A Gota D'Água

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Depois e inúmeras tentativas de me persuadir a ficar, Aro finalmente se despediu em nome de todos os Volturi, com todas as formalidades possíveis. Respondi de igual maneira e então segui para o meu quarto.

Arrumando minha mochila, as lembranças da casa dos Cullen vieram a minha mente, acompanhadas de sorrisos. Eu ainda devia a história de como havia conhecido Ludwig van Beethoven, para Nessie. Devia um agradecimento a Jasper, pelas duas vezes em que apenas seus conselhos me salvaram e salvaram a vida de dois campistas, de mim. Devia um verdadeiro e forte abraço em Esme, Carlisle e Billy. Sim. Billy Black. Eu também podia o considerar como uma figura paterna. E, acima de tudo, eu devia desculpas, pessoalmente, a cada membro dos dois clãs que havia deixado para trás apenas com uma carta.

No momento em que me lembrei do sótão na casa de Carlisle, a imagem de Ethan veio em flashes, inicialmente com a primeira vez que o vi como um estranho, mexendo em minhas lembranças sólidas. Logo se seguiu outras memórias dele, mas então foquei meus pensamentos nos objetos antigos do quarto: no gramofone, no divã, nos diversos discos, entre outros. E a melancolia que a imagem de Ethan trouxe, foi se extinguindo.

Eu tinha pleno conhecimento de que uma das peças principais para minha recuperação, senão a principal, era aquele vampiro, cujo qual eu deixaria para trás. Seria eternamente grata por tudo o que ele fizera. Mas eu aprenderia a conviver com a dúvida e a falta dele. De algum jeito, sabia que a saudade não me deteria mais. Como Marcus havia dito, “-Isto não causa mais efeito em nós”.

-Não me disse que ia embora.

Olhei rapidamente para o outro lado da cama e percebi, com desgosto, que Demetri estava parado à frente dela.

-Para sua alegria. –comentei, constatando o meu erro de ter deixado a porta do quarto aberta.

-Isso não é por causa do tigrezinho, né? –o nojo que tinha da voz daquele Volturi, era evidente. Não sentiria nem um resquício de falta dele.

-Mesmo se fosse, não seria da sua conta. Por favor, saia.

-Eu não te odeio mortalmente. Devo admitir que tenho uma queda pela sua teimosia. Que pena que já vai ir. –Demetri contornava a cama à passos lentos. Eu o mataria se se aproximasse ainda mais de mim. Não era possível ele continuar a achar que teria a mínima chance de conseguir algo comigo. –Nós nem brincamos de mamãe e papai... ainda. –e esta foi a gota d´água.

Antes que eu pudesse segurar Demetri e torná-lo em pedaços, em um segundo o vi prensado na parede já rachada devido ao impacto, com a mão de Ethan segurando fortemente o seu pescoço, o erguendo para que o mesmo flutuasse.

“Por que ele está aqui?”

-Nunca mais pense em encostar nela! –tanto a voz rouca quanto a expressão de ódio em Ethan, naquele momento, me alarmaram do que poderia acontecer e do que eu tinha que fazer.

-Não! –fiquei rapidamente ao lado de Ethan, tentando o convencer a soltar Demetri, mas ele estava usando uma força extraordinária para se manter estrangulando o outro vampiro. –Por favor!

Ao ouvir estalidos, olhei para o pescoço do Volturi e um temor veio a mim, quando vi surgirem rachaduras nele. Se terminasse daquela forma, Ethan seria morto. Novamente o medo que se apoderou de mim quando Jane o torturava com seu olhar, veio assim que imaginei Ethan sendo queimado.

Não tive escolha. Ele não iria soltar Demetri até vê-lo decapitado. Então me coloquei entre os dois vampiros, olhei para o  imortal de olhos azuis, que não tirava os seus furiosos de Demetri, e, com pesar, me eclodi em um enorme lobo de pelagem preta, assim com minhas patas empurrando os ombros de Ethan, o fazendo cair para trás.

Quando olhei para Demetri, ainda prensando Ethan ao chão, vociferei minha voz na mente do Volturi, o ordenando para que saísse e assim ele fez, completamente assustado. Eu segui este último com minha visão até o mesmo desaparecer, e ainda levou mais alguns segundos para finalmente tornar meu olhar ao vampiro que eu segurava ao chão. Seus belos olhos azuis acinzentados estavam amedrontados e aquilo doeu em mim. “-Vá embora” pronunciei na mente de Ethan, aproveitando que este último não a estava a bloqueando, no momento. Isso doeu mais. Mordi uma ponta da colcha que ficava sobre a cama e a joguei de forma que caísse sobre meu lombo. Segurei a alça da minha mochila com meus enormes dentes, saí de cima de Ethan e fui em direção ao banheiro daquele quarto, já me destransformando, com a colcha me cobrindo.

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