Capítulo 103

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Meses antes

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Meses antes...

- Ahh!
Daryl me segurou pelo braço, olhando com a preocupação no rosto. Sorri fraco.
- Tou bem.
- Você nem deveria ter vindo, para começar. - Falou ele, olhando em volta, tentando achar una solução.
- Eu vi dois caras das peles rondando, eu não iria ficar parada, no topo do muro, olhando só por causa da minha barriga enorme! - Estiquei o dedo na frente do seu nariz. - E você sabe!
Ele mordeu o lábio e assentiu, olhando em volta. - É, eu sei. Sei muito bem. E sei também que algo em você não está bem! Isso que me preocupa!
Revirei os olhos, mas senti uma nova dor e, por momentos de iluminação da minha mente, eu soube o que estava acontecendo.
- Vamos, precisamos achar um sítio porque eu preciso sentare descansar.
- Pfff.
Segui um Daryl furioso pela floresta, de vez em quando me apoiando no tronco de uma árvore e fechando os olhos. Mas eu sempre dizia que estava bem, estava tudo bem, mesmo as dores vindo com intervalos mais regulares... e mais próximas umas das outras.
Graças aos céus, achamos uma casa na beira de uma estrada, ou um pequeno caminho, parecia uma daquelas casas de caça que os caipiras usam por alguns dias, no meio do nada.
Entrei, sem nem querer saber de mais nada e sentei no primeiro sofá que eu vi, suspirando.
- Fica aqui, vou dar uma olhada. - Falou Daryl.
Assenti e olhei em volta. O que eu iria fazer?
Do nada, uma dor mais forte tomou conta de mim e um pequeno grito saiu pela minha boca, me fazendo fechar os olhos e apertar a beira do sofá.
- Eva!
Abri e vi Daryl abaixado na minha frente. Respirei fundo.
- Vai ali, naquele armário. Traz uma faca ou algo que corte.
Daryl levou a mão no cinto e eu segurei a mão dele.
- Algo que não tenha espetado zumbis.
Ele levantou, de cenho franzido, e foi procurar, enquanto uma outra dor tomava conta de mim.
Quando regressou, peguei a faca e sorri.
- Procura algo tipo um lençol ou uma toalha, mais que uma na verdade. Acho que vi um quarto ali atrás?
Ele assentiu e sumiu de novo. Respirei fundo. Eu sabia o que estava fazendo, eu sabia, não era a primeira vez. Antes de o mundo acabar, uma mulher tinha dado á luz na minha ambulância, a caminho do hospital, eu fizera o parto, então eu sabia o que estava fazendo. Só não tinha os mesmos recursos.
Daryl voltou e abaixou na minha frente.
- Preciso de água. - Falei, escondendo uma nova dor.
- Eva, precisamos sair daqui!
Neguei com a cabeça. - Não posso, não dá tempo.
- Como não dá tem....
Afastei os joelhos e vi o choque no rosto dele. Tinha uma poça de água em baixo de mim, agora que eu tinha deslizado  até sentar no chão.
- Aqui?!
Sorri. - Não tem outro jeito. Agora vai lá fora, procura água.
- Não! Eu tenho de ajudar você.
Encarei ele, não deixando que aquele olhar azul desviasse do meu.
- Daryl Dixon, vai procurar água porque eu vou precisar quando o bebê nascer! E não me diga que eu não sei o que estou fazendo porque eu sei muito bem, ao contrário de você! E eu não preciso da sua atrapalhação! Agora vai! - Suspirei. - Por favor.
Ele ficou me olhando mas assentiu e eu me senti mal por falar assim, mas era o único jeito de ele se mexer, por mais  que eu entendesse sua preocupação. Mas ele era um homem, que nunca tinha feito nada igual, e eu já, e sabia que conseguia sozinhha, só tinha de  seguir as regras do meu corpo.
Daryl saiu e eu despi a calça, sentindo uma força na minha barriga se movendo para baixo.
Coloquei a mão entre as minhas pernas, me certificando de que estava dilatando e rezando para o bebê passar. Por sorte vi que estava tudo bem, bem até demais, já que estava completa, o que significava que estava na hora de fazer força.
- Vamos lá, Eva, você consegue. - Disse eu, sozinha, segurando na beira do sofá e esperando. - Quando começar, não pode desistir. Não pode. Vamos lá. Já passou por coisas piores.
Depois de um tempo, a dor era agonizante! Nada do que eu fizesse ajudava a aliviar e os gritos que saíam da minha boca eram assustadores. Eu só queria que acabasse porque parecia que um caminhão estava passando por cima de mim, lentamente, quebrando todos os meus ossos bem devagarinho.
- Pior merda nenhuma! - Gritei fazendo força. - Isso é a pior coisa de sempre! - A dor aliviou um segundo e eu respirei fundo. - Qual zumbi, ou perder amigos e afins? Perder alguém parece brincadeira de criança!
Novo grito, nova força e novo alívio de segundos.
- Porque eu fui deixar isso acontecer? Você que deveria parir, Daryl Dixon!
Senti algo escorregando e, com uma última força, senti ele saindo de dentro de mim, trazendo todo aquele sangue com ele. Segurei, não deixando cair no chão e o alívio que eu senti foi a coisa mais fantástica em séculos. Parecia que eu chegara no céu.
Ergui os braços e olhei para baixo, para o bebê que se mexia, mas ele não chorava. Mexi no seu peito e dei uns tapinhas, bem devagarinho. Virei ele, segurando com a mão na sua barriga, e dei um tapinha nas suas costas, e ele começou a chorar feito louco.
Sorri e coloquei ele de volta na posição inicial.
- Oi bebê. - Percebi que era uma menina e ri sozinha. - Deixa seu pai descobrir.
Peguei a faca, colocando o bebê nas minhas pernas e cortei o fio. Rasguei um pedaço de tecido e atei, apertando, em volta do pedacinho que ainda ficou preso na sua barriguinha. Embrulhei o bebê numa toalha limpa e segurei em um dos braços.
Coloquei a outra mão para baixo, eu tinha de fazer força de novo e retirar a placenta, mas já não sentia dor alguma.

Quando Daryl chegou, ficou paradona frente da porta, me olhando como se eu tivesse três cabeças, completamente imóvel.
- Preciso dessa água, Daryl. - Falei.
Ele saiu do transe e fechou a porta, se aproximando e abaixando junto de mim.
- Você conseguiu. - Ele falou.
Eu ri. - Claro que sim. - Depois ajeitei a menina e entreguei para ele. - Quer pegar antes de eu limpar ela?
- Ela? - Falou.
Daryl pegou na menina e um sorriso se desenhou nos seus lábios. Fiquei vendo aqueles dois, as duas pessoas que eu mais amava nesse mundo. As duas pessoas que eu iria proteger sem pensar duas vezes, porque agora, aquele tipo de amor incondicional, que nos faz fazer besteira e esquecer tudo e todos, era dividido por aqueles dois.
Daryl me olhou. - Como vamos chamá-la?
Sorri e ele sentou do meu lado, já que eu tinha me afastado da poça de sangue. Espreitei por cima do braço dele e toquei na mão da menina.
- Callie.
Daryl me olhou. - Callie?
Assenti. - Minha mãe se chamava Callie, eu nunca conheci, pelo menos não lembro dela, só em fotos. - Indiquei os olhos dela. - Ela tem os seus olhos azuis... minha mãe também tinha.
Daryl assentiu. - E o seu cabelo negro.
Sorri e Daryl olhou a menina.
- Callie, então.
Eu ri. - A nova bravinha do grupo, Callie Dixon.

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