59.

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(Ian)

Não respiro enquanto ela se aproxima de Dorian, acompanhada por olhos que são gelo e fogo. Meu irmão não percebe, mas não resta uma pedra no lugar do abismo em que me joguei. O que me acomete é uma profunda e gélida dor, uma dor que divide minha alma recém restaurada em fragmentos impercetíveis, que me bestializa e me humilha, que me poem de joelhos. Estou  prestes a levá-la, mesmo que por sobre os ombros, a qualquer sinal de felicidade que ele demonstre e me sinto miserável, porque agora reconheço a natureza putrefa e destrutiva da traição. Eu jamais suportaria respirar se soubesse que ele jamais seria minha, eu jamais suportaria existir em um mundo em que ela fosse inalcançável. Eu sabia, talvez sempre soubesse. Mas ali, na eminência de perder-la, eu jamais senti tanta certeza de que no lugar de Dorian, eu teria sucumbido á indecência moral pela mulher que amo muito mais rápido e muito mais vezes.

Eu a amava como jamais amei a mim mesmo, porque quem era jamais poderia sobreviver a sua ausência. Eu a amava de forma feia, profunda, inapropriada, desesperada e visceral, como nunca e jamais seria capaz de amar de novo. E quando ela me olhou no fundo dos olhos -- olhos alamardos e repletos de sombras -- eu soube que destruria qualquer coisa, até a porra do mundo, para tê-la de volta. E nunca me senti tão nu, tão nítido, tão eu: um desgraçado filho da puta que não passava de um animal, moldado por violência e crueldade, mas submisso e passivo por uma linda garota texana.

— Não posso fazer isso, mesmo por ela. — Balbuciei, confessano a profundeza de minha natureza corrupta a Dorian.

Mas nele, nada havia que se alarmasse. Ou nela. Kath semicerrou os olhos, confusa, hesitante e se aproximou de mim, afetada. Não houve tempo para decifrar seus olhos, para buscar sinais do que acontecera entre os dois. Ela sustentava um semblante duro, profundamente abalado.

— Quem é Summer? — Ela indagou, resgatando-me de toda angústia em que meu coração boiava.

— Não sei. Do que você está falando? — Balbuciei, desesperado para abraçá-la, para tomá-la nos braços.

Dorian disse brevemente um conjunto de palavras que não formavam um narrativa. Meus olhos transitavam entre os dois, duvidosos, à margem. Rebekka e alguém chamado Summer. Alguém chamado Summer e os atentados à Bratv. Os atentados e o envolvimento de Kath com T.N.T. E um monte de merda que não fazia sentido nenhum para porra nenhuma. Mas a mulher que eu amava e meu irmão me encaravam com dúvidas e, talvez, uma sombra de escuridão nos olhos.

— Katherine, volte ao hotel e tente entrar em contato com Rebekka ou com minha assistente. — Ordeno, digitando um e-mail para Sacha exigindo um relatório da segurança. — Ivo, —Digo ao homem que permanece em silêncio do outro lado da sala. — Leve Katherine de volta. Quero Iuri e Igor aqui em meia hora.

Ivo me encara, hesita, encara Dorian e segue até a saída. Deposito um beijo no topo da cabeça de Kath, apenas para vê-la desaparecer pela porta com toda sua magnitude e beleza, deixando tudo florescer e fenecer onde ela passou. Suspirei e percebi Dorian a me observar em silêncio, mas penas ignorei e caminhei até o escritório, seguido por ele. Eu o indaguei sobre a possibilidade de usarmos o jatinho, por uma questão de segurança, assim que fechei as portas.

— O tempo que levaríamos com os trâmites legais para um voo intercontinental é o dobro de tempo em comparação se fretarmos um avião comercial. — Disse simplesmente, afundando no sofá de couro um pouco depois de abrir uma garrada de whiskey e se servir ma dose dupla.

— Isso nos exporia se houver uma ameaça real. — Explico, apoiando-me sobre a mesa.

— Estarmos aqui juntos já é uma grande exposição. Podemos articular uma segurança razoável no perímetro do aeroporto. — Dorian afirma, bebericando o líquido âmbar. 

Mr. Bratv Where stories live. Discover now