Elo

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Ficamos por quase duas horas no pequeno jardim.

As histórias de Alec eram realmente engraçadas, assim como a maneira como ele as contava. Em muitos momentos, Jane o intervia fazendo comentários que tornavam as façanhas do irmão ainda mais hilárias. No final de cada conto, Alec fazia perguntas para saber se havíamos realmente prestado atenção no mesmo, e todos respondíamos. Todos interagiam uns com os outros, em risadas sinceras e palavras sem mágoas.

-Vejo que estão se divertindo. –a voz de Aro calou a nós quatro e logo olhamos para o soberano em pé, no fim da escada que dava acesso ao viridário. –Por favor, não parem por minha causa.

-Eu estava contando algumas de minhas histórias para eles, senhor. –disse Alec, com um sorriso largo.

-Ah! As histórias contagiantes do nosso pequeno Alec. Elas são realmente muito divertidas. –a voz de Aro pareceu verdadeira, o que me gerou dúvidas. Há mais de quatro semanas estudando o comportamento daquele vampiro, eu já havia descoberto a diferença dos seus tons sinceros reais ou manipulados. E era difícil de imaginar Aro Volturi parando para ouvir histórias que não lhe proporcionavam informações úteis com o poder  usá-las mais tarde.

-Quer juntar-se a nós, irmão? –Marcus questionou ao amigo.

-Em algum outro momento, meu amigo. Vim chamar a Srta. Wheeler para uma conversa.

Não fiquei surpresa. Eu já esperava tal ato. No dia seguinte o período de observação de Ethan se daria por encerrado, quando Aro assim o liberasse.

Pedi licença para Marcus, Jane e Alec, e passei a acompanhar Aro Volturi que, a passos rápidos de imortais, me conduziu até uma pequena sala que servia como um escritório. Ao olhar ao meu redor, vi que armários de arquivos cobriam quase todas as paredes.

No centro havia uma mesa retangular de tamanho médio e uma cadeira em cada lado dela. Logo aro sentou-se em um dos assentos, pediu para que eu me sentasse a sua frente e assim fiz.

-É aqui que guardamos todos os arquivos dos vampiros que passam por nosso conhecimento. A sua ficha também está em uma destas gavetas, Srta. Wheeler...

-Isto é algum tipo de ameaça? –questionei de imediato.

-Você também possui o dom de ler mentes, Anne. Isto é uma ameaça?

Com uma rápida lida nos pensamentos de Aro, pude constatar que não. Não era uma ameaça. No entanto eu não me rebaixaria e assim fiz meu silêncio.

-Pois bem. –aro continuou, depois de esperar minha resposta por poucos segundos, sem resultados. –Eu lhe trouxe até aqui para falarmos de algo que você já deve saber sobre o que se trata.

-Ethan ser solto amanhã? –foi uma pergunta desnecessária. Eu já imaginava a resposta.

-Minha cara Anne. O amor vem sempre em primeiro lugar, é claro. E você não deixa de estar certa em relação a isto. Mas deve saber que eu não compartilho desta mesma visão. Poder é tudo para mim. –e mais uma vez Aro foi extremamente sincero, mas ele logo explicou o porquê daquele ato.  –Já que ambos somos portadores do maravilhoso dom de ler mentes, sejamos sinceros um com o outro, certo? –acenei em concordância. –Bom. Eu já imagino que com a liberdade do Sr. Blackwell dada, vocês logo nos deixaram.

-Certamente. –concordei convicta.

-E eu também imagino que mesmo que eu lhe convidasse infinitas vezes para se juntar a nós, você recusaria, certo?

-Correto. –afirmei novamente.

Então um medo súbito fez com que eu sentisse um rápido calafrio, quando pensei em possibilidades do soberano a minha frente fazer com que minha permanência no castelo dos Volturi, fosse feita. “E se ele usar Charmion?”

Quando percebi, Aro já tocava minha mão direita.

-Oh não, minha cara. Eu nunca faria uma coisa dessas. Não com você.
Rapidamente afastei minha mão da de Aro.

-Eu sei que tem todos os motivos para acreditar que eu seja um monstro. No entanto, mesmo contra vontade, além de toda sede por poder, eu ainda tenho algumas características humanas, alguns sentimentos que fazem com que meus súditos e amigos se afeiçoem por mim, além, obviamente, de Charmion e suas habilidades. Contudo, o sentimento paterno que eu sinto por você, Srta. Wheeler, parte vem do elo que criei com a senhorita quando a transformei. Você já deve ter ouvido falar disto. Tal elo que eu tenho com quase todos que já proporcionei a imortalidade, mas com a senhorita é de uma maneira especial, porque você tem minha linhagem. Esta é a outra parte e a mais importante. Tem meu sangue correndo em suas veias, mesmo que isto seja em uma quantidade extremamente mínima. –eu certamente estava confusa com toda aquela revelação. Tinha conhecimento sobre Aro ter me transformado e toda a história que acompanhava isto. Porém o que estava me confundindo era não saber aonde ele queria chegar com toda sua fala e ele percebeu isso em meu olhar duvidoso. –O que eu quero dizer, Anne. É que se escolher ficar, eu ficarei feliz não apenas por sua habilidade extraordinária, embora eu me importe mais com isso. Mas também ficarei feliz por uma moça que considero como filha, estar por perto... Entretanto, se decidir ir, o que acredito que seja um fato, eu lhe peço humildemente que nos visite o mais breve possível. Srta. Wheeler, eu realmente gostaria que viesse nos visitar, mesmo que apenas por Marcus ou ainda a amizade que talvez crie com Jane e Alec. Não sei como falar isto de maneira mais sincera além de “eu apenas gostaria de ver alguém que considero como filha, sorrindo, depois de um longo período de turbulência em sua vida” e “tenho orgulho do que se tornou”.

E pela primeira vez foi como se Aro esboçasse seu cansaço em seus olhos. Seu olhar suplicava para que eu acreditasse em suas palavras. Aqueles sentimentos expostos pareciam tão verdadeiros que não pude deixar de ler os pensamentos do soberano a minha frente. Para minha surpresa, se Aro conseguisse chorar, já teria derramado diversas lágrimas.

-Eu... –a última fala do Volturi junto à sinceridade de sua mente, me comoveram tanto que, embora eu não tivesse derramado uma lágrima sequer, não conseguia pensar em uma resposta apropriada para seu pedido.

Eu apenas me levantei e saí, com milhões de pensamentos.

Where I Go?Where stories live. Discover now