Até Encontar Você

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Levar meus pensamentos em uma direção determinada, para visualizar o que se esconde ao longe, era algo que eu aprimorara em meses de treinamento. Levei ainda mais tempo para conseguir localizar mentes a quilômetros de distância e poder projetar palavras nas mesmas. Mas isto apenas funcionava se eu já tivesse visto a pessoa dona do pensamento. Contudo, está última habilidade exigia o máximo da concentração que eu tinha. E para chegar até Ethan, ele devia estar com a mente desbloqueada.

“Vamos lá, Ethan. Onde você está?”

Nunca havia visto as masmorras daquele lugar, o que dificultava minhas intenções. Então tomei um rumo diferente. Procurei pela mente dos guardas que levaram Ethan preso. Não demorei muito tempo para encontrar um deles e logo vi suas lembranças. Entre tantas memórias, descobri que Ethan havia sido entregue para outro sentinela, no meio do caminho. Tendo conhecimento de que seria ainda mais difícil o que faria, gravei o rosto do vampiro que continuou conduzindo Ethan e me esforcei o máximo para começar a “andar” pela mente dele. Descobri ainda que meu amigo havia sido passado para outro guarda, e que este último precisou sair no meio do percurso e encaminhou Ethan a ainda outro. Houve muitas histórias, muitas lembranças, muitos sons, mais foco do que eu havia aprimorado até aquele momento. Mas não desisti e, enfim, consegui ver em que cela Ethan se encontrava e o próprio. Então minha concentração falhou e voltei meus pensamentos ao quarto em que eu estava.

Minha cabeça, assim como das outras vezes que aprimorava minhas habilidades com a mente, começou a latejar e senti uma leve sonolência.

“Só mais uma vez.”

Forcei minhas mãos ao chão e voltei à imagem de Ethan em sua cela. Logo entrei em sua mente que, para minha surpresa e alívio, não estava bloqueada desde que ele me ouvira gritar. Então soube que minhas suspeitas anteriores estavam corretas. Ele estava preocupado comigo, pensando que algo horrível houvesse acontecido. Encontrava-se em sua forma animal, andando de um lado para outro, desde o meu grito. Não perdi mais um segundo e projetei minha voz em sua cabeça.

“-Ethan, eu estou bem.”

“-Anne?!” ele parou de caminhar.

“-Sim. Você precisa se acalmar e destransformar.”

“-O que fizeram com você?”

“-Demetri me provocou e eu o lancei contra parede. Depois Jane interferiu, por isso eu gritei.”

Mesmo não podendo vê-lo pessoalmente, sabia que ele havia sorrido.

“-Então não conseguiu matar o desgraçado.”

Foi minha vez de sorrir.

“-Dessa vez não.”

Ainda sentindo meu sorriso, fiquei em silêncio por uns instantes e Ethan também, até ele tornar a “falar”. Não me desconectei da mente dele, mesmo que estivesse me esforçando o máximo que podia. Dialogar com Ethan, além de ser bom por não poder pensar em mais nada, era satisfatório de um jeito que eu não poderia descrever em palavras, naquele momento.

“-Anne? Ainda está aí?”

“-Estou.”

“-Isso é estranho. Estamos conversando pela minha mente. Eu posso muito bem estar ficando maluco.”

“-Um pouco... Já se destransformou?”

“-Já e já estou vestido. Não vou fazer aquela pobre garota me trazer roupas, de novo.”

“-Foi desnecessário ter rasgado todas aquelas vestimentas.”

“-Eu queria ter notícias suas, Anne. Foi por uma boa causa.”

Um tremor percorreu meu corpo naquele instante e exerci ainda mais concentração para continuar falando com Ethan.

“-Está tudo bem aí?”. Ele percebeu meu esforço.

“-Sim, é só que, no momento, estou aprimorando minhas habilidades de comunicação por pensamentos e isto exige máxima concentração. Tive que passar pela mente de quatro caras, até encontrar você.”

“-Isto daria uma bela história, deve saber.”

“-Talvez... Aro disse que não estão te deixando se alimentar.”

“-É melhor assim, se não é sangue humano... Eu vou ficar bem, Anne.”

“-Você sabe muito bem o que penso desta frase.”

“-Sei. Tudo bem. Daqui a uns dias eu vou sentir tanta sede que poderei beber qualquer tipo de sangue que me oferecerem e todo o meu esforço para controlar minha sede de sangue humano, vai por água abaixo. Era isto que queria ouvir, senhorita?”

“-Com certeza não.”

“-Então o que quer que eu diga?”

“-Que vai ficar bem.”

Desta vez o ouvi rir.

“-Às vezes você me confundi, Srta. Wheeler.”

Eu também ri.

“-Às vezes até eu me confundo comigo mesma... Mas isto acontece raramente, porque sou muito boa em equilibrar meus pensamentos... Tudo bem. Não todos. Mas controlo com perfeição a grande maioria.”

Mais risos.

“-Eu posso dormir a qualquer minuto.”

“-E isso significado que?”

“-É simplesmente um aviso de que talvez você permaneça falando sozinho, Ethan.”

“-Entendi. Conversar comigo é entediante demais.” Usou seu conhecido tom sarcástico, mas não poupei explicações.

“-Não será sua culpa.”

“-Eu sei. Só estava brincando com você.”

“-Tudo be...” Minha concentração estava começando a falhar, pelo cansaço. “Vou precisar de uns dois dia... Para me recupe...”

“-Entend... Mas volte, por... or, Srta. Wheeler.”

“-Eu vol...o, Sr. Blackwell.”

“-Durma be...”

Engatinhei com dificuldade até chegar à cama e assim que consegui me deitar, dormi.


Where I Go?Where stories live. Discover now