Capítulo 19 - Velhos Hábitos

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Quando uma ação começa a ser repetida várias e várias vezes, ela acaba se tornando um hábito. E hábitos são difíceis de mudar, de contorná-los e moldá-los para algo melhor. Mas não faço isso por mal, é apenas aquela velha curiosidade circulando pela minha mente. Então quando subi para o segundo andar à procura de Adam e Tracy, não sabia que me esgueirar pelo corredor e ouvir atrás da porta havia se tornado um hábito.

Não até agora.

Dylan costumava me dizer que quando o pai e o irmão brigavam, ela colocava os fones de ouvido e aumentava Kate Bush o máximo que podia. Eu poderia ter feito isso quando os meus pais brigavam, eu poderia ter feito isso quando eles quase se mataram na beira da estrada para Hill Davis. Mas eu tinha medo. Eu sempre tive medo. Eu sentava no pé da escada escura e observava a discussão, mesmo que depois eu soubesse que iria me esquecer dela por puro extinto de proteção. Eles não me viam. Porém eu conseguia vê-los e ouvi-los perfeitamente.

Acabou se tornando um hábito por ter medo de que acontecesse algo mais além de arremessos de copos. E aconteceu. Mas não posso justificar o que estou fazendo atrás dessa porta com aquele medo, aquilo era diferente, contexto diferente, o que estou fazendo aqui é pura e crua curiosidade.

Mesmo que eu tenha exigido que Adam não mentisse, eu sei que ele mentiu. Não sobre tudo, é claro. Mas a parte do lance de verão foi obviamente mal contada, e estou louca para saber da verdade. É como se eu precisasse disso para poder respirar, para que a dor de cabeça crescente comece a amenizar. Adam e Tracy tiveram bem mais do que apenas um caso de fim de verão, e não foram os tons de vozes altos que me fizeram ter noção disso.

Estou prestes a sair, a me envergonhar e pedir outro martini lá embaixo. Contudo, Adam não colabora quando diz:

"Eu disse que te amava e você fugiu!" Pela fresta da porta, consigo ver apenas os seus braços se movendo. Ele parece estar exaltado, e não é preciso vê-lo para que eu acredite nisso.

Meu coração gela quando fico mais próxima da porta, me condenando por estar fazendo isso. Eu não deveria... É errado! Não faz parte da minha nova conduta sem impulsividade e escolhas estúpidas. Eu deveria dar a volta, mandar uma mensagem para Adam e esperá-lo lá embaixo. Eu deveria. Eu deveria. Eu deveria. Eu deveria... Bom, mas por um lado, só se vive uma vez, não é mesmo!? E quem mais vai contar essa história a não ser eu mesma?

"Eu fugi!?" Tracy usa o mesmo tom, indignada com o que foi dito. "Foi você que correu de volta para Hill Davis sem nenhuma explicação!"

"Você não me respondeu!"

"Eu pedi um tempo, eu não fugi. Eu precisava pensar um pouco sobre o que tinha acontecido."

"Precisava de um tempo!? Era só dizer de volta!" Adam aparenta não acreditar nisso, e por alguns segundos consigo observá-lo pela pequena abertura da porta; passando as mãos no rosto e voltando para onde estava antes.

"Não dava!"

"Por que?"

"Porque não dá pra amar uma pessoa em um mês, Adam! Não dá!" Ela retruca.

"Eu te amei!"

"Não! Não foi o que aconteceu! Era mais fácil dizer que me amava do que admitir que você gostava de outra pessoa. Foi isso que aconteceu!"

"Do que você está falando!?" Ele parece confuso.

No que estamos embarcando agora?

"Você sabe de quem eu estou falando." O tom de voz de Tracy diminui, e o silêncio surge no cômodo que aparenta ser uma biblioteca.

Polos Opostos Where stories live. Discover now