Capítulo 1 - Reese, Adam e DIOR

14.3K 630 159
                                    

Em minha defesa, ele não parece se importar muito com o que estou fazendo por debaixo da mesa. Seus ombros podem estar tensos e suas costas eretas demais, mas um sorriso permanece em seu rosto e os olhos não se perdem na conversa dos nossos pais. Adam se remexe, desconfortável, morde o lábio inferior quando Lyla, minha mãe, desvia o olhar e acrescenta algo na conversa sobre música retrô nada animadora. Pelo menos não é animador para mim. Muito menos para Adam.

Adam puxa a perna, e minha diversão temporária, vulgo afundar meu salto fino em seus dedos acaba. No mesmo instante penso em mil maneiras de fugir de jantares como esse, não sendo muito distante do que costumo pensar em todos os domingos entre o período de sete às dez da noite. Posso fingir desmaio, subir para o banheiro e não voltar mais, dizer que uma amiga terminou um relacionamento e está precisando do meu ombro amigo.

Qualquer coisa, menos continuar aqui. Com a família Lockwood e uma certa companhia desgradável. Claro, Jim Lockwood pode ser meio carrancudo, mas não é tão difícil de lidar. E Karen Lockwood, suas esposa vinte anos mais nova, é quase como uma caloura da faculdade que ama batom vermelho e rolinho primavera.

Os “pais” de Adam não são de todo mal, eles entretêm e divertem a minha mãe. Uma mulher meio solitária que não gosta muito das pessoas e não é boa em fazer amigos. Como uma boa filha, não puxei essas características introvertidas, e tenho uma festa para ir que é melhor do que qualquer conversa sobre música ou os filmes da década de oitenta. Por mais que eu ame filmes da década de oitenta.

Precisamos falar de Gatinhas e Gatões mais vezes… Ou Clube dos Cinco…

Sou pega de surpresa quando Adam esbarra na sua taça de vinho, estranhamente próxima demais da beirada da mesa, espalhando o líquido pela toalha e no meu vestido. Meu vestido prateado! Levanto, exasperada, deixando a cadeira tombar para trás, fazendo um barulho alto demais para ser verdade.

Assim como todos, Adam levanta, batendo os braços ao lado do corpo em uma falsa surpresa que não convence até os piores cinéfilos.

“Oh, Reese. Não vi a taça ali.” Mais traíra do que qualquer plot de livro de fantasia, ele diz. Pegando um dos guardanapos da mesa e tentando, inutilmente, limpar o meu vestido.

Em qualquer outro lugar, com quaisquer outras pessoas, eu simplesmente xingaria até a quinta geração de minis Lockwoods irritantes espalhadas pelo mundo, já que Adam é um cafajeste de carteirinha. Mas me contento em afastar a sua mão pegajosa, e apenas sorrir. Um sorriso forçado, tirado do fundo da minha alma da forma mais violenta possível. Adam percebe a minha irritação, e de costas para os nossos pais, ele dá um sorrisinho convencido.

“Você sabe que teria volta.” Ele sibila, mas mantenho a postura.

“Não tem problema, não é filha?” Minha mãe diz, sempre em defesa do menino que nunca teve. “Ele não fez por mal e você tem inúmeros vestidos lá em cima.” Ela dá de ombros, se aproximando para averiguar o estado da peça. Mentindo…

Observo o senhor Lockwood com as sobrancelhas meio franzidas, os olhos irritados designados ao filho mentiroso. Penso em gritar para Jim, dizer que deveria ter jogado Adam numa lixeira assim que nasceu. Mas seria idiotice e eu pareceria mais como uma criança birrenta, alguém que deveria ter sido jogada na lata de lixo depois do nascimento. Antes que eu continue pensando mais besteiras sobre crianças abandonadas e isso acabe fritando meu cérebro, dou de ombros.

Inabalavelmente abalável

“Tudo bem.” Cuspo as duas palavras como se estivesse cuspindo algum remédio horrível para dor de barriga. Amargo, meio quente, que deixa um gosto ruim na boca. “Tá tudo bem. Tudo bem. Tranquilo… Tudo bem. É só um vestido da Dior coleção primavera-verão 2018 que por acaso é uma das minhas coleções favoritas.” Continuo sorrindo enquanto digo rapidamente toda a informação completamente inútil para todos na sala de jantar.

Polos Opostos Where stories live. Discover now