Mas uma Vez

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Estava satisfeita com o que via no espelho. Vestia uma combinação básica: um suéter grafite, uma calça jeans preta e coturnos marrons mais escuros. Resolvi deixar meus cabelos, pretos e lisos, soltos. Não costumava fazer aquilo. E quanto à maquiagem? Eu realmente detestava ter o trabalho de tirá-la do meu rosto, depois de um leve sacrifício para ajeitá-la em minha pele branca como mármore. Usava apenas em ocasiões extremamente necessárias e o encontro da noite não se tratava de uma delas.

Quando saí do meu canto, pela porta de vidro, só faltavam dez minutos para as dezenove horas. Apressei-me e em dois minutos estava na porta da casa de Bella e Edward. Fiz menção em bater na porta, mas antes que eu pudesse encostá-la, a mesma se abriu, revelando o autor daquela ação: Edward.

-Olá. –disse-me de forma agradável.

-Oi. Vim para ir com Renesmee até os Quileutes. –falei, sem perca de tempo.

-Quem está ai?! –questionou uma voz vinda de um dos cômodos da casa.

-Ainda não é o Jacob. –respondeu Bella, aparecendo subitamente na minha frente e me dando um abraço.
–Entre.

Minha primeira impressão do chalé seria de algo extremamente confortável, simples e elegante ao mesmo tempo. Era fato que a família Cullen havia construído bem aquela moradia. Eu observava cada detalhe cuidadosamente posicionado, admirando os mesmos.

-É uma casa muito linda.

Eu caminhava atrás de Bella e na frente de Edward até a sala de estar do chalé.

-Obrigada. –o casal agradeceu no mesmo momento.

Antes que eu pudesse me sentar em um espaço do sofá, Renesmee apareceu na minha frente, rapidamente me abraçando.

-Que bom que veio. –falou logo se sentando ao meu lado.

Não haviam muitos assuntos a serem tratados. Eventualmente trocava palavras com o casal, mas era Nessie com quem eu mais “conversava”. Ela já havia feito várias visitas a noites como a que iríamos. Disse que sempre ficava fascinada pelo modo como Billy Black contava as histórias de sua tribo, principalmente como surgiram os lobos enormes que podiam se transformar em humanos e vice-e-versa. Eu usava facilmente todas as minhas formalidades e táticas de conversa para fazer com que Renesmee me falasse mais sobre o que provavelmente iria acontecer a poucos minutos. Era uma forma de alimentar meus conhecimentos, formulando ideias de como passaria as próximas horas e assim me divertir mentalmente por minhas previsões corretas.

-Filha, você esqueceu do seu casaco. –alertou Bella.

Renesmee olhou brevemente para si e pareceu lembrar-se daquele detalhe. Ela logo pediu ajuda da mãe para escolher qual ficaria melhor. Bella logo se propôs a ajudar a filha e disse-me para ficar a vontade, gentilmente.

Para esquivar-me de quaisquer palavras do telepata que continuava em sua sala, olhei para o carpete, ainda sentada, e continuei a formar minhas teorias sobre o que era provável de acontecer no decorrer da noite. “A pessoa mais propensa a uma verdadeira amizade é Jacob. Sendo assim, ele fará o que tiver ao seu alcance para que a nossa viajem até sua tribo seja agradável. Porém ao chegarmos ao nosso destino, ele se concentrará totalmente em Renesmee. Mas conhecendo seu caráter, ainda falará comigo eventualmente, por gentileza. Billy Black não desviará sua atenção um minuto sequer de mim, embora disfarce para que eu não me sinta constrangida. A maioria dos outros lobos fará o mesmo que Billy. As histórias trarão laços e purpurinas, acrescentando uma ótima narração, para mera “magicalização” da versão real...”.

-São boas táticas, anciã.

Minhas teorias foram interrompidas ao som das palavras de Edward. Levei um segundo para compreender o que ele havia falado. A primeira coisa que constatei fora o fato de ele usar em sua frase o apelido antigo que o Edward humano usava. Ele compreendeu que eu não havia entendido perfeitamente suas palavras, o que era um erro, e as explicou antes que eu pudesse dizer algo.

-O modo como você influenciou minha filha a te dar o conhecimento suficiente sobre o que poderá ocorrer durante esta noite.

Eu seguia meu propósito de não ler os pensamentos dos Cullen, mas não era difícil de adivinhar que Edward havia usado a expressão “minha filha”, para que eu pudesse compreender seu pensamento de que eu teria usado Nessie para mera precaução. Mas eu não me importava com aquilo. Edward sabia sobre o vazio atual. Então eu não tinha por que não ser absolutamente sincera com ele.

-Gosto de me prevenir. Especulo e me divirto com os acertos.

Esperava uma expressão séria, até um rosnado depois da minha resposta, mas o que vi no rosto de Edward foi algo semelhante a tristeza e desapontamento. Fiquei curiosa.

-Eu sinto muito pelo que você se tornou, irmãzinha. –disse quase como um sussurro, levando sua vista ao carpete.

Aquelas palavras de imediato me fizeram o encarar por alguns segundos. O vazio havia sumido. Não pude mais evitar ler seus pensamento e o que vi foi um choque para mim. Ele estava transferindo a culpa para si, por três motivos. Primeiramente ele não havia aceitado fugir comigo. Em segundo, ele não me permitiu transformá-lo em vampiro. E por fim, mas o mais importante, mesmo sabendo de quase toda a minha história solitária, ele não pensou o óbvio na época: eu iria sofrer eternamente pela sua perda. Ainda acrescentava o fato de que ele havia sido a minha última tentativa de ser feliz novamente. Aquilo estava me aterrorizando. Ele não merecia o peso que estava recaindo sobre os seus ombros. Ele estava feliz e devia continuar assim. Eu havia atrapalhado sua vida mais uma vez.

-Afaste esses pensamentos, Cullen. –ordenei subitamente, ainda o encarando.

Edward então levou o olhar para o corredor ao meu lado. Bella e Renesmee logo apareceriam. Mas ele não afastou os pensamentos. Apenas os guardou. Desejei o vazio novamente. Desejei não sentir, mas preferi me manter viva. Tinha que consertar a felicidade daquele que um dia fora meu irmãozinho, mais uma vez, antes de ir.

Where I Go?Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz