Capítulo 6 - Inteiramente Idiota

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Não penso muito quando pego um taco de beisebol no porta guarda-chuva, que tem de tudo, menos um guarda chuva. O taco costumava ser de Adam, mas quando éramos crianças ele o usava para arremessar bolas na minha cabeça. Então, quando decidi tomar uma atitude em relação a isso, escondi o seu cachorro por dois dias no meu quarto como vingança e tomei o taco para mim. Nunca o usei, não até agora.

Com a visão meio embaçada pelas lágrimas, apresso o passo até a calçada e chuto uma lixeira qualquer, esperando que seja realmente minha. Bato o taco de beisebol no material da lixeira. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes até toda a minha raiva ser descontada em um ato descontrolado de violência contra um objeto inanimado.

Penso na porcaria do campeonato e o quanto meu sono vai ficar desregulado com as viagens; na possibilidade das minhas coreografias não serem boas o bastante; no 86 em matemática que ainda preciso recuperar; nas mãos intrusas de Colin e no quanto fui boa em não denunciá-lo; penso na minha mãe e no fato dela ser o motivo do papai não estar mais me desejando boa noite ou deixando que eu coma waffles no jantar.

Cansada, finalmente paro. Respirando tão depressa e tão cansada que quase caio na grama mal aparada. Ainda sinto certa ira correr pelas minhas veias, mas agora não parece tão forte assim. Me viro, ficando paralisada ao ver Adam sentado nas escadas da varanda da sua casa. Observando tudo com o queixo apoiado em uma mão, um cigarro na outra, um sorrisinho nos lábios e o cenho franzido de dúvida.

"Baratinha, você tem algum problema."

Resmungo, pisando forte para voltar para casa. Mas paro, lembrando que não é tão simples dar meia volta. Penso em recorrer a Daniel, mas não sei se posso chegar de repente à sua casa. Seus pais resmungam em francês sempre que me veem, e ele insiste em dizer que não estão falando coisas maldosas sobre mim, mas é difícil me convencer disso. E para chegar em Dylan, preciso passar pela pessoa mais insolente de todas.

"O que foi? Esqueceu de como se anda?" Ele continua. "Uma perna depois a outra, e assim vai..."

"Cala a boca." Largo o taco no gramado, respirando fundo.

"Não." Adam dá um trago, ainda me olhando.

Uma lágrima solitária rola pela minha bochecha e a sua postura fica mais reta, tensa. Agora ele me olha como fez ontem na sala da diretora. Preocupado e talvez até atencioso. E por um milésimo de segundo, queria ter sua mão por perto novamente. Mas talvez seja efeito colateral de toda essa situação. Não é um desejo real, nunca seria.

"Você tá bem?"

"Por que se importa se estou bem ou não?" Pergunto, na defensiva.

"Eu não me importo." A explicação vem rápido demais, também na defensiva. "Mas eu sou educado, mamãe Karen disse que eu ganharia um biscoito se começasse a perguntar esse tipo de coisa pras pessoas. E isso inclui até você, Reese Ransom, líder de torcida e vizinha insuportável."

Quase abro um sorriso ao mesmo tempo que ando hesitante até a frente da sua varanda.

"Não fala assim da Karen." Minha voz sai tão baixa que quase não me reconheço.

"Assim como?"

"Com deboche. Ela é legal e você sempre fala com ela ou dela nesse tom idiota. Na verdade, você é inteiramente idiota."

Adam abre um sorriso de soslaio, soltando a fumaça pela boca e deixando a brisa levar.

"A Karen é a Karen, não sou tão ruim com ela quanto você pensa. Apenas tanto faz ela estar aqui ou não." Seus ombros sobem e descem, em desdém.

Polos Opostos Where stories live. Discover now