Capítulo 38 - Eco de Salvação

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Uma mistura de batidas na porta ecoa pelo corredor extenso e me deixaria surpresa se quem está nos outros quartos não acordasse.

Caroline ao meu lado está desesperada, batendo na porta com as duas mãos prestes a derrubá-la. Ela está nitidamente nervosa assim como todas as outras animadoras atrás de mim. Ninguém sabe o que fazer, mas estão todas com raiva por eu não ter dito mais cedo o que aconteceu com Gina na entrada do dormitório.

Convenhamos que não havia nada para ser feito. Talvez ela quisesse apenas colocar pressão nas líderes de torcida antes do jogo, e se eu contasse as outras o que havia sido dito, isso iria nos desestabilizar logo após ganharmos uniformes novos. Como capitã, acho que tomei a decisão certa.

Mas toda a minha decisão se tornou errada quando aquilo aconteceu. Posso não ter medo de filmes de terror, e nunca tive, porém aquilo foi levemente assustador. Quando criança eu amava palhaços, e agora com dezessete anos nas costas passei a odiá-los de uma hora para outra.

Gina abre a porta, os olhos inchados e a cara amassada pelo sono. Não esperamos sermos convidadas, entramos no quarto como se o lugar fosse nosso como algum tipo de direito. Ela pisca confusa, dando passos para trás até cair sentada na cama bagunçada.

"O que estão fazendo?" Os olhos castanhos da garota examinam todas nós, confusa por ter acabado de acordar de uma forma nada convencional.

"Tome cuidado? Fique no seu quarto? Não saia do lado do treinador." Digo. "O que está acontecendo, Gina?"

Ela solta um suspiro exasperado, "Como vocês sabem disso?"

"Passar pela minha janela com máscaras de palhaços não foi muito sútil."

"Responda a pergunta!" Dylan ao meu lado, exige. "Amordaçaram o meu irmão e os meus amigos, que porra pensa que está fazendo!?"

"Não é culpa minha!" A garota se defende.

"Mas você sabe de algo." Concluo com obviedade. "Sabia que os seus amiguinhos estavam planejando algo e quis avisar."

"Pensei que eles poderiam envolver a sua equipe nisso, mas pelo visto não foi o que aconteceu."

"O tempo está passando, Gina." Dylan se aproxima, ela está totalmente o oposto de como estava no nosso quarto. Dylan está brava, muito brava. E nem as diferenças notáveis com o seu irmão a impediu de sentir isso. "Responda a pergunta."

"Tem um trote de iniciação quando os calouros entram no internato. Ah, merda..." Sua expressão é de nojo. "Tanto para as meninas como para os meninos."

"Gina..." Alerto, começando a ficar impaciente.

"Os veteranos levam os calouros para um galpão na floresta, os fazem beber...essa parte é nojenta."

"Tudo é nojento aqui." Esclareço. "Tudo."

"Os veteranos fazem os calouros beberem o xixi deles e depois os fazem passar pelo corredor da morte."

Uma das minhas se afasta, vomitando em um cesto de roupa que espero que esteja limpas.

"Eles espancam os calouros, e quem pedir para sair do internato, segundo eles, são fracos. Os que ficam, passam na iniciação."

"Com os garotos já é horrível, mas também fazem isso com as garotas?" Caroline questiona, enojada como todo mundo aqui.

"Tirando a primeira parte, sim. A diferença é que são as veteranas que fazem isso."

"Você passou por isso?" Pergunto, não conseguindo ficar chocada o suficiente com o que acabei de ouvir.

Não sou a melhor pessoa para falar sobre isso, falar sobre a violência. Muitas vezes recorri a ela para aliviar a raiva ou o rancor que eu estava sentindo. Mas isso...isso é desumano. Como as pessoas podem ser tão cruéis umas com as outras? Como a crueldade pode acontecer com outrem da sua própria espécie mesmo que não seja algum tipo de violência física!?

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