Capítulo 12 - Inconstante

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Sempre fui alguém bastante sociável. Nos trabalhos de escola sempre tomava a frente, sempre na liderança e a minha palavra decidia como as coisas seriam no final. Não é diferente dentro das líderes de torcida, e esse meu jeito razoável de lidar com as coisas faz com que eu seja um pouquinho odiada. A verdade é que, mesmo conhecendo tantas pessoas, eu nunca tive realmente amigos. Não até Dylan e Daniel entrarem de vez na minha vida.

Dylan sempre foi a minha vizinha, sempre nos encontrávamos nos jantares de família ou nos churrascos de quatro de julho. Mas foi somente depois que ela começou a transição que criamos um laço afetivo uma pela outra. É por isso que meu coração para de martelar e começa a derreter em meu peito quando sinto que ela está perto, bem e segura. Abraço o seu corpo magro, encostando a cabeça em seu ombro e sentindo o seu cheiro de lírios.

"Não pude encontrar você, Reese." Sua voz sai chorosa, seu aperto não afrouxa nem por um segundo. "Eram tantas pessoas, e eu... De onde saiu tantas pessoas!?"

Sorrio por ter pensado quase a mesma coisa, agora olhando para o seu rosto vermelho pelas lágrimas que não querem cair. Eu sei que sou a número um na sua lista de coisas/pessoas favoritas, eu sei. E nem é preciso uma declaração formal para que eu tenha ciência disso.

"Você está bem?" Daniel praticamente me toma para si, segura o meu rosto e examina cada parte visível do meu corpo.

Aceno com a cabeça, como um sim. Se houver mais alguns segundos de demora, ele irá me levar para o hospital mais próximo e jurar que tive um traumatismo craniano. Daniel me abraça como se eu fosse um bebê, como se pudesse me livrar de todo o mal do mundo. Passo mais tempo do que o normal com a cabeça encostada em seu peito, realmente me sentindo segura.

"Nunca mais faremos isso, ok?" Esclareço, olhando para os dois. "Não em uma cidade que nem conhecemos. Ok?"

"Ok." Os dois respondem juntos, como soldadinhos.

Um pouco mais para trás, observo Cal com o rosto preocupado e um sorriso franzino.

"Que bom que está bem." Ele aperta levemente o meu ombro, o celular ligado na outra mão e o peito levemente ofegante.

Estamos na praia, afastados da casa de Eleanor e daquela confusão que não parecia ter fim. O vento gelado causa arrepios nas minhas pernas nuas e desejei ter saído com uma jaqueta maior e mais grossa. A areia que afunda os meus sapatos é branquinha e o som das ondas do mar quebrando é satisfatório e bonito. A praia de Surfside Beach é linda, parece aconchegante, principalmente durante a noite. Em outra situação, eu aproveitaria essa noite de uma forma mais tranquila.

"De acordo com o Google, tem uma lanchonete a alguns quarteirões. Eu estou morrendo de fome, e vocês?" Dylan propõe.

"Por mim tudo bem. Reese?" Daniel diz, e no mesmo instante minha barriga ronca, fazendo com que eu concorde com a ideia. "Cal?"

Cal hesita, ainda distante e preocupado.

"Tudo bem." Ele responde.

Andamos por um tempo, em uma conversa amigável entre os meus amigos e Cal um pouco mais a frente, a cara enfiada no celular e tentando fazer ligações que acabam sem nenhum resultado. Minha mente divaga até Adam, na conversa/briga que tivemos na casa da árvore caindo aos pedaços. Aquilo me deixou irritada, irritada na mesma intensidade que me deixou confusa. Adam e suas perguntas, Adam e seu jeito, Adam e a sua postura, Adam e as suas ações...

Ele me tirou daquela casa, foi machucado para que eu não me machucasse, como se eu fosse a coisa mais importante da sua vida. Como se valesse a pena passar por aquilo para que eu ficasse segura. Eu vou tirar você daqui, está bem? Por um momento estava tudo bem, mas depois tudo ficou nublado para nós dois. Adam assumiu que não era um cara legal, Adam assumiu que machuca as pessoas. Machuca pessoas como o pobre Cal e simplesmente esquece da existência da própria irmã.

Polos Opostos Where stories live. Discover now