Capítulo 5 - Muitas Portas Abertas

4.7K 494 145
                                    

Situações bem controladas, resolvidas com direito a um ponto final faz a Reese Ransom dormir melhor durante a noite. E sim, é patético falar de si mesmo na terceira pessoa. E não, não estou dormindo tranquila. Na real, são seis e às vezes sete horas de sono que se passam em uma completa escuridão, em um vazio de inquietações. Tanto por esse campeonato que ainda é uma ideia distante para mim, como Colin e em que estado nós estamos.

Sinto que ele merece mais do que fingir ouvi-lo e alguns momentos meia boca, que sinceramente, não gosto muito. Meu namorado/ex namorado merece uma conversa de verdade, uma explicação clara tanto para mim como para ele. Isso ajudaria com o sono desregulado e a memória meio fraca. A ideia de conversar com Colin pode abrir uma nova porta dentro da minha cabeça cheia de portas escancaradas e barulhentas. Talvez seja por isso, por muitas portas abertas, que costumo pensar demais e falar demais quando estou nervosa.

Um calor repentino me ronda enquanto caminho por uma passagem estreita de pedrinhas, entre dois jardins mal cuidados com flores envelhecidas rápido demais. Esse calor é como sentir a mão de Adam perto da minha coxa, acolhedora e preocupada. Quentinha como um cobertor fofinho em uma noite de chuva. Aquilo foi estranho, estranho até para nós dois. Quando éramos crianças ele costumava puxar o meu cabelo, me empurrar na grama do parque ou tomar brinquedos da minha mão.

Porém, ao longo dos anos, quando entramos na adolescência, estabelecemos inconscientemente uma distância de no mínimo trinta centímetros um do outro. Começou a ser algo mais verbal. Uma pirraça, insultos e farpas compreensíveis. Mas nos últimos meses, só nos falamos em jantares aos domingos ou quando nos encontramos no campo da escola. Foi estranho porque Adam nunca mais havia me tocado, não daquele jeito...

Bato três vezes na porta com a tinta amarela descascada. E não demora muito para ela ser aberta, e um Colin de pijamas aparecer na minha frente.

"Reese?" Ele ajeita a postura, parecendo surpreso.

"É, eu sei. Nunca estive desse lado da cidade, mas talvez você me veja aqui em breve. Não aqui, aqui, na sua casa ou regando as suas plantinhas murchas. Mas por aqui, sabe?"

Muitas portas abertas.

Lembro dos meus vestidos de marca sendo vendidos por valores absurdamente baixos em relação ao seu verdadeiro preço, e como a minha mãe insiste na mentira de que ainda tenho várias peças igualmente caríssimas no andar de cima. Ela não quer admitir para os nossos vizinhos que estamos à beira de um colapso financeiro e que é bem provável que ela não esteja se importando com isso. Penso na minha poupança para a faculdade, mas balanço a cabeça em negação, apenas um problema por vez.

"Deixa pra lá. Posso entrar?"

Ele abre espaço para que eu entre, uma sala pequena colada em uma mini cozinha com cheiro de cerveja me aguarda. Nunca havia estado aqui em meses de relacionamento e isso é surpreendente de uma forma extremamente negativa. Nossos encontros eram sempre em festas de conhecidos ou em alguma lanchonete, nunca na sua ou na minha casa. Não havia família envolvida ou um pedido real por monogamia. Fomos um laço tão mal dado que acabamos nos soltando no meio do caminho.

"Você sabe o motivo de eu estar aqui." Começo.

"É eu sei." Colin sorri malicioso, e daqui consigo sentir seu hálito de cerveja.

Demoro um pouco para perceber que já estou deitada em um sofá, algumas almofadas confortáveis apoiando o meu corpo, mas não estou nada confortável. Colin beija o meu pescoço enquanto a sua mão tenta se intrometer entre as minhas pernas. Minha mão direita pressiona o seu peito inutilmente para longe, com a outra segurando o seu punho lá embaixo. Não quero que isso aconteça, não foi por isso que eu pedi um carro até aqui. Mas foi burrice achar que poderia conversar normalmente com ele.

Polos Opostos Where stories live. Discover now