Epílogo.

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(Kath)

Frio.
Era como estar na geladeira, nu e rodeado por granizo. Já passava das 2 da manhã.

Ian me encarou, adentrando na sala de estar a passos largos. O longo casaco de pele estava inundado por neve, grudando em seus longos fios dourados e revelando um rastro de sujeira por toda entrada. Seus olhos correram em minha direção, pareciam alarmados e antes que pudesse avaliar sua expressão, ele desviou os olhos e marchou em direção ao escritório. A atitude me fez encara-lo, devidamente preocupada, mas eu sabia que nada podia ser feito.

Viver em São Petersburgo pelo sobrenome de Basurkov tinha daquelas situações, as quais Ian utilizava da ignorância como minha principal defesa. Saber demais, no mundo da Bratva, era uma ultimato de morte. Contudo, mesmo que eu tivesse consciência de que aquela era a forma dele de me declarar amor, ainda sim me preocupava que aquela fardo fosse pesado demais para lidar sozinho.

Havia uma expressão exausta em seu olhos, acentuada pele leve desconforto de seus óculos. Ian não era o mesmo. Era como se a responsabilidade e o poder lhe pesassem em anos e pequenas rugas na testa, que franzida por tempo demais revelava sua exaustão. Àquela altura, víamos-nos tão pouco que por vezes eu esquecia que éramos casados diante da lei e da igreja. Tocar-lo, como esposa, como mulher, por raras vezes acontecia e eu me via no dilema e no pavor de acabar me tornando a Carol que nunca fui.

Eu estava me sacrificando por um relacionamento que caminhava de mal a pior, vivendo em um país cuja língua não falava, convivendo com pessoas cujo escárnio me atingia sorrateiro.

"Aquela era uma solidão que somente esposas de homens como os nossos conheciam." Dissera-me certa vez Abigail, revelando que não somente de prazeres era feita uma vida a dois. Principalmente, se o outro demanda tanta compreensão.

Inspirando profundamente, cobri-me com uma longa manta quente e, ainda de chinelos, arrastei-me até a cozinha. Equilibrando sob as mãos uma xícara de leite fumegante e pedaços do seu bolo favorito. Lentamente bati na porta, mas como não ouve respostas, tomei a decisão de entrar no cômodo, somente para encarar de longe um marido afundado em papéis e decisões complexas, que somente sorriu timidamente e estendeu a mão.

— Trouxe algo para você comer. — Declarei, depositando sob a mesa a bandeja.

Ele me encarou, quando sentei-me diante dele, na cadeira de visitas. Seu rosto parecia turvo e taciturno, não havia brilho em seus olhos ou qualquer rastro de felicidade.

— O que houve? — Indaguei, cruzando os braços. Minha voz soou baixa e controlada.

— Problemas, Kath. — Afirmou ele, depositando a caneta por um minuto em cima da mesa.

— Com o Dorian? — Indaguei, buscando dele qualquer sinal de interesse.

Ele desabou na cadeira, fechando os olhos.

— Não. Summer, Dorian e Carol estão bem. As coisas continuam bem na Bratv. — Explicou ele.

— Então o que aconteceu? — Minha voz soou mais aguda. — Por que não pode dividir comigo?

Ian me encarou, erguendo a sobrancelha em minha direção, enquanto uma expressão confusa tomava seu rosto. Seus cabelos dourados criavam uma cortina ao seu redor, mas eu podia decifrar-lo.

— Não quero que se envolva demais. — Alertou ele, com um olhar carinhoso para mim.

— Como? — Ri-me. — Eu sou casada com você.

Mr. Bratv Where stories live. Discover now