Capítulo 44 - Faísca e Pólvora

2.5K 239 113
                                    


Um milhão de cenários possíveis passam pela minha cabeça em menos de um segundo em meio a um vacilo e um ponto marcado pelo time rival. Xingo mais do que deveria por isso. Estou nervosa e animada ao mesmo tempo. Sei que perder esse jogo é mais do que uma questão de ego, e sim quase uma questão de justiça.

O recesso de quatro dias não foi o suficiente para acalmar o meu coração sobre o que aconteceu com os garotos do time naquele galpão. Aquilo foi a coisa mais nojenta que já escutei e vi em toda a minha vida, e olha que já vi e ouvi bastante coisa.

Nem os belos passes que Adam está dando para os companheiros de time está sendo o suficiente para eles mudarem o placar. Mas isso não parece deixar, pelo menos o capitão, abalado. Pensei que a essa altura do campeonato ele já estaria gritando para os quatro cantos do mundo e brigando com os outros jogadores. Porém não é bem isso que está acontecendo. Mesmo com a diferença de placar, Adam está feliz. Fluindo com o time com mais leveza apesar da enorme pancada que ele tenha acabado de dar no jogador rival.

A plateia na arquibancada murmura como se eles tivessem sentindo a dor, e faço uma careta também. Aquilo foi, como de costume para o Lockwood, violento. Alguns jogadores de Hilton Head Island reclamam, empurrando Adam que retribui a provocação com outra provocação e abre um sorriso. Mesmo de longe, ainda me derreto, percebendo os efeitos que ele causa no meu corpo.

Não consegui contar para ninguém, além da pessoa que estava no quarto ao lado, sobre a nossa noite naquele hotel. Savannah, uma cidade qualquer e nem tão interessante assim, apesar de tudo, acabou se tornando o lugar perfeito de uma hora para outra. Minha barriga ainda se revira, de um jeito engraçadinho e nada ruim, com as lembranças da noite que não saem da minha cabeça. Aquilo foi...intenso. Lidar com Adam, e com todas as formas e façanhas dele, me deixou literalmente sem ar.

Não conversamos sobre em que ponto estamos agora, acho que não deu tempo por conta da final do campeonato. Bom, não sei se realmente precisamos conversar. Nós já conversamos. Mas há sempre uma necessidade de reforçar o que temos, ou como a minha cabeça turbulenta insiste em chamar, o que eu acho que temos.

Estamos namorando, certo? Adam Lockwood, aquele que possivelmente sumiu com o meu gato de estimação, puxava o meu rabo de cavalo, tentava me afogar na piscina, não isso foi eu, é meu namorado? Como saímos disso para isso? Nós vamos durar? Seremos para sempre? Ou assim que voltarmos para Hill Davis tudo vai acabar como se não tivesse existido.

O jogo vai para mais um intervalo, e é a vez das líderes de torcida rivais se apresentarem. Não consigo nem ao menos olhar para a cara da Gina nesse momento, ainda me recordo de tudo que ela deixou passar, de todos os traumas que ela possa ter ajudado a construir na cabeça de vários adolescentes. Então me afasto mais ainda da beirada do campo, me escorando na lateral da arquibancada como um ponto de apoio para o meu corpo.

Observando os jogadores, encontro Adam em meio aos uniformes azuis e vermelhos. Ele está distraído, olhando em volta como se procurasse a coisa mais importante do mundo. Aí seus olhos pousam em mim, então ele sorri. Não é como o sorriso que foi dado para os jogadores do outro time. É um sorriso diferente. Aquele sorriso fechado, que ainda sim transmite um milhão de pensamentos e sentimentos. Um tipo de sorriso que não é necessário mostrar os dentes para parecer real.

Eu gosto desse sorriso.

Eu gosto de Adam.

Gosto de Adam Lockwood e isso é terrível.

Adam anda apressado na minha direção, dá indícios de que quer fazer algo mais do que conversar então dou um passo para trás. A sua postura muda, ele ergue uma sobrancelha sem dizer nada.

Polos Opostos Where stories live. Discover now