Capítulo 15 - Reparações

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Evelyn Lockwood estava morrendo de câncer de pulmão, mas nunca deixou de fumar no seu quarto de hospital. Uma atitude de quem já sabia que não teria para onde correr, para onde se esconder. O destino estava bem ali, escancarado na sua cara e para toda a sua família.

Jim não parou em casa nem por um segundo durante aquele tempo conturbado. A empresa de arquitetura da família ia bem, muitíssimo bem depois de fechar contrato com a imobiliária dos meus pais. Porém, por conta do trabalho, ele foi ausente até na morte da esposa, e não seria diferente agora com os filhos. Dylan tinha as suas próprias questões naqueles tempos, então resolveu que aquela era a sua rota de fuga. Porém, com Adam era diferente. Por mais que hoje em dia as coisas estejam melhores, antigamente a sua impulsividade e conduta violenta ultrapassava todos os limites.

Ele não lidou bem com aquilo. Ele não lidou bem com o fato de que a mãe iria morrer e nada poderia impedir. O que é compreensível. Desde aquela época, Adam não tinha uma boa relação com o pai, e a mãe era a única pessoa (além de Dylan) que ainda o mantia na linha. Todas as noites eu ia dormir com alguma briga no andar de baixo juntamente com discussões na casa ao lado. Adam não facilitou as coisas para a mãe. E escondida no pé da escada quando era mais nova, já ouvi (em conversas de fim de noite entre Jim e Lyla) que o filho mais velho tornou tudo pior.

Mas a questão era que Adam deveria ter uns quatorze anos na época, literalmente uma criança, não era sua culpa. Ele não sabia o que estava fazendo, não sabia o que causava na própria família. Eu sabia. Eu sei. E ter usado esse argumento para atormentá-lo pode ter sido um erro irreparável. Foi um erro irreparável.

Estou me sentindo envergonhada. Estou com raiva. Com raiva de tudo e qualquer um. E principalmente, de mim mesma. Essa atitude impulsiva quase me fez bater em outra lixeira. A verdade é que quando o pneu do ônibus foi consertado, eu ainda estava naquela expectativa de realmente estarmos em um filme de terror e que eu seria a primeira a ser morta.

Adam não olhou na minha cara desde a discussão, o que eu entendo, mas também não consigo deixar as suas mentiras para trás. Posso ter dito coisas ruins, porém ele também fez o mesmo. Não posso ignorar minhas dores para fazer as dele maiores. Eu me arrependo, me arrependo por cada palavra e por cada gatilho que disparei. Mas não sei se ele se arrepende de ter espalhado tantas falsidades. A sua convicção ao falar sobre o meu pai fazia tudo parecer real, apenas parecer, porquê não é.

Existe um motivo. Algo que ainda não descobri. Algo que ainda posso descobrir sobre o seu sumiço. Sim, eu sei que ele simplesmente pegou o carro e nunca mais voltou. Mas há algo em volta dessa ação, algo de poder maior, ele nunca faria isso. Eu conheço Matt Ransom o suficiente, conheço a sua índole, sei o que ele faria e o que não faria. Eu sei. Apenas preciso concertar as coisas com Adam para que eu possa me afundar de vez nisso.

Coloco os pompons para baixo quando a música acaba, andando de volta para a beirada do campo enquanto as outras líderes animam a torcida. Tudo isso acabou se tornando tão deprimente... Eu adoro dançar, fiz ginástica durante boa parte da minha infância e adolescência, ser capitã desse grupo deveria me deixar mais animada. Mas as coisas com Adam vem tomando um espaço na minha vida maior do que eu havia pensado e a fala do treinador ainda está pesando na minha cabeça. São tantas coisas para pensar que esqueço do que realmente vim fazer neste campeonato.

São muitas portas abertas.

Observo Adam de longe, correndo pelo campo. Berrando para os outros garotos por algum passe errado ou xingando pelo outro time ter marcado ponto. Ele parece estar com raiva. Com raiva de mim. Em qualquer outra situação em que ele estivesse carregando essa raiva pela minha pessoa, eu não me importaria assim como ele não se importaria se eu tivesse sentindo o mesmo. Porém as coisas ficaram sérias demais em apenas alguns minutos de conversa.

Polos Opostos Where stories live. Discover now