Agitado

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Sem o mínimo de delicadeza, arremessei Demetri para três metros de distância de mim. Não usei toda força que usaria para que ele quebrasse a parede a qual se chocou, pois não queria dever nada aos Volturi.

Ao longe, vi o vampiro se levantar com olhos furiosos e rapidamente vir em minha direção. Lendo seus pensamentos, previ seu golpe e o impedi, me esquivando do seu punho direito e segurando seu pescoço com minha mão esquerda, o erguendo para então jogá-lo no chão, com parte do seu rosto colada ao solo. Logo pressionei seu tórax com meu pé esquerdo, o impedindo de levantar.

-Era para você ter ficado longe. Pelo jeito, te jogar naquela parede não o fez entender isto. Encoste em mim novamente e vire cinzas.

O tom de voz que usei foi com um pouco de loucura e perversidade, junto com uma confiança inabalável, o qual eu aprimorei para causar tremores internos a qualquer criatura.  Só usava aquele matiz quando estava no vazio e apenas em algumas raras exceções fora dele, como aquela, ou seja, quando minha raiva não estava equilibrada. E tal descontrole não fora uma surpresa. Todas as circunstâncias eram propícias ao meu desequilíbrio emocional. No entanto, não era muito difícil de me recuperar. Porém, antes que eu pudesse fazer isto por completo, senti uma presença a dois metros atrás de mim.

-Dor.

Em um segundo eu me senti completamente humana de novo, enquanto todos os ossos do meu corpo eram quebrados ao mesmo tempo. E não paravam. Quebravam-se e quebravam-se de novo em um curto espaço de tempo, o que tornava tudo mais agonizante. Minha visão ficara turva e apenas senti o chão em minhas costas quando já estava caída sobre ele. Eu sabia que estava me contorcendo, mas a dor era exageradamente intensa, o que não permitia que eu pensasse em tudo que se passava a minha volta. Então ouvi meu próprio grito estridente e, logo em seguida, sentindo minha testa pressionada ao solo por mim mesma, ouvi um rugido vindo de longe.

“Ethan.”

-Já basta! –um instante depois da fala de Aro, a dor foi sumindo em poucos segundos.

Assim que me recuperei totalmente, já estando em pé, olhei para o soberano e logo em seguida para Jane, ao seu lado. Eu nunca antes havia sido alvo das habilidades daquela garota. Imaginava o quão ruim poderia ser sentir, mas sentir de fato era algo completamente diferente.

-Precisa controlar sua raiva, Srta. Wheeler. –Aro falou de maneira calma.

-Controle seu farejador primeiro.

-Tenho absoluta certeza... –ele levou um olhar severo a Demetri. –que Demetri não lhe causará mais problemas.

Logo o farejador acenou em concordância e se retirou em fúria.

“Ethan.”

-Acredito que devo acalmar meu amigo com minha presença. Ethan me ouviu gritando e eu o ouvi rugindo. –queria acalmá-lo. Queria vê-lo. Queria brigar com ele, por ter ficado.

-Já foi providenciado para que alguém levasse roupas a Ethan, quando ele voltar a sua forma humana. –respondeu-me Aro.

-Eu só queria...

-Ethan Blackwell está em confinamento como punição para o crime que cometeu. Não há nada que você possa fazer, minha cara Anne. –a intervenção a minha fala e meus desejos, junto a um último sorriso vitorioso, fez com que eu quisesse, naquele exato momento, arrancar a cabeça de Jane e cremá-la. Mas me controlei, por necessidade.

-Quem sabe em um futuro próximo. Agora devemos cuidar da sua sede, Anne. –alertou-me Aro. Ele devia saber que eu estava controlando minha sede, há pouco tempo.

-Como ele vai se alimentar? Ethan não bebe sangue humano, assim como eu.

Jane revirou os olhos e saiu para algum outro lugar. Com isto, Aro se pôs a minha frente e colocou sua mão esquerda em meu ombro direito.

-Querida, nossas leis são tratadas com rigorosidade. Se você as transgride, terá que enfrentar punições severas. –e naquele mesmo momento, entendi ao que ele se referia.

-Não o deixam se alimentar. –minha voz saiu baixa a ponto de se aproximar de um sussurro.

-Infelizmente. Acredito que isto é melhor para ele, pois caso o alimentarmos, em suas circunstâncias penais, seria...

-Sangue humano. –depois de saber o quanto Ethan se esforçara para conseguir se acostumar ao sangue de animais, não tive outra opção a não ser concordar com Aro, mesmo que sabendo que meu amigo passaria fome, me preocupasse exageradamente.

Não muito longe de Volterra, havia uma área florestal perfeita para caça. Por causa das minhas condições, tive que ser acompanhada por Félix e Jane. Os dois conversavam entre si e eu não me importava em tentar interagir com os mesmos.

No fim da minha caçada, subi em uma das árvores mais altas do lugar, pelas minhas análises, e observei um horizonte de campos e pequenas casas entre eles. Senti o vento em meu corpo e desejei poder correr para longe do lugar em que me encontrava. No entanto, isto durou apenas um segundo, antes de lembrar-me o porquê deveria voltar com os Volturi. Não permaneci com aquela vista nem mais um instante. Sem demora, desci.

Assim que estávamos dentro das paredes do castelo dos Volturi, me livrei da presença dos dois vampiros que me acompanharam na caçada e segui o caminho do meu quarto. Porém o nome de Ethan surgiu em uma conversa e parei naquele exato instante. As vozes vinham de uma sala ao lado do corredor que eu estava passando, e logo deixei um dos meus minúsculos pingentes, cair. Era algo que comprara apenas para aquela ocasião. Prontamente me abaixei, fingindo o estar procurando.

"Um truque clássico na arte da espionagem."

-Logo teremos que começar a comprar roupas para ele. –dizia uma voz feminina.

-Dinheiro não é problema, você sabe. –reconheci a voz enfadonha de Demetri.

-O caso não se trata disto, Demetri. Logo teremos que comprar roupas para um criminoso!

-Aro não vai deixar chegar a este ponto. Ele que fique sem roupas. Aposto que as prisioneiras vão gostar. –e repentinamente me senti irritada com aquela suposição.

-Tem certeza que não? Já está mais que claro que Aro tem certa afeição a Anne. Foi do mesmo jeito com aquela humana, Bella. E depois a filha híbrida dela.

-E o que isso tem haver com Ethan? –“boçal” foi o que pensei de imediato, sobre de Demetri.

-Anne e Ethan, seu boçal. –segurei meu riso a aquela resposta.

-Entendi. Mas fica calma, Lohane. Não se preocupe com isso. Aposto que Aro não vai ter que te mandar lá por muito tempo, quando ver que o gatinho não vai se destransformar e parar de rasgar as roupas que você, com enorme carinho, o entrega. Aí então os guardas serão subornados pelas prisioneiras, para elas terem uma hora com o tigrezinho de araque.

Depois de ouvir a última fala, continuei meu caminho. Eu precisava achar um jeito de me conectar a Ethan por pensamentos, não só pelas consequências que Demetri expôs, as quais me irritavam e muito, mas também porque, aparentemente, Ethan devia estar muito agitado e, dadas as circunstâncias, acreditava que eu devia ser o motivo disto.

Assim que cheguei ao meu quarto, com minha possibilidade de falar com Ethan já pensada enquanto caminhava, fechei a porta atrás de mim e me ajoelhei. Coloquei minhas duas mãos no chão e fechei meus olhos, para melhor concentração.

Where I Go?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora