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(Kath)


Dorian já tinha deixada Los Angeles quando meu corpo finalmente parou de tremer, em meu terremoto particular. O carro automático nos permitia o luxo de permanecer de mãos dadas e eu sentia, por muito, que aquele era provavelmente o único fio que me conectava a sanidade.

Eu havia agido em nome da TNT. E agora, estava sendo caçada por isso. Isak me disse que estava cuidando disso, não que eu pudesse confiar nele. Agora estava com a cabeça à prêmio por um favor ridículo.

Ele tinha os olhos amendoados duros como chumbo, presos na estrada que pouco a pouco se tornava calma e silenciosa. Uma cortina de nuvens enevoava o céu como prelúdio de uma tempestade que dançava sem qualquer pudor sobre nós.

Tudo que eu podia ouvir era o barulho que os pneus faziam sob o asfalto. De resto, nada. Era como um grande zumbido que explodia em meus ouvidos, como se o mundo todo houvesse resolvido entrar no mudo.

Tudo que eu podia lembrar era Dorian sangrando. Sons de disparo. Um carro em fuga... e minha casa...

Apertei meus dedos contra os de Dorian, que por uma fração de segundo desviou o olhar para me verificar. Seus olhos pesaram sobre mim por um momento e nos encaramos brevemente, até que com cuidado ele devolveu meu gesto e voltou sua atenção novamente a estrada.

Paramos para abastecer por um momento e sentir o calor da mão de Dorian abandonar a minha, me fez hesitar e encará-lo com súplica. Ele suspirou e desceu do carro por um momento que pareceu uma eternidade.

Logo depois seguimos adiante. Havia uma partícula de insegurança e duvida no ar, nos seguindo. Na entrada de Santa Mônica, pouco depois do arco que delimitava seu inicio, a chuva desabou, tornando a cidade de férias um deserto sem precedências. Eu poderia ter ficado impressionada com o pier e o parque, se a chuva não tornasse tudo tão melancólico e vazio.

Dorian dirigiu pela costa até uma área mais isolada com pouca vizinhança, de onde podia se avistar ao longe a roda gigante estática.  Diferentemente da modernidade das outras casas,  a casa cujo quintal Dorian estacionou era robusta, rustica e sólida com vigas enormes de madeira e tinta amarela desbotando da faixada.

Ele fez um breve telefonema e me pediu para esperar na varanda do lugar, após descer na chuva, alertando que estaria de volta em breve. Assim, cinco minutos depois de angustia Dorian retornou com a chave em mãos e atravessou meu caminho, subindo as escadas de madeira até a  porta, que rangeu como o piso ao seu toque.

Alguns empurrões depois, ele abriu a porta.

--- O vizinho do lado é um idoso, Mr. Garren. Eu o pago para dar uma checada na casa de tempos em tempo, aparar o gramado e fazer com que toda essa... velharia funcione.

Um segundo depois, segui-o pela porta estreita.

A primeira sensação que tive era a de que há muito tempo ninguém pisava ali, apesar de estar tudo limpo e conservado. As peças e móveis tinham um modelo retrô, com uma TV a tubo e uma geladeira com indícios de ferrugem.

A casa tinha apenas um andar e uma grande varanda em seu fim que dava diretamente para o mar. Havia um galpão ao seu lado, pranchas de surf empoeiradas no canto perto a mesa de jantar, para quatro pessoas. Quando Dorian abriu as janelas e as portas da varanda, o vento trouxe a brisa do mar que balançou as contas e os sinos pendurados na janela melodicamente.

Observando mais cuidadosamente, sinais de quem moradores estiveram ali passaram a surgir. Havia um prateleira de troféus e medalhas cuidadosamente polidos no canto direito da sala, repleto de objetos pessoais como porta-retratos, esculturas com conchas e bibelôs. De início não pude identificar, mas aos poucos tudo ficava mais claro.

Mr. Bratv Onde histórias criam vida. Descubra agora