Alice Bueno escreve fanfics. Pois é, aos 23 anos e formada em Letras, ela sonha como qualquer outra garota, a diferença é que bota tudo pra fora em forma de histórias fantasiosas. Mas o que acontece quando sua maior inspiração está parada em sua fre...
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Puxei o celular do bolso. Era a décima vez que fazia isso, depois da ligação da Companhia das Letras, ficava encarando a tela de cinco em cinco minutos esperando o número ligar de novo e falar que tudo não tinha passado de um trote.
Mas todas as vezes era o nome da minha mãe que aparecia na tela.
Agora... Não era o nome dela piscando e sim o do meu pai.
Franzi o cenho. Ainda não tinha recebido nenhuma ligação dele desde que saí de casa.
Mordi o lábio, pensando se valia a pena ou não atender a ligação.
Atendi.
Levei o celular até o ouvido.
—Oi, pai — Falei, ninguém me respondeu — Pai?
—Eu achei que você não fosse me atender — Ele disse baixinho, como se fosse segredo — Sua mãe tem ligado o dia todo. Todos os dias.
—Eu sei — Murmurei — Ela não sabe que você tá falando comigo? — Perguntei.
—Não. Escuta, filha — Suspirou — Eu nem queria te ligar e nem é porque eu não quero que você volte pra casa, porque eu quero, é que... — Fez uma pausa — Eu quero respeitar seu tempo, entende?
—Então porque ligou? — Perguntei, sentindo meu coração apertar.
—Eu consegui arrumar a Gertrudes. Peguei o endereço do Gabigol na ficha dele aqui da mecânica e fui até lá, só que a mãe dele disse que você não tá ficando lá e... — Outra pausa — Fiquei preocupado.
Pelo canto do olho observei o Gabriel abrir a porta do próprio quarto.
Que horas meu pai veio na casa do Gabriel? Passei o dia todo aqui, todos os dias.
—Ahn... É... — Gaguejei, Gabriel olhou pra mim, começando a tirar a roupa de treino — Estou ficando com uma amiga, não precisa se preocupar. Como conseguiu arrumar? O carro?
—Sabe o Jacques? Do ferro velho? — Perguntou, se empolgando. Ele sempre se empolgava quando falava de carros, um sorriso se espalhou pelo meu rosto sem eu nem perceber.
—Uhum — Murmurei, vendo o Gabriel entrar no banheiro sem vir falar comigo.
—Ele achou a peça num carro velho de lá, deu certinho — Meu pai contou — Não dá pra dizer que ficou novo, porque aquilo ali já pediu aposentadoria a muito tempo, mas... — Outra pausa, uma respiração funda — Mas é seu. Você vai querer pegá-lo? Eu posso levar até você se você não quiser vir aqui.
Foi a minha vez de fazer uma pausa. Analisar a situação.
Ele estava sendo fofo, mas ainda estava magoada com ele, por ele não ter falado nada naquela "reunião" ridícula.
—Alice? — Perguntou.
—Oi?
—Eu entendo que você está chateada, mas... — Começou.