Sob a Luz da Lua

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Depois da caçada, ainda resolvi ficar mais um tempo na floresta, sentada no tronco de uma árvore que era parcialmente curvada ao chão, próxima a um riacho com correnteza significante, o que fazia com que eu pudesse ouvir o barulho das águas se chocando contra pequenas e grandes pedras. Eu havia flexionado minhas pernas de modo que minhas coxas encostavam-se a meus peitos. Eu abraçava minhas pernas, pelo leve frio que sentia quando a brisa gélida da noite me tocava.

Sabia exatamente onde os três Cullen estavam, próximos a mim, cautelosos, silenciosos e pensando estarem escondidos. Mas eu não me importava. Não naquele momento. Se eles se aproximassem, provavelmente iniciariam uma conversa. E eu desejava o silêncio deles, apenas me concentrando nos sons da floresta noturna.

Porém, as únicas coisas da qual eu não poderia fugir, foram de meus pensamentos fortes o suficiente para não serem impedidos, fracos o suficiente, pela minha recente caçada, para serem bloqueados do telepata próximo. Por pouco eu não havia matado mais duas pessoas, mas sentia como se tivesse feito. Sentia a culpa futura do meu erro. Carlisle havia me falado seus pensamentos em relação à caça a humanos. “Não temos o direito de tirar uma vida. Além de ser uma vida irrecuperável, afetaria pessoas próximas. Temos que nos colocar no lugar de pessoas próximas as nossas futuras vítimas e assim teremos ideia da importância que elas fazem” e eu mais do que ninguém sabia daquilo. Então minha mente viajou para um passado sombrio, marcado sentimentalmente pela felicidade absoluta, vazio, dor, agonia, desespero, tentativas de suicídio, solidão, vazio, amizade, paz circunstancial, dor, solidão, vazio, irmandade, doença, esquecimento, solidão e aceitação. Aceitação de que eu era uma bomba de problemas para quem ficasse próximo a mim. Antes mesmo de me juntar aos Cullen, já tinha o conhecimento de que não seria por muito tempo, apenas o suficiente para me adaptar a alimentação deles. O desafio que antes seria Edward, tinha se desfeito. Não existiam mais fragmentos de memórias nele que me permitissem uma afeição pelo mesmo e ainda se existissem, aquele não era mais o Edward que eu havia conhecido. O que ele viu em minha mente poderia ser facilmente apagado.

Fui tirada subitamente de meus pensamentos quando ouvi um estalar de galho quebrando, a quilômetros a minha frente, a qual a visão natural, sob a luz da Lua, era de um pequeno buraco escuro entre árvores e arbustos. Em milissegundos levei meus pensamentos ao mais longe possível naquela direção, assim ampliando minha visão sobre o que poderia estar me observando de longe. Então minha mente projetou a imagem de dois olhos brilhantes.

-Desculpa se te assustei. –disse Edward em pé, ao lado do tronco da árvore em que eu estava sentada, me fazendo olhar subitamente para ele, por um breve susto. –Você pode chorar.

Fiquei ainda mais alerta quando percebi que meus pensamentos foram fortes o suficiente para deixar que lágrimas caíssem de meus olhos. Mas ignorei o fato, mesmo contra as circunstâncias. Ignorei também os pensamentos de Edward. O fácil se tornaria mais fácil ainda se eu deixasse de saber tudo o que os Cullen pensavam.

Levei meu olhar a minha frente novamente, fiz o mesmo que tinha feita há segundos atrás, mas os olhos brilhantes haviam sumido. Logo notei mais ausências.

-Os outros desistiram de me vigiar?

Edward sorriu com o meu comentário. “Até seu sorriso mudou”.

-Depois de Carlisle, eu sou a babá mais experiente.

Sorri porque o comentário pedia que eu sorrisse. Contudo, logo voltei a minha seriedade, desci do tronco e comecei a caminhar como um humano normal faria, na direção da casa dos Cullen. Logicamente o telepata me acompanhou e ficamos em silêncio por alguns minutos. Mas Edward estava inquieto. Seus pensamentos gritavam para serem lidos e eu os negava facilmente.

-Eu sei que você me conhece. –disse o vampiro ao meu lado, quebrando o silêncio.

“Sem mais rodeios.” Ele seria direto.

Where I Go?Where stories live. Discover now