Capítulo 11 - Encurralados e Conflitantes

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Quando se tem dezessete anos, tudo pode dar certo na mesma intensidade que pode dar errado. Isso tem muita relação com a impulsividade pulsante em nossas veias. Somos impulsivos porque somos burros. Por isso que péssimas decisões nos levam a situações como essa, com o barulho das sirenes dos carros de polícia me fazendo cuspir todo o álcool quase ingerido a segundos atrás e me lembrar que sou incrivelmente burra de ter aceitado vir até aqui.

Me separei por apenas alguns instantes dos meus amigos para recuperar o fôlego antes de voltar para a "pista de dança". A casa desconhecida me confunde, não consigo encontrar a saída, principalmente com tantas pessoas correndo de um lado para o outro. Eles parecem confusos, igualmente desesperados. Todos com o mesmo objetivo nas mentes que fervem pela bebida: impedir que os seus responsáveis tenham que buscá-los na cadeia. O que eu penso não é muito diferente, porém é muito pior. Tenho mais coisas a perder além de ganhar mais sermões da minha mãe e uma bela bronca do treinador. E claro, voltar para Hill Davis contra a minha vontade.

Sou empurrada de um lado para o outro, e mesmo assim não consigo sair do lugar. De repente, alguém que mais parece uma muralha feita de pedras passa tão rápido por mim que tombo para o lado e tropeçar no carpete meio solto faz com que eu vá de encontro com o chão. Me sinto como uma criança perdida, incapaz de conseguir levantar. O toque do meu celular se confunde com a música ainda alta e o pessoal desesperado. Talvez seja Dylan, Daniel, talvez seja a minha mãe e por uma fração de segundos quase atendo.

Contudo, desisti da ideia desajustada quando alguém pisa no meu tornozelo. Essa vai ser a minha morte. O trágico falecimento de uma adolescente moradora de Hill Davis, pisoteada em uma festa em outra cidade que nem parecia estar tão cheia assim e recheada de ilegalidades. Penso em quem iria no meu funeral. Se a minha mãe se afundaria ainda mais em um poço que ela mesma cavou ou se meu pai voltaria de alguma forma.

Quem da escola apareceria? As líderes de torcida diriam que a antiga capitã era rígida, porém muito boa? Quanto tempo demoraria para Dylan e Daniel se recuperarem? Uma semana? Um mês? Um ano? Tenho certeza que Karen ficaria com raiva de mim e eu ficaria com raiva por não poder ver a sua bebezinha. Uma menina... Kate? Elle? Marie? Gabbi? Veronica? E ainda tem Adam. Será que ele iria no meu enterro ou ainda me odiaria até mesmo na morte?

A resposta vem mais rápido do que eu imaginava, com mãos familiares me puxando pelos braços para me colocar de pé. Me sinto como uma garotinha indefesa precisando da ajuda, por isso a vergonha faz meu rosto ferver.

"Você está bem?" Ouço a voz de Adam firme e preocupada no meio do tumulto.

"Sim."

Meu tornozelo dói um pouco, mas não é nada que eu não possa aguentar.

"Eu vou tirar você daqui, está bem?"

Aceno com a cabeça ao mesmo tempo em que ele passa o braço pelas minhas costas, atônita demais para recusar o gesto. Adam me protege com o próprio corpo quando os adolescentes começam a retornar do lugar que eu acho ser a saída. Isso significa que já deve ter policiais por lá. Ouço Adam murmurar um pouco de dor quando um cara alto demais quase nos derrubou, com ele me segurando cada vez mais forte contra o seu corpo.

Desisto de tentar adiar o inevitável, passando um braço ao redor da cintura dele e usando a mão para apertar a sua camisa e puxá-lo para o que eu acho ser a cozinha. O lugar está vazio enquanto a confusão reina lá fora, mas Adam não afrouxa o aperto nem por um segundo. A porta da cozinha, que dá acesso aos fundos da casa está escancarada, então seguimos nessa direção. O cheiro de mar nos atinge com tanta força quanto o cheiro de vômito.

Recuamos um pouco quando um cara sai dos arbustos após colocar as tripas para fora, ele está sorrindo, tão chapado que talvez nem saiba o que realmente está acontecendo dentro ou fora da casa. O garoto abre os braços, com cada mão carregando bebidas diferentes.

Polos Opostos Where stories live. Discover now