Capítulo 8 - Aplaudida de Pé

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Adam parece mais confortável quando finalmente coloca as mãos no volante do jipe vermelho. Seus ombros relaxam de verdade pela primeira vez desde o início da viagem e um sorriso ladino enfeita os seus lábios. Bate um certo arrependimento por ter dirigido o carro sem a sua "autorização", mas eu não podia deixar ele mandar em mim como se tivesse direito de fazer isso.

Por um momento lembro de Evelyn, do que ela pensaria sobre isso. Mas não consigo saber. Tudo que sei é o que ela pensava sobre nós dois; correndo pelo quintal com arminhas de brinquedo em mãos, afundando a cara um do outro na terra ou tirando as bóias da piscina quando o outro entrava nela (isso fui eu) na esperança de um afogamento repentino.

"Não quero incentivar nada, e nem sei se consigo fazer isso, mas eu gosto de vocês juntos. Talvez mais tarde, quando estiverem mais velhos, maduros, comecem a perceber que o ódio e o amor são duas linhas fáceis de se cruzarem. Quem sabe um dia vocês cheguem lá, e eu estarei sorrindo e dizendo que avisei."

Foi isso que ela me disse quando eu tinha treze anos de idade. Respondi que essa linha nunca se cruzaria, e hoje ela não está mais aqui para saber o quão estava completamente errada.

Quando passo para o banco de trás, dispenso todas as lembranças repentinas. Lembrar dela me deixa triste na mesma intensidade que me deixa feliz. Gosto de saber que não esqueci do formato do seu rosto ou do tom da sua voz. Mas não quero saborear o gosto amargo que é saber que nunca mais irei vê-la ou ouvi-la de novo.

"O que está fazendo?" Adam me olha por cima do ombro enquanto abro minhas malas no banco de trás.

Vasculho as peças de roupas sem respondê-lo, e quando finalmente acho meu uniforme vermelho e azul (uma combinação irritante) sorrio. Já estamos em North Myrtle Beach o jogo já começou, mas a Hill Davis só se apresenta no próximo intervalo que é daqui a dez minutos. Se eu me esforçar, se Adam manter a velocidade, conseguiremos chegar a tempo do primeiro jogo.

"Estou me preparando para a minha apresentação, Adam." Finalmente respondo ao mesmo tempo em que retiro minha blusa.

Pelo retrovisor, vejo o olhar de Adam se arregalar e o carro dar uma leve brecada, pedindo marcha. Ele desvia o olhar, e volta a focar na direção, subitamente calado.

"O gato comeu a sua língua?" Pergunto, me divertindo pela primeira vez neste dia, com a sua reação.

É difícil eu estar nesta posição. Sorrindo presunçosa com alguma atitude minha que o deixou... envergonhado? Sempre sou eu quem desvia o olhar ou me encolho pelas falas que às vezes vão além do que realmente deveriam. Então aproveito essa raridade deliciosa.

"Só fiquei um pouco surpreso, Baratinha. Mas se quiser, posso ajudar com o fecho do sutiã ou com a barra da saia. Na verdade, eu acho ela comprida demais." Ele informa. " Não valoriza, não como deveria, a sua bela cintura."

Um leve rubor quebra a minha postura, mas não demonstro. Eu acho. Coloco a peça de cima, sem mangas e meio curta. O uniforme é antigo, a escola prefere investir "em algo que trará mais resultados para a Hill Davis", assim como foi dito pela diretoria quando me humilhei por uniformes novos; mas decidiram, pela terceira vez no ano, comprar novas peças para os times de basquete e futebol. O que me fez usar uma serra de forma suspeita na aula de carpintaria naquele dia.

"Irei ficar com o meu sutiã, obrigada." Respondo, cínica. E pelo retrovisor vejo ele sorrir.

"De nada. Mas nunca esqueça que eu sempre estarei aqui em momentos como esse. Se sentir alguma dificuldade para tirar a cal..."

"Cala a boca." Me aproximo do seu banco, como se pedisse algum favor.

Desajeitada, tiro a calça e só lembro dos sapatos quando eles ficam enganchados no jeans. Adam mantém a velocidade enquanto troco de roupa, a sua presunção voltou com força total, mas é impagável a sua reação de apenas alguns míseros segundos atrás.

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