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(Dorian)
4 anos atrás.

Cerca de vinte trâmites judiciais. Eu ia Ian víamos a empresa que havíamos construído com tanto esforço, ir para o buraco dia após dia, mergulhando nas decisões precipitadas e arriscadas de meu irmão em sua imprudente buscar por mais.

Ian sabia que aquele era o momento menos propício para expandir. Precisávamos cortar gastos e esperar as vendas do fim de ano para aquecer o mercado, a fim de não retrair. Como se a crise econômica no país já não fosse sinal o suficiente para que não arriscássemos e, ademais, a Bratv era uma empresa relativamente nova, os investidores assustaram-se com nossas manobras de risco e debandavam um a um.

Aquela tarde, disse a Vicent, o assistente mais longevo que tive, que não precisava mais de seus serviços. Estava farto. Farto da sobrecarga e demanda de trabalho, dos erros incoerentes de meu irmão, de meu silêncio soturno que se arrastava e se multiplicava em sorrisos falsos, olhares furtivos e mágoa. Uma maldita mágoa que não se extinguia por nada.

Repudiei imagem sombria da ideia do fim de ano. Mais um Natal adiante. Mais uma ceia para três, o casal Bratv e eu. Ri de minha própria desgraça e do que me fazia submeter aquele calvário: Carol estaria decepcionada se não estivéssemos todos juntos.

E eu não consegui-lhe negar nada. Mesmo quando decidiu que seria Ian a levar-lhe ao altar como noiva, não lhe neguei a oportunidade de ser feliz. Fiz o que qualquer pessoa que amava faria, mesmo em dor e agonia: deixei que partisse.

Sim, infelicidade. A mais ridícula e miserável realidade de um homem que tratava a mulher que amava de todo seu corpo e coração como... irmã. Deprimente.

Precisava superar. Esquecer. Precisava recomeçar, longe dos dois. E eu sabia disso. Estava a um passo de mudar para uma das sedes da Bratv no outro lado do país. Já não suportava as migalhas de sua fraternidade, como se o passado houvesse sido apagado e me pegava odioso de tudo.

Lembro de dirigir até meu apartamento e apagar todo início de noite até a madrugada, no mais profundo silêncio e escuro. Passava das 2h quando recebi um telefonema que me fez pular de sobressalto da cama, quase resfolegante. Meu coração, sentido de tudo, ateou-se em fogo, acelerando ao identificar o nome na chamada.

Era Carol.

Hesitei por um segundo, até atender a ligação depois de pigarrear a fim de afastar a ansiedade.

— Você sabe que são as corujas a ficarem acordada a noite, não os Bratv? — Indaguei, pretendendo mostrar menos fraqueza.

— Dorian... — Murmurou Carol. Sua voz era rasa e resfolegante.

Sentei-me na cama, deixando os pés tocarem o chão gélido. Podia ter uma dimensão de minha ansiedade do espelho, vislumbrando a tensão em meu corpo e mandíbula. Algo estava errado.

— O que houve? — Indaguei urgente.

Cinco segundos se passou até que ela respondeu.

— Eu... acho... que vou morrer...

Levantei-me em impulso. Conhecia aquela voz, aquelas pausas, aquele tom. Enfiei-me em uma calça jeans e uma camiseta qualquer, calçando minhas botas, ainda com ela na linha.

— Onde você está? — Exige, pegando a chave do carro em cima da mesa junto à carteira e caminhado até a saída.

— Em casa... — Anunciou ela. — Dorian... eu sinto muito... eu...

Mr. Bratv Where stories live. Discover now