Capítulo 34 - Não Proposta

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Já faz algum tempo que não durmo direito. Não existem razões específicas para isso, na verdade é uma mistura de todas essas razões. Os ensaios que tenho feito com as meninas em locais não apropriados, as camas com colchões ruins, as dúvidas incessantes, a alimentação meia boca e os travesseiros desconfortáveis.

Confesso que algo mudou essa noite, que a cama não está tão ruim quanto as outras e o travesseiro mais parece uma nuvem fofinha e confortável. Eu me sinto confortável. O que é estranho já que os hotéis baratos me acordam com músicas ruins ou com a luz do sol entrando pela janela. Não há nada de agradável em ser acordada pela luz do sol, na verdade é mais horrível do que não conseguir desligar o despertador antes de ir para a escola.

Escola...bom, não sinto tanto a sua falta quanto eu achava que iria sentir.

Meus olhos estão fechados, mas agora estou mais lúcida. Estou acordada e meu travesseiro se move, lentamente para cima e para baixo. Como a respiração de quem está tendo o melhor sono da sua vida. Um pouco atordoada, abro os olhos, mas a mão espalmada no meu quadril faz com que eu desista dessa ideia mais rápido do que quando a pensei.

Ergo a cabeça, olhando para Adam que está completamente e inteiramente perto demais. Sinto o seu corpo quase embaixo do meu, e ele parece tranquilo, como se eu pesasse uma pena, o que não é bem verdade. Encaro o seu rosto sereno, a boca entreaberta e os cílios compridos. Não há sarcasmo ou deboche, raiva ou impulsividade, não há nada. É apenas Adam da forma mais vulnerável, mais desprotegida possível.

É apenas o Adam. O garoto que odeio desde que me entendo por gente. Aquele que puxava o meu cabelo e supostamente sumiu com o meu gato quando sequestrei o seu cachorro. Aquele que derramou bebida no meu vestido e se safou como se não fosse culpado. Aquele que é mais filho da minha mãe do que eu, a filha biológica. Aquele que me insulta, que é um completo babaca quando termino de ajudá-lo. Aquele que diz coisas bonitas para logo depois dizer que não é nada de especial.

Esse é o Adam, mas por que não consigo ver nada disso?

O meu lado da cama é mínimo, mas dá para perceber que fui eu quem o procurou durante o tempo em que dormimos. Estou o fazendo de travesseiro, com a mão em seu peito acompanhando a sua respiração. Uma das minhas pernas entre as suas. E é provável que durante a noite a blusa tenha subido, ajudando que não tenha entre a sua mão e o meu quadril.

Meu coração dispara, mas respiro fundo, tentando me acalmar. Tenho medo que ele ouça as batidas incessantes do meu coração e acabe acordando. Sei que dá para perceber que está em um sono profundo, daqueles que te fazem perder o primeiro tempo de aula. Adam não vai acordar só porque o meu coração está batendo mais forte do que deveria, mas ainda sim sinto o medo idiota correndo em minhas veias.

Adam se remexe e algumas batidas na porta são o suficiente para me assustar. O meu susto se torna o seu susto, então quando o encaro ele já está me olhando.

"Bom dia, moranguinho." Adam observa a nossa posição entrelaçada na cama, sobe a mão e baixa a minha/sua blusa, voltando a pousar a mão em meu quadril, mas agora há uma barreira entre nós.

"Tem alguém na porta." Digo, apreensiva como se estivéssemos fazendo algo errado.

E algo me diz que estamos.

"Não vamos viajar hoje, então relaxa." Seus olhos voltam a se fechar.

Sacudo a mão em seu peito, vendo-o resmungar, "Atende!"

"Atende você."

"Esse quarto não é meu!"

Estamos em uma briga de sussurradores.

Polos Opostos Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang