Insano e Ingênuo

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O Sol estava se pondo novamente

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O Sol estava se pondo novamente. Eu estava sentada no telhado da casa dos Cullen, acima do meu canto, olhando para os tons da natureza que se alteravam vagarosamente. A brisa do crepúsculo tocava minha pele rígida.

Porém, diferente das outras vezes em que eu estivera ali, eu tinha consciência do que acontecia a minha volta, mas meus pensamentos vagavam em outras direções. Estava arquitetando planos básicos para minha nova viajem, devido aos acontecimentos da noite anterior.

Edward havia tentado convencer os lobos de que aquela enorme loba de olhos vermelhos se tratava de ser eu, mas a única prova que eles exigiram era que eu me destransformasse. Esme pensou rapidamente e buscou em sua casa um grande manto. Logo em seguida, a mesma me cobriu gentilmente e, enquanto eu me destransformava, ela me ajudava a fazer com que o manto cobrisse meu corpo, com exceção da minha cabeça. A capacidade de amabilidade de Esme era louvável. Quando me pus em pé, ela me abraçou, ficando ao meu lado, e me acompanhou para mais próxima dos Cullen. Depois dos outros lobos estarem convencidos, eu sabia que eles não desistiriam de uma explicação. Mas a mesma deveria ser dita em outro momento.

Assim que eu cheguei, junto aos Cullen, a casa dos mesmos, Esme e Alice acompanharam-me até meu canto. Iriam ficar, mas eu miseravelmente pedi por um pouco de solidão, alegando que estava bem. Desde então, os Cullen não tentaram falar comigo novamente e eu já esperava por aquilo. Afinal, fui eu quem escondera a verdade deles.

Naquele momento, ainda contemplando meus planos que deveria por em prática em pouco tempo, fui interrompida pelos pingos de chuva que comecei sentir. Viria uma tempestade.

“Típica do momento”.

Entrei na casa e pus-me a arrumar minha mochila novamente, colocando todos os meus pertences nela. Quando abri a gaveta e a puxei, revelando o que eu havia trancado lá, sustentei-me observando minhas lembranças sólidas do meu passado.

“But you never go away.” (Mas você nunca vai embora.)

-Olá.

Olhei de imediato para a porta do sótão e ali se encontrava Carlisle, com seu eterno semblante pacífico.

-Oi.

-Poderia me acompanhar até a sala de estar? Queremos conversar com você.
Eu já previa aquilo.

-Claro.

Logo chegamos ao nosso destino. Todos os outros Cullen estavam ali presentes. Jacob também se encontrava no ambiente. Certamente ele passaria as informações que conseguiria, a sua tribo.

Eu era o objeto estranho naquele contexto. Um ponto de interrogação reluzente que havia se aproveitado da generosidade dos Cullen e, por consequência, dos Quileutes também. Esperava um pedido de explicação, seguido de uma ordem para deixa-los. Acreditei que a benevolência daquelas pessoas não era o suficiente para extinguir o perigo que eu era. Eu havia os tirado a paz que conseguiram com um grande custo. Os Volturi mantinham certa rivalidade com aquela família e se eu permanecesse com os mesmos, seria o estopim para uma nova guerra, desta vez real e mais catastrófica.

Aro não sabia da minha principal habilidade que guiava todas as outras, mas tinha conhecimento de que eu era uma híbrida. E entendia que se mais pessoas fossem como eu, a soberania estaria fortemente ameaçada. Ainda que meu caso fosse isolado, se minha existência híbrida viesse à tona, geraria possibilidades de outros vampiros irracionais tentarem transformar lobos transfigurados, o que proporcionaria uma possível guerra entre estes últimos e os Volturi.

-Sabemos por que não disse a verdade. –a voz de Carlisle cortou minha linha de pensamentos.

Então olhei para Edward. Ele havia os contado. Queria julgá-lo, mas não estava em condições de fazer aquilo.

-Estávamos conversando até poucos minutos atrás, antes de eu ir chamar você em seu quarto. –acreditava que não seria mais meu por muito tempo –E queremos que fique conosco. Claro, se aceitar.

Eu não entendia. Edward deveria ter preservado algo deles, mas isso contrariaria a proteção a sua família e a, principalmente, Bella e Renesmee.

-Acho que vocês não tem conhecimento do perigo desta decisão. Deixem-me esclarecer...

-Sabemos que poderia ocasionar em uma guerra com os Volturi. –cortou-me Carlisle.

-Não seria novidade. –Rosalie acrescentou.

-Talvez pudesse até ser divertido. –Emmett sorria com o próprio comentário.

Não estava sendo possível de acreditar que eles falavam aquilo com tamanha ingenuidade.

-O fato é que não seria a primeira nem última vez que infligiríamos as regras daqueles que se consideram a soberania vampírica. –Edward disse, esboçando um sorriso, em conjunto com Bella e Renesmee.

Captava sinceridade no olhar de todos, assim como em suas mentes. O único que portava certo incômodo era Jacob, mas o mesmo estava se convencendo de que o aborrecimento era desnecessário.

Pensei por alguns segundos até chegar a uma conclusão.

-Eu não posso fazer com que corram perigo por minha causa.

-Vai nos fazer esquecer da sua existência? –Edward não precisava ler meus pensamentos para ter conhecimento da minha conclusão.

-Se for necessário. –afirmei.
-Mas não será. –contrariou-me o telepata.

-Então devo continuar a arrumar meus pertences imediatamente. Eu agradeço pela hospitalidade e apoio, mas...

-Você não é uma nômade. –cortou-me Jasper e olhei para ele, que até então estava em silêncio. –Eu reconheceria seus sentimentos, se fosse uma. Nômades desejam o mundo pelo que ele é, em todos os aspectos... Você apenas quer fugir. Não dos Volturi, mas de si mesma... Os sentimentos que você sentiu foram fortes e não te deixam se aproximar de ninguém, por medo...

-Mas no fundo você sabe que isso é bem pior. Não machuca os outros, mas te machuca. –Edward completou.

Refleti naquelas palavras. Elas não mentiam. Eram tão reais que chegavam a doer. Mas logo algo veio em minha mente.

-O que exatamente você contou a eles, telepata? –questionei a Edward, olhando para ele seriamente.

-Tudinho. –Emmett respondeu ainda com um sorriso, elevando minha tensão.

-Sabemos que passou por tempos difíceis...

-Não, não sabem. –cortei a fala de Carlisle.

-De qualquer modo, queremos continuar ajudando em sua alimentação e no que mais pudermos e pedimos para que fique conosco. –o doutor continuou depois do meu corte.

A confusão realmente me tomara. Eu não poderia tomar qualquer decisão definitiva no momento. Era insano, ingênuo continuarem me abrigando, depois de saberem do perigo que eu oferecia. Seria ainda mais insano e ingênuo seu eu escolhesse ficar. Contudo, eu podia distinguir muito bem meus sentimentos. Eu queria ficar. Queria tentar novamente. Jasper tinha razão. Beethoven me dera a paz da música, em conjunto com a apreciação da natureza, mas era algo temporário em meu caso. Eu sabia que não poderia me considerar uma nômade, apenas uma fugitiva.

-Pense sobre o assunto. –Alice tirou-me de meus pensamentos com sua voz, logo vindo até mim e segurando minhas mãos –Agora, por que não aproveitamos para caçar?

Então tive conhecimento da sede que queimava em minha garganta. Devido às circunstâncias, senti o cheiro do sangue de Nessie, assim não ousando olhar para a jovem. Estava certa de que Edward pareceu compreender minha apreensão.

-É melhor irmos para casa. Já está tarde. –o telepata já seguia para a porta da frente, com sua família. –Espero que tome uma boa decisão, anciã –sorriu e foi embora.
-Vamos. –Carlisle nos apressou.

Where I Go?Where stories live. Discover now