Finalmente

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-Eu quase procurei o senhor por todo o castelo. –falei ao sentar-me ao lado de Marcus, no mesmo lugar onde havíamos conversado na noite anterior.

O Volturi apenas olhou para mim, sorriu fracamente e voltou a observar o céu estrelado, assim como eu.

-Eu quero lhe agradecer mais uma vez por ter feito aquilo por Ethan. Eu já estava pensando em planos mirabolantes para conseguir tirar ele de lá.

Novamente vi o sorriso do soberano ao meu lado.

-De nada, de novo, pequena.

-Contudo ainda estou em dúvidas sobre os seus motivos para aquilo. –fui direta.

Marcus pareceu suspirar profundamente, ainda com o fraco sorriso. Ele parecia cansado como antes, mas eu sabia que alguma coisa havia mudado.

-Você não vai desistir. –afirmou olhando para mim.

-Não. –respondi convicta e então, pela primeira vez, vi Marcus soltar algo semelhante a uma curta risada.

-Eu tirei seu amado de lá... –bufei quando o ouvi falar novamente a palavra “amado”, pelo seu significado. Contudo Marcus fingiu não ter percebido minha expressão. -... porquê você me pediu, mesmo que indiretamente, mesmo que você nem tenha percebido isto... Eu também não gosto de ver pessoas sentindo a dor que sinto, Srta. Wheeler. Mas, diferente do que você estava e acredito que continua fazendo por mim, eu evitava estas pessoas. Era mais fácil não ver... Porém a senhorita mudou isto, eu acho. Ainda não sei direito o que aconteceu. Foi como se eu tivesse acordado, depois de muito tempo. –“...do vazio”, pensei –Mas ainda não me sinto forte o suficiente para continuar desperto, pequena. Logo dormirei.

Então o silêncio se apropriou do espaço entre nossos pensamentos, e abaixei minha cabeça, olhando para os pontos distantes das pessoas que caminhavam pelas ruas de Volterra. Porém minha mente não estava nelas, nem na cidade. Olhei para os campos que, naquele momento da noite, pareciam almofadas negras e gigantes, mas meus pensamentos ainda não se concentravam neles. Tornei minha visão ao céu e suas milhares de estrelas, contudo ainda não direcionava minha atenção para a vista em si. O que pensava, naquele instante, era em lembranças dos meus primeiros sorrisos verdadeiros, os quais Phillip tinha me proporcionado.

-Me perdoe, mas vi sua história em sua mente. –falei a Marcus, de forma sincera.

-Eu já esperava por isto. –por um instante pensei que esta fala de Marcus seria uma prévia para ele me jogar para longe, mais uma vez. Mas logo percebi que o soberano ao meu lado continuava calmo.

Deixei que o silêncio prevalecesse mais alguns minutos, enquanto eu criava coragem para o que eu falaria a seguir.

-Eu nunca havia sido feliz antes de encontrar Phillip. Nunca havia rido de maneira completamente verdadeira, nem sorrido. Ele me fez ver que a felicidade realmente existia. –de soslaio, me assegurei de que Marcus estivesse realmente me escutando e assim que tive certeza, prossegui com minha fala. –Mas quando Phillip morreu, foi como se esta certeza tivesse sido feita especialmente para ele, e mais ninguém ou algo deste mundo poderia me fazer feliz novamente. Ele era toda a felicidade que eu tinha e perdi... E esse pensamento me corroeu por anos... Tempos depois eu me aproximei de mais duas pessoas e as perdi de novo... Mas eu havia me prendido tanto ao pensamento de que eu era a culpada pelas minhas perdas, que não percebi que fui feliz novamente por mais duas vezes. Eu não entendia... Mas agora finalmente entendo, graças ao que o senhor fez, que não foi culpa minha... E também estou começando a entender que posso... Que finalmente posso ser feliz de novo. –senti minhas lágrimas, mas daquela vez tinha absoluta certeza de que eram de alegria.

-Então acha que eu posso ser feliz novamente? –Marcus questionou-me com sinceridade em seu olhar.

Eu responderia de imediato, mas pensei por alguns instantes antes de assim dizer, lembrando-me de um vampiro de olhos azuis acinzentados:

-Não é o que eu acho. É o que você acha.

Então, pela primeira vez, vi em Marcus Volturi um olhar de esperança e aquilo me comoveu. Logo um fato inesperado aconteceu: ele começou a rir de felicidade, para o céu, e eu o acompanhei.

Where I Go?Where stories live. Discover now