O Espaço

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A princípio Esme considerou o convite de Ethan a mim como um pedido de casamento, pelo seu sorriso engenhoso, após eu avisá-la. Mas tratei de declarar a ela que aquele passeio não significaria nada além de uma tentativa de amizade. Porém eu via nos olhos de Esme que minha declaração fora negada. Não fiz mais nenhuma tentativa de explicação. Seria inútil.

Olhei para a porta dos fundos que era de vidro, o que nunca fora novidade, e vi Ethan parado de lado para ela, olhando para a floresta.

-Acho que precisa de mais um banho. –foi o que eu ouvi de "Einstein" quando cheguei a porta.

Parei de imediato.

-Você está brincando comigo?! –eu não sentia exageradamente o cheiro dos lobos, como os outros vampiros inteiros. Apenas o suficiente.

-Estou. –senti alívio e depois raiva. Ia dar um soco no ombro do vampiro quando o mesmo o segurou. –Me chutar antes não foi o suficiente? –questionou irônico.

-Não. –fui sincera. –Aonde vamos?

-Surpresa, minha cara Anne. Siga-me.
Assim que terminou de falar, Ethan sumiu mata adentro.

“Não sou sua”. Revirei meus olhos pela minha súbita e incontrolável infantilidade momentânea, e logo o segui.

Corremos por quilômetros rapidamente, dentro da floresta. Até então nada era novo. Eu havia percorrido os lugares pelos quais passamos, mais de uma vez. Ethan não parava, nem por um segundo, nem diminuía a velocidade e aquilo estava me deixando curiosa.

Eu já estava me acostumando à corrida quando Ethan parou, o que me fez fazer o mesmo ao seu lado. Olhei ao meu redor e não via nada que fosse diferente para mim. Eu já tinha visto a ribanceira alta ao qual ele estava observando. Então olhei para Ethan e ele me retornou o olhar.

-Vamos subir. Essa ribanceira é muito íngreme. Cuidado.

Instantaneamente procurei algum pinheiro alto para poder subir e depois pular no topo da ribanceira, mas nenhum possuía altitude suficiente para isso. Eu nunca havia tentado escalar aquilo.

Eu acenei com minha cabeça em concordância e então começamos a subir. Mesmo que rápida, a escalada era difícil. Qualquer erro e rolaríamos até o chão. Quando estávamos perto do topo, Ethan quase errou, mas se recuperou facilmente. Ele parecia não ter nenhum receio. Parecia ter feito aquilo diversas vezes. Eu continha certo nervosismo. Assim que vi o final da escalada, senti estar agarrada a algo forte o suficiente para não cair enquanto eu tomava impulso para pular em uma vertical que, na queda, me faria firmar os pés no fim da ribanceira. Eu estava correta sobre o que eu agarrava ser forte para meu impulso, mas errada quanto a firmar meus pés no topo, pois o mesmo era intensamente pedregoso e de meio metro de distância para outra ribanceira à frente. A pedra em que meu pé direito apoiou, se moveu e em seguida deslizou, o que quase me fez cair, mas Ethan segurou fortemente a minha cintura.

-Tudo bem? –perguntou depois de perceber que eu já estava equilibrada, assim me soltando.

-Obrigada. –agradeci rapidamente, ignorando o rápido, porém perceptível, tremor que aquela ação trouxe ao meu corpo.

-Essa ribanceira aqui já é mais fácil. Já veio aqui?

Quando olhei para a vista a minha frente, dando poucos passos até chegar à outra borda do topo do barranco, vi um campo de flores pequenas e brancas, que se estendia até parte ao redor de um lago azul intenso. A outra parte era o fim do declive de um dos lados de uma montanha coberta parcialmente por neve. Olhei para baixo e vi que o campo de flores começava desde aquela borda e segui o olhar até novamente a vista completa da paisagem esplêndida a minha frente. A ribanceira e a montanha guardavam aquele canto, deixando-o livre de qualquer intervenção humana, sem trilhas que levassem até ele. E em grande parte seria por isso que eu não tivera visto aquele local até o momento. Ele não estava nas minhas pesquisas.

Where I Go?Where stories live. Discover now