Perigo

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Ethan e eu ficamos abraçados por mais de meia hora. Quando senti que podia novamente suportar a dor sem chorar mais, eu fui ao banheiro lavar meu rosto. Assim que voltei ao meu canto, um pouco apreensiva por Ethan te me visto em um momento de fraqueza, ao abrir a porta, vi que ele ajeitara uma pequena mesa antiga, junto a duas cadeiras, uma de frente para outra, com a mesa entre ambas. Fiquei confusa.

-Olha o que eu achei no meio disso tudo. –Ethan surgiu ao meu lado, me mostrando uma caixa de dominós antigos. Eu nunca havia os visto. Nunca havia explorado o sótão o suficiente para aquilo.

-Está a fim de perder para mim? –perguntei desafiadoramente.

-Ual... Não. Na verdade eu sou muito bom nesse jogo. –sorri por aquela resposta convicta.

-Veremos.

Aquele vampiro realmente era muito bom no dominó e ele acabou ganhando mais vezes do que eu, mas como reparação, procurei mais um jogo de tabuleiro em algumas caixas de brinquedos antigos e achei um xadrez com peças de vidro. Ethan achou que poderia me ganhar no xadrez assim como no dominó, no entanto eu já conhecia aquele jogo desde minha época humana. Fixei meus pensamentos apenas nas jogadas, ainda que as lembranças ligadas ao mesmo não fossem as que traziam dor absoluta. Não focalizar não era permitido em minhas táticas de formular estratégias para vencer.

Finalizamos as jogadas assim que se aproximou o horário de irmos à casa de Edward e Bella. Eu venci no xadrez e meu adversário, no dominó.

-Temos que ir mesmo? Eu juro que te venço na próxima partida. -Ethan estava perto da porta de vidro e eu do gramofone, quando ele fez-me essa última proposta de revanche.

-Não jure coisas que não pode cumprir. -ele riu da minha fala convencida e mais uma vez me peguei olhando o sorriso dele. “Eu tenho que parar com isso”, me repreendi em pensamento, assim que voltei a realidade. -E temos que ir, sim.

-Tá... -ele falou passando sua mão direita em sua nuca, pensativo. -Eu sei por que você me convidou, Anne.

Senti um calafrio com aquela última fala. Seria possível que ele, a única pessoa além de Bella que eu não poderia ler os pensamentos, teria lido o meu? Então lembrei que Ethan não havia me falado quais eram suas habilidades.

-Não. Não leio mentes e não foi muito difícil adivinhar suas intenções, pelo fato de você ter visto como Edward me tratou.

-Eu sou tão previsível assim? –foi o meu único pensamento com a descoberta de Ethan sobre minhas intenções.

-Não tanto quanto os outros. -falou se aproximando de mim, até ficarmos centímetros de distância um do outro. Se ele respirasse, eu poderia sentir em meu rosto. -Você é uma excelente estrategista, senhorita Wheeler, e isso a ajuda a ser discreta, em parte. Mas se tratando de discrição, eu sou perito.

De uma maneira improvável, o azul acinzentado dos olhos do vampiro a minha frente se tornou convidativo e, de repente, estar com Ethan a aquela distância era perigoso. Foi por este perigo que me afastei, andando de forma vampírica até a porta de vidro.

-Temos que ir. Já está na hora. -assim que terminei minha fala, pulei da varanda e segui floresta adentro, até chegar à casa de Edward e Ethan chegou dois segundos depois de mim. Um segundo depois, Bella abriu a porta.

Isabella recebeu a mim e a Ethan com um abraço e logo nos pediu para entrarmos, o que então fizemos. Ao chegarmos à sala, Edward estava sentado em um sofá enquanto Renesmee já pausara o início de um filme, para começarmos a ver todos juntos. Quando ela me viu, meus braços se abriram de forma automática, pois eu sabia me abraçaria. E estava certa. Jacob estava presente e sentava-se em outro sofá. Cada sofá possuía três lugares e os casais ficaram unidos, o que me levou a sentar com Renesmee e Jacob, a pedido de Nessie, e Ethan sentou ao lado de Bella, que ficou entre este último e seu marido.

Assim que o filme começou, todos prestaram atenção ao mesmo, exceto eu que, de vez em quando olhava para o outro sofá. Eu precisava me controlar para não rir das expressões sérias de Edward e o desconforto de Ethan. No final do primeiro filme, não havia entendido nem o básico da história, então tentei compensar no próximo que assistiríamos, de nome “O Rei do Show”. Nessie tinha me sussurrado que era um filme musical o qual ela gostava muito. Ela avisou contente que havia uma personagem na história que possuía o mesmo nome que o meu. Tomei conhecimento da base do filme desde o seu início. Era uma trama biográfica de superação e realização de sonhos, que certamente seria focada no “felizes para sempre”. No entanto aconteceu algo inesperado para mim, o nome de um dos personagens que se tornaria um dos principais, pelo que percebi, era Phillip. Foi uma surpresa, mas há muito estava consciente que muitas outras crianças foram batizadas com o mesmo nome no mundo. Porém o fato seguinte daquele personagem se apaixonar por Anne, na primeira vez que a viu, foi algo que me forçou a obter mais controle. Em determinada parte, Phillip quase morreu tentando salvar Anne. Sobreviveu por pouco. Ao final feliz do filme, exercendo uma força emocional extrema, eu desejava o vazio. No entanto, não o obtive e não tinha outra escolha a não ser continuar me controlando. Continuar tentando me convencer de que era apenas uma obra cinematográfica, mesmo que contasse a história de alguém real.

Me odiava porque minhas lembranças eram livres. Vinham e iam quando bem quisessem. Me atormentavam e me sucumbiam quando decidiam assim fazer. Podia controlar o que eu fazia no exterior, mas ainda sim, não era algo muito eficaz e se quebrava no primeiro segundo que me visse sozinha.

Por um instante olhei para Ethan e ele me observava seriamente. Não tive tempo, nem estrutura emocional para saber qual tipo de olhar ele estava me transmitindo. Logo eu estava olhando novamente para a televisão, tentando limitar minha dor, como havia feito milhares de vezes.

No final do terceiro filme, o relógio já se aproximava das duas horas da manhã e Jacob teve que voltar para casa. Renesmee pediu para sentar-se ao lado de sua mãe, o que ela tinha perfeita consciência que faria Ethan sentar no mesmo sofá que eu. Nessie colocara um casaco e uma almofada no lugar da ponta oposta a minha, do meu sofá, o que resultaria em Ethan sentado no centro do mesmo, mais próximo a mim. Não me restava dúvidas das intenções de da filha de Edward e Bella, e suas ações foram previamente calculadas. Por vez, eu poderia dizer que meu sono estava forte, então iria para meu canto, mas Ethan não era meu perigo no momento. Meu medo consistia no que eu poderia fazer se ficasse sozinha no sótão da casa de Carlisle e Esme, enquanto ainda tentava me controlar.

Pelo o que notara, na noite do filme em família, Renesmee podia ver quantos tivesse vontade de ver. Logo vimos um quarto filme, mas antes que o mesmo pudesse chegar ao seu meio, Nessie dormiu com a cabeça no colo de Bella e as pernas para fora da borda do sofá em que estava. O sono também viera a mim, pouco depois da metade do filme, pelo que percebi, e na medida em que se prolongava, cada vez mais eu desejava descansar. A borda do sofá era baixa e o ombro de Ethan começou a se tornar um bom e atrativo travesseiro. Eu tinha uma vaga consciência de quando havia decido apoiar minha cabeça no ombro do vampiro ao meu lado, pois o sono estava forte demais. Instantes depois, eu dormi.

















Rei do Show existe e é um filme maravilhoso. Alguém já viu?! Sobre os nomes, é muita coincidência?Ele ainda está nas categorias da fic... Talvez sim, talvez não, mais tarde no jornal da...ksksksksk
*Aí o vídeo oficial da letra de uma das músicas no filme. (Obs: Se ainda não viu o filme, isso é um mega cute spoiler hehe) =>

Where I Go?Where stories live. Discover now