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(Kath)

— Para a Bratv, por favor. — Expliquei, adentrando o carro e atando o cinto de seguranças no banco da frente do carona.

Héctor restringiu-se a assentir e arrancar com o veículo. Fechei os olhos por um momento, sabendo-me exausta de corpo e alma. Como estariam os dois agora? Eu sabia que tinha tomado a decisão correta quando me ofereci para solucionar o caso do embargo, mas eu estava há quase 4 meses afastada completamente dos negócios da Bratv. Depois de vasculhar cuidadosamente minha bagagem, encontrei meu laptop portátil e acessei a conta corporativa de Ian, a fim de fazer download dos arquivos referentes à transação.

Bastou alguns pouco minutos de leitura para que eu identificasse o primeiro indicativo de alguma coisa estava absolutamente estranha: o prazo de entrega do material estava datado para a próxima segunda, então tecnicamente não estávamos atrasados. Ao checar a troca de e-mail de Ceo com a comprador, fiquei surpresa em saber que havia dois documentos. Um, o primeiro e acredito que oficial de quando o acordo tinha sido fechado estava na lixeira, e as datas conferiam com o carregamento. O segundo, na caixa de entrada dos "visualizados" confirmava a data de entrega para esta sexta, sem qualquer anúncio prévio.

Agendamentos incorretos ou planilhas mal feitas, foi o que imaginei antes de tentar responder o segundo e-mail confirmando a entrega e, no fim, a conta simplesmente aparecia como "inexistente". Chequei o primeiro e-mail, e as contas eram idênticas, exceto pelo servidor que alocava a conta corporativa do contratante. Então as coisas ficaram extremamente estranhas, porque eu só havia a opção de fraude, que muito provavelmente partiu de dentro da empresa.

Ergui os olhos para a via a qual seguimos e de pronto estranhei o trajeto, que era percorrido no sentido oposto. Mirando as janelas, eu podia ver a cada metro percorrido o quanto nos afastávamos da cidade, deixando para trás os prédios e demais construções. Estreitei os olhos em direção a Héctor, com uma ruga de preocupação nos olhos.

— Para onde você está dirigindo, Héctor?

Mas ele não foi capaz de me responder, apenas acelerou ainda mais, fazendo o motor do carro rugir amedrontador. O movimento me fez ir de encontro ao banco e depois ser arremessada para frente, e eu tive que me segurar com as duas mãos.

— Pare o carro agora, Héctor! — Ordenei, em pânico. — Pare a porra do carro!

— Cala a merda da boca! Garota barulhenta do cacete!

Arregalei os olhos, enquanto meu sangue pulsava violentamente até a cabeça, causando-me tontura, propelindo uma dose intensa de adrenalina por todo corpo. A  ideia de me lançar porta a fora surgiu, mas ele aos 140 km por hora dizimava minhas chances de sair com vida. Desesperada, agarrei-me ao volante, direcionando-o para o lado oposto da pista de mão dupla, o que fez o cretino frear, cantando os pneus a fim de evitar uma batida frontal. Atordoado, Héctor não foi capaz de me deter quando abrir a porta do carro e embolei para fora como um rolo de macarrão.

Estávamos no meio da pista, quando aos tropeços pus-me de pé e lancei-me no máximo de velocidade que meus pés poderiam suportar. Meus pulmões queimavam com a respiração ofegante e havia um corte em minha sobrancelha ocasionado pelo choque, por onde sangue quente e fresco corria. Eu segui na direção oposta, enquanto um eco prolongado e doloroso despachava minha audição para o inferno.

Puta merda, eu praguejei, fazendo sinais para os veículos que passavam ao longe, mas nenhum deles se arriscava a parar. Senti os olhos marejarem, mas antes que pudesse amargar ou calcular o destino, senti o impacto.

No fundo, eu não recordava muito, nem mesmo a dor pude sentir. Lembro, no mais, de ser arremessada como um bumerangue a vários metros de distância e depois, finalmente, perceber o choque aterrecedor contra o chão duro e frio. Ele tinha me atropelado violentamente com o carro. Não tenho certeza de quando apaguei, mas meus olhos ainda vivenciaram a aproximação sorrateira e depois o motor do veículo, cuja dianteira estava destruída.

Mr. Bratv Where stories live. Discover now