58.

3.3K 287 53
                                    

(Kath)

Mesmo com o aquecedor no máximo, sentia que entraria em colapso. Desejei contactar Ian, mas seu celular havia ficado no porta luvas do carro e soava alto e insistentemente, interrompendo meus pensamentos.

Que péssima escolha eu tinha feito.

Encarar Dorian era preciso, de fato. Eu precisava colocar um ponto final em todas questões abertas e somente seguir, como já havia feito de fato.

Observando seu rosto cansado, eu tinha certeza que éramos estranhos, ou pouco mais que isso. Aquilo não era mais sobre perdão, explicações. A conexão que nos unia estava danificada, repleta de interferências e nós dois não nos reconhecíamos.

Inclinei a cabeça para o banco de trás. Eu precisava ir pra casa, de verdade. Precisava dar um basta com os Bratv. Precisava da minha irmã e do cheiro de churrasco no domingo. Precisava dos dias quentes do Texas. Dos eventos medíocres, das reprises na TV e da normalidade.

Já estava decidido há algum tempo. E eu prometi que Ian saberia no momento certo, sem drama e sem show. Somente um "até logo". Mas agora, aquela ocasião era inadiável.

Minhas economias do período como representante da Bratv eram o suficiente para abrir um pequeno negócio. Agora que a TNT estava em silêncio e, finalmente, por conta de Ian, eu estava segura, tudo era possível. Meu pai sempre sonhou com uma pousada, então eu tinha certeza que um negócio meu, de Beth o faria feliz. E faria minha mãe largar o emprego exaustivo.

Eu só precisava contar. Ian ficaria ao meu lado, eu sabia. Nós éramos um time. Um grande time e meus impasses estavam finalmente cumpridos. Eu tinha o direito de começar do zero, certo? Eu podia, longe, bem longe, reorganizar meus sentimentos, não podia?

E não haveria mais drama, nem dor.

Não precisava amar um homem que nunca seria meu.

Não precisava esperar a ligação de outro que nunca me procurou.

Nada mais.

E mesmo assim eu sabia que sempre que pisasse no Snake's Hole Bar, meus olhos cairiam no balcão, onde um cara mau humorado pedia um Whisky. E eu sorriria, ouvindo a voz de Ian me dizer "acho que você deve um obrigada a esse idiota".

Mas não haveria o beijo.

Nem o a briga.

E nem depois.

Eu tomaria um shot de tequila no balcão e voltaria para casa, para a vida que tinha escolhido. Longe dos Bratv, onde era seguro. Onde meus sentimentos eram lembranças. Onde a solida relação seria uma eterna amizade. Onde toda mágoa e desavença seria somente passado.

Meus olhos marejaram. Eu estava no meu limite.

Suspirei.

É o certo, Kath. Não seja burra. Não há nada para você além disso.

Então fui supreendida por mãos enormes contra o vidro do carro, martelando. Encarei apavorada, deixando um grito surdo escapar de meus lábios. A pulsação acelerada enviava toneladas de adrenalina ao cérebro, latejando dolorosamente.

Então ele se abaixou, revelando o rosto.

Dorian. Seu rosto taciturno me encarava exigente do lado de fora. Todo seu cabelo e rosto estavam encharcados, e a ponta de seu nariz e lábios extremamente vermelhos.

"Abra a porta" seus lábios dizia sem som, enquanto apontava para a trava da janela.

Atordoada, engoli em seco e abri a porta. Ele deu a volta e entrou no banco do motorista. Eu estava em choque, de olhos esbugalhados e voz presa na garganta.

Mr. Bratv Where stories live. Discover now