, pelos sermões, por fazer o possível e o impossível por mim, por ser você! — senti meu peito afundar. Eu não acreditava no que estava acontecendo. — Eu sou extremamente grata pela sua existência e não mudaria absolutamente nada.

— Você tem que viver! — disse como se dependesse dela.

— Você tem que viver! — retrucou.

— Eu não consigo. Não consigo sem você. — disse chorando.

— Consegue sim, você deve. — disse de forma autoritária. Ela ficava tão linda séria. Se ela não estivesse prestes a morrer nos meus braços, eu estaria rindo. — Pelos amigos que perdemos, por mim e principalmente, por você. — continuava com dificuldade. — Você trilhou uma trajetória e tanto, Botan Kira. Tem um mundo inteiro para você lá fora. 

— Eu preciso da minha amiga, da minha parceira. — disse enquanto as lagrimas caíam.

— Eu sempre estarei ao seu lado. Você não precisa de mim, mas eu sempre estarei com você. — funguei, enquanto mais lágrimas caiam.  Eu não queria deixá-la ir, então eu apenas fiquei em silêncio. — Não perca quem você é, Kira! Uma vez que soubemos quem somos, jamais estaremos perdidos. — disse séria. — Eu te amo. 

E aquelas malditas palavras foi o suficiente para me fazer desabar.

— Eu te amo. — tomei seu corpo em um abraço apertado. — Eu te amo. — continuei repetindo.

Minha amiga então começou a tossir. E a medida que ela foi sufocando, com o próprio sangue, eu também comecei a sentir dificuldades para respirar. De repente, tudo ficou escuro. Eu fui engolida pela escuridão. Yuna não estava mais em meus braços, eu não via nada e nem ninguém, mas eu não estava totalmente sozinha. Havia mãos, várias mãos na verdade. Eu não conseguia tocar o chão, estava sendo carregada, de forma brusca. 

Fúria In Bordeland Where stories live. Discover now