Epílogo

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"Não faça essa cara." Peço.

"Que cara?" O vejo pelo reflexo do espelho, uma das sobrancelhas erguidas e as pernas esticadas na minha cama.

"Essa aí, de quem desaprova tudo que estou fazendo."

"É que encontros por aplicativos não são a sua cara. Você sabe que tem uma chance muito grande de Nicholas Lawrence ser um velho barbudo. Depois de beijar ele vai ter que tirar pelos da boca."

Um arrepio percorreu minha espinha.

"Lip, para." Me viro na sua direção. " Se eu não te conhecesse, acharia que está com ciúmes." É apelação, sei que é, mas faço qualquer coisa para que ele pare de falar.

"Vamos parar por aí, ok? Eu te superei essa manhã. Aí você coloca essa roupa pra sair com um velho barbudo chamado Nicholas Lawrence e cá estou eu de novo."

Sorrio quando me sento na poltrona do canto para calçar os meus saltos. Sei identificar elogios disfarçados, e esse é um.

"Olha, eu sou o seu amigo, e eu te amo. É por isso que vou perguntar: essa é uma medida desesperada?"

Não me considero uma mulher que toma medidas desesperadas, impulsivas, não mais. Foi uma decisão muito bem calculada após procurar Nicholas Lawrence em alguns daqueles procurados da polícia. E ele não é um velho barbudo que me deixará com pelos na boca, na verdade é um cara alto que gosta de viajar e é um empresário cobiçado. Não o considero exatamente o meu "tipo", mas concordei com esse encontro após semanas de enrolação, não dá mais para voltar atrás.

"Não, não é uma medida desesperada."

Levanto, Lip vem atrás. Pego meu celular, minhas chaves e saio do apartamento.

"A garota do 66 trocou os nossos tapetes de novo." Lip se agacha, pegando o nosso tapete e colocando no lugar, fazendo o mesmo com o tapete do vizinho da frente. "Por que ela faz isso?"

"Ela tem dezoito anos." Respondo enquanto aperto o botão do elevador.

O meu amigo não responde, então entramos na caixa metálica, pegamos o meu carro até ele estar confortável no banco do passageiro para lembrar do que se tratava a nossa conversa anteriormente.

"Ainda não estou acreditando que essa não é uma medida desesperada." Suspiro diante da fala quando saio do estacionamento. "Sei que você está encalhada a um ano, mas não consigo te enxergar indo nesses tipos de encontro. Não combina com a sua vibe sexo somente após o alinhamento intelectual."

Paro em um sinal vermelho, "Eu não deveria ter te mantido como amigo."

"Ei!" Ele quase amassa o pacote de salgadinhos que está segurando desde que saímos de casa, ofendido.

Reencontrar Lip na Universidade de Chicago foi uma surpresa e tanto para o meu eu de dezoito anos. Ele foi, literalmente, o meu guia pela cidade quando descobri que aqui na verdade era a sua cidade natal. Lip me mostrou bares, parques, me levou a boates que me deixavam surda por dois dias seguidos e me apresentou a tantas pessoas que na época era até difícil lembrar seus nomes. Conheci mais a fundo até a sua irmã, Penellaphe, conversamos sobre o clima até hoje.

Demorou um pouco para nos tornarmos mais próximos, para nos tornarmos mais que amigos. Namoramos por três anos, dividimos um dormitório fuleiro durante a faculdade de medicina e fizemos isso (quase isso) até hoje. A única diferença é que o nosso relacionamento parou de dar certo, então nós nos mantemos amigos e decidimos que somos melhores assim.

"Quanto tempo esse sinal demora para abrir?" Lip resmunga como uma criança birrenta, abrindo algumas mensagens no celular.

Não respondo quando a minha atenção se volta para um outdoor em cima de um prédio bem iluminado, sorrio com a nostalgia que me atravessa quando vejo o rosto do meu velho amigo.

Polos Opostos Where stories live. Discover now