Capítulo 45 - Sozinha

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Estive mais vezes em um hospital dentro de vinte e cinco dias do que estivesse em toda a minha vida, mas nenhuma delas me pareceu tão sufocante quanto esta.

Sinto o gosto de ferrugem na minha boca, o gosto de sangue. Não foi pelo tapa que agora está doendo e próximo de deixar um hematoma. E sim por eu ter mordido os meus lábios até sentir o gosto do líquido vermelho novamente. Sei que prometi que nunca mais faria isso, mas estou apavorada. Estou cansada e me sinto extremamente culpada.

Quando pensei que tudo estava fluindo bem, algo veio para atrapalhar. Pensei que fosse algo ou uma pessoa externa que faria isso, até me dar conta que não existe nenhum culpado a não ser eu. Estava com raiva, muita raiva por tudo que aquele internato fez com os meus amigos. Estava com raiva pelo que Derek disse para Daniel, que depois me contou sobre o que aquele babaca havia lhe chamado, estava com raiva por não poder contar tudo a Dylan por saber que a perderia. Estava com raiva pelo Matt que insiste em se manter grudado no meu sapato. Estava com raiva de tudo e de todos. Estava com raiva de mim.

Exceto de Adam.

Assimilar isso foi uma surpresa. Não incluí-lo no meu ódio me deixou abismada por uma eternidade. Foi estranho assim como nós dois somos. Foi e é uma novidade bem vinda, mas ainda não me sinto inteiramente bem com isso após ouvir o que o médico disse.

A raiva é substituída por culpa, a culpa foi moldada pela raiva até que estou assim: desolada. Não há nada nesse mundo que vá me fazer feliz depois de tudo isso. Bom, voltar ao passado e não ter quebrado aquele troféu na cara de Derek poderia me fazer feliz, além de que consertaria tudo isso.

"Não há nada que você possa fazer?" Pergunto.

O cirurgião nega com a cabeça, "Eu sinto muito." Ele se afasta, os olhos cansados como os de quem já está trabalhando por horas.

"Eu quero ver ele." Digo para ninguém em específico.

"Não acha que já fez o suficiente?" Jim questiona, sentado em uma das cadeiras da sala de espera.

"O quê?"

Ele levanta, "Não acha que já fez o suficiente para o meu filho, Reese?"

Seu tom sobe. Eu me enfureço.

"Seu filho!?" Quase acho graça na sua cara. "Aquele que você abandonou emocionalmente e que acha um idiota problemático? É esse o seu filho?"

Jim se aproxima como se estivesse pronto para passar por cima de mim, chega perto, aponta um dedo na minha cara e vejo seu rosto ficar vermelho pela fúria que lhe toma.

"Primeiro você vai falar baixo quando se dirigir a mim, entendeu?" Engulo a seco, sentindo os cacos de vidro arranharem a minha garganta. "Você bateu primeiro, Reese. Você foi procurar uma briga que não precisava ser achada. Foi você! Mas é o Adam quem fraturou a perna e não vai poder mais jogar. Ele sofreu as consequências das suas ações. Das ações de uma menina tola que acha que pode resolver tudo, quando na verdade, está fazendo cada vez mais merda com a própria vida e com a vida dos outros. Você acha que vai ser aceita na faculdade depois de tudo isso? Acha que o Adam vai conseguir voltar a jogar? Então eu te pergunto: já não fez o suficiente?"

Sinto as lágrimas queimarem os meus olhos, meu nariz arder e meu corpo pedir por descanso.

"Eu sinto muito." Pedir desculpas não resolve nada, mas não tenho o que dizer. Tudo desceu junto com os cacos, cada palavra, cada argumento. Agora sobe uma vontade de vomitar recheada de culpa. A culpa é minha. Eu causei isso. Eu já fiz o suficiente.

"Isso não resolve as coisas, você mais do que ninguém deveria saber disso." Jim se afasta, o ar volta a circular. "Agora eu vou ver o meu filho, e você trate de sumir da minha vista."

Polos Opostos Where stories live. Discover now