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Sou formada em Letras pela UFRJ

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Sou formada em Letras pela UFRJ. Isso fazia de mim uma professora de Português. Quando decidi cursar Letras, não foi porque meu sonho era ensinar gramática para adolescentes do sexto ano do Ensino Fundamental, foi porque sonhava em ser escritora.

E aqui estou eu, dentro da Gertrudes, vestindo um terninho que comprei numa feirinha aqui do Rio, indo em direção a uma faculdade particular na Barra, para lecionar uma aula de Teoria da Literatura pra quem estava no primeiro semestre do curso. Pelo menos era sobre Literatura, que era o que eu realmente amava.

Me estiquei no banco do motorista para pegar o sanduíche que minha mãe tinha me feito mais cedo. Engraçado, não tinha quase nenhum carro na avenida... Era uma quarta-feira às oito horas da manhã, imaginei que iria encontrar um trânsito daqueles. Dei uma mordida no sanduíche, mas não deu tempo de saborear: Gertrudes ameaçou parar.

-Ah não, não, não!!! - Apertei o acelerador com tudo, tentando manter a coitadinha funcionando, mas continuava fazendo um barulho estranho, prestes a pifar.

Mais a frente, um único carro parou no sinal vermelho e eu, que estava tentando manter a Gertrudes funcionando, entrei em desespero. Ter que desligar agora era pedir pro carro morrer de vez, mas não tinha o que fazer, o sinal tinha fechado. Fui com tudo pro freio, mas... Ele fica do ladinho do acelerador... né? hehehe.

Pisei no acelerador e a frente da Gertrudes foi parar na bunda do carro da frente. Soltei um grito, pisei com tudo no freio e a Gertrudes morreu.

Pra completar eu meti minha boca no volante e estava sentindo gosto de sangue. Me desesperei, nunca tinha batido a Gertrudes em outro carro, a bichinha estava estragada, mas era da época que eu estava aprendendo a tirar da garagem, a estacionar perto do poste que tinha na frente de casa...

Contive a vontade de chorar quando vi o dono descer de seu carro mais a frente. Abaixei a cabeça e esperei ele bater na minha janela. Foi exatamente o que aconteceu. Eu levantei devagar o meu olhar, tentando respirar regularmente, porém foi tudo por água abaixo quando olhei pro dito cujo.

Era ninguém mais ninguém menos que Gabriel Barbosa.

Meu Deus, meu Deus, meu Deus... Alice, RESPIRA!

Abaixei o vidro da Gertrudes manualmente, observando o semblante do Gabigol me encarando de maneira surpresa. Não consegui abrir nem um sorriso pra ele, porque só queria chorar. O carro dele era um Porsche e eu era uma pobre lascada. Ia ficar sem carro e sem salário por um bom tempo pra poder pagar o conserto com certeza milionário de um Porsche.

-Então essa é a Gertrudes - Gabigol falou com um sorriso.

Eu quis chorar. Fiz um malabarismo pra pegar o salto embaixo do banco do carona, abri a porta e calcei os sapatos.

-Me desculpa, essa porcaria desse carro estava parando de funcionar, eu fui apertar o freio e apertei o acelerador e... - Comecei a me desesperar.

-Ei, ei, ei - Ele tocou meu braço - Calma, tem sangue na sua boca. Você se machucou? - Me encarou, eu meti a mão na boca.

𝐅𝐀𝐍𝐅𝐈𝐐𝐔𝐄𝐈𝐑𝐀 • 𝐆𝐀𝐁𝐈𝐆𝐎𝐋Onde histórias criam vida. Descubra agora