12.

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(Kath)

Quando finalmente abri os olhos, a diferença abrupta de cenário lançou sobre mim o alívio de estar segura. Apesar do soro, do quarto hospitalar, do cheiro de desinfetante e da sensação de asfixia que as paredes brancas traziam, nunca me senti tão grata por estar apenas ferida.

         Deparei-me quase de imediato, também, com a dor insuportável atrás da nuca, que apesar de amenizada, ainda era regular.

        Que merda tinha acontecido mesmo?

        Lembrava-me do toque gentil sobrepondo o medo, do desespero, de mim no asfalto. Do carro. Da perseguição.

         Do motorista.

         Meu coração subitamente acelerou.

         Pensamentos específicos convergiram instantaneamente para Mr. Bratv, enquanto uma agitação pouco usual acometia minha mente.

         Ainda podia sentir o rastro de seus toques. Da segurança que me inundara. Do aconchego de seu carro.

         O alívio.

         Um alívio quase perturbador, que revelava uma contestável confiança.

Gemi baixinho em frustração, agitada e ansiosa, incapaz de conter o desejo de levantar, de encontrá-lo, de dizer alguma coisa... alguma coisa que eu não sabia ainda.

      Entretanto, quando ameacei alcançar o chão em um movimento rápido, a dor muscular atingiu-me instantaneamente, fazendo-me desistir no meio do caminho e sentar-me na cama.

       Sentia o peso de minha respiração ecoando no fundo de meus pulmões, ainda recebendo os efeitos e náuseas da pancada.

— Foram seis pontos, Katharine. Você vai abrir o ferimento movendo-se assim. — O timbre controlado da voz era de fato inconfundível. — Fique onde está, por favor.

         Minha atenção correu para o fundo do quarto, confirmando com surpresa a serenidade inquietante na expressão que me observava atentamente. Um medo irracional percorreu cada nervo meu, trazendo à luz uma pressão

      Deparei-me sequencialmente com atentos, intensos e inquietantes olhos escuros, que suspenderam minha respiração por um breve momento de hesitação. A força de seu centro de gravidade pessoal prendeu-me de imediato, incapacitando todo e qualquer desvio estratégico.

          E eu não pude acreditar.

          — Mr. Dorian? — A indagação retórica soou quase como uma acusação. — Mas o que o senhor está fazendo... aqui?

         Pesadamente e sem pressa, como se mover fosse exaustivo, Dorian veio ao meu encontro. Altivo, mas destoando em calças jeans e camisa azul marinho, ele surgiu absurdamente elegante, com seu relógio caro no pulso e um cheiro marcante que se alastrava no ar.

A camiseta revelava uma longa tatuagem no lado direito, uma cobra que enrolava-se por todo seu antebraço, esverdeada e forte. A imagem me assustou, revelando um Dorian ainda mais sinistro e obscuro.

       Precisava conter os pensamentos, apavorada de que os descobrisse, pois seus olhos confessavam-me que era capaz.

Mr. Bratv Where stories live. Discover now