31.

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(Dorian)

Precipitei meus olhos sobre a pele lisa de sua fronte lívida, pacificada. Ela cheirava a hospital e pesadelos carinhosos. Ela era delicada e frágil. E uma grande e linda mentirosa.

Ian sentou-se, os olhos fundos na televisão não demonstravam atenção ou reação às notícias da manhã. Não havia a urgência maníaca de quando nós vimos há duas horas.

A sala fedia a morte.

Havia partes de dedos e dentes expostos. Havia sangue espirrado nas paredes, impregnado no carpete. Havia um corpo tão desfigurado e fodido que eu mal podia definir a causa da morte. Estava amarrado, as mãos amarradas atrás das costas, em posição fetal.

Ian, satisfeito, observava o resultado de sua matéria-prima, dobrada e despedaçada em sua sala respulsivamente luxuosa. Não havia absolutamente nada escapando do volume de músculos exausto e coberto de gotículas de suor. Nada, como um maldito caixão sob encomenda.

— O que conseguiu? — Foi tudo que me arrisquei a dizer antes de me aproximar do cadáver, revestindo minhas mãos com luvas de látex pretas a fim de começar a pensar em organizar o que sobrou para um enterro.

— É a T.N.T. Ela e o pai transportavam cargas ilegais e todo tipo de merda para eles. — Disse simplesmente.

E aquela informação tomou meu corpo com uma onda de choque, detendo-me. A TNT era a porra de uma organização do submundo que fazia qualquer coisa — qualquer uma — para gente com grana. Aquela situação era como abrir um buraco no Tártaro e esperar sermos devorados.

Expirei, o pensamento acelerando como uma locomotiva. Possibilidades se desenharam, comparações de poder bélico, dinheiro, aliados... Seria um grande massacre de merda.

E agora, Ianor havia torturado e assassinado um deles. Não é como se pudéssemos dar de ombros e pedir desculpas.

Meu irmão jamais permitiria esse tipo de humilhação. Ele sabia o que estava invocando sobre nós quando decidiu matá-lo. Ian era muitas coisas, mas covarde não era uma delas. E muito menos prudente.

— Vou colocá-lo no freezer. — Expliquei, distribuindo o corpo em um saco e fechando o zíper. — Sacha pode cuidar para que pareça um acidente.

Ianor esboçou um sorriso diabólico, muitos dentes a mostra. Eu nunca me acostumava aquela forma de insanidade que emanava dele, como a porra de um psicopata.

— Não seja ridículo. — Riu-se, acendendo um cigarro com o isqueiro e jogando-se no sofá de linho branco. Ele era uma mancha carmesim sobre creme. — Organize e deixe na garagem. Vamos mandá-lo embalado para os filhos da puta e esperar.

Ele só podia ter perdido a porra do resto do juízo!

Encarei-o, incrédulo.

Ele tragou o cigarro.

Ele estava falando sério.

Porra!!

— Que porra você está pensando...? Ficou maluco?! — Esbravejei, erguendo-me.

Silêncio. Ele travou mais uma vez o cigarro e finalmente o apagou no cinzeiro de cristal ao lado na mesinha de centro. Ergueu-se e depositou um pequeno pedaço de papel escrito à mão.

— Coloque isso dentro. — Ordenou.

Encarei-o, fervilhando em pura ira, mas cedi e li a grafia alongada e elegante que dizia: Peguei. Agora está com você.

Agarrei-o pela camisa com violência, aproximando-o de mim. Ian foi obrigado a me encarar, mesmo que sem qualquer sinal de emoção.

— Você acha isso engraçado?! Acha que essa porra toda é um brincadeira?! — Esbravejei. — Tem a porra de um cadáver na sua sala! Você quer o quê? Uma coleção?!

Mr. Bratv Where stories live. Discover now