Capítulo 39 - Impensável

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"Você está bem?"

A pergunta recai sem muito sentido no quarto. Não sei como respondê-la sem parecer grossa ou emotiva demais. Não sei como controlar esses dois extremos que me cercam desde quando Matt foi embora. Então não respondo, continuo concentrada em arrumar a minha bolsa ao mesmo tempo em que a expectativa bate na porta.

"Reese?" Daniel me chama novamente, então olho para ele. "Tem certeza disso?"

"Tenho."

Realmente tenho certeza de que é isso que quero agora? Depois de tudo o que aconteceu, depois de todas as discussões, confusões, violência, tenho certeza que quero arrecadar mais um trauma dessa maldita viagem!?

E se houver frustração? E se tudo acabar, de novo, comigo chorando em um banco de praça ou no canteiro da rua? E se o mundo decidir que a melhor forma de aprender é me ferrando um pouco mais até que eu desista de tudo. Matt desistiu, não foi? Ele desistiu de mim e da minha mãe, porque eu não posso desistir também?

Desistir de quê? Bom, ainda não sei.

Só me sinto meio cansada. Depois do episódio de ontem à noite, depois das barbaridades que vi e ouvi, não sei se esse é um bom lugar para se estar. Mas também não sei se sair daqui vai solucionar o que estou sentindo. Como as minhas esperanças estão baixas, o medo crescente de ser decepcionada está acabando lentamente comigo.

"Desculpa." Digo, sentindo meus olhos pesarem de sono.

"Pelo quê?" Ele pergunta, o corpo acanhado na minha cama desde tudo.

"Por não ficar com você. Por não ter estado com você."

"Não foi culpa sua."

"Não me sinto culpada." Esclareço. "Só não me sinto como deveria me sentir."

"Eu vou ficar bem, mas agora você precisa ir."

Aceno com a cabeça, saindo do quarto e vendo Adam inquieto no meio do corredor. Sem dizer nada ele avança para a saída, me deixando lentamente atrás dele. A escuridão da noite nos invade quando saímos do dormitório, andamos pela floresta e me arrepio cada vez que um galho estala sob os meus pés ou algum pássaro canta.

Fico para trás até ele se virar e apontar a lanterna para o meu rosto, fecho os olhos pela luz forte.

"Pensei que viria comigo." Adam diz.

"Estou indo com você."

"Não, você está ficando para trás. Como se não quisesse ir."

Ajeito a mochila nas minhas costas, andando até ele entre folhas e a terra batida. Pego a lanterna da sua mão contra a sua vontade, apontando para o seu rosto da mesma forma que ele fez, recebendo a mesma careta por conta da luz.

"Ou é você quem não quer mais me levar."

A luz ilumina o seu sorriso, "Se não fosse por mim você não teria ao menos saído do quarto."

Baixo a lanterna quando ela também começa a me incomodar, "O que está esperando, Adam?"

"Que comece a andar um pouco mais rápido!?"

"Não, o que está esperando de verdade?" O silêncio agora se faz presente, e tudo que consigo ouvir é a forma pesada que ele respira. "Que eu fale que você é um salvador, que está fazendo uma boa ação ou que eu diga obrigada?"

"Não estou esperando nada, não de você."

"Ah, pois eu espero muitas coisas de você. A primeira delas é que cumpra a sua promessa. A segunda, é que continue sendo um babaca enquanto cumpre o que veio fazer." Passo por ele. "Agora vamos."

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