Capítulo 23 - Obrigada, mas pelo quê?

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A primeira coisa que fiz quando Karen bateu na porta do meu quarto foi dar a ela um abraço apertado. Apesar da barriga grande, da menininha que estava por vir, isso não dificultou em nada no quanto queria sentir o seu abraço já esquecido. Não há nada aqui parecido com o que aconteceu pela madrugada no hospital, não há rancor ou indecisão. Quero abraçá-la, eu preciso disso.

Karen sorri, ela sempre sorri, mas esse sorriso é diferente e até um pouco penoso. Não gosto disso. Não gosto que as pessoas sintam pena de mim tanto quanto não gosto de sentir pena delas. Para mim, esse é um dos piores sentimentos que alguém poderia sentir. É um pouco diferente do ódio. É mais profundo e tem haver com quem você é, com o que fizeram com você ou qual foram as suas escolhas de vida. Se alguém sente pena de mim, estou certamente perdida e abaixo dela. E estar perdida não é uma opção para quem sempre buscou o controle mesmo diante de uma vida atordoada.

Ontem a noite, eu estava sentindo isso. Senti que perdi o controle das minhas ações, que meus músculos não respondiam mais ao que eu mandava. Como um trem desgovernado, meu corpo não tinha freio. Eu o abracei. Poderia ter sido um pouco forçado no começo, mas depois, eu o abracei. Não porque não restava opções, e sim porque aquela era a melhor opção. Eu queria aquilo tanto quanto ele fingia querer. O desespero de um choro alvoroçado tomou conta de tudo que diz respeito aos meus sentimentos e eu o abracei. Ele me abraçou. Nós nos abraçamos.

Só depois, quando o soltei depois de longos minutos aconchegantes e dolorosos, percebi que o que fizemos foi estranho. Estranho até para nós. Eu nunca havia abraçado Adam Lockwood. O máximo que tivemos durante todos esses anos, quando se trata de contato físico, foram apertos de mãos obrigados pelos nossos pais. Uma distância inconsciente e segura foi estabelecida na nossa rivalidade, e hoje, na manhã escura, nós a quebramos. E, pelo menos quando se trata de mim, não sei o porquê. Eu precisava ser abraçada, mas não por ele. Por qualquer outra pessoa, exceto por ele.

Confusa e cansada, levo Karen até a minha cama de solteiro, tentando deixá-la o mais confortável possível.

"Onde está o Jim?" Pergunto, sentando na cama arrumada e vazia de Dylan que não deu sinal de vida desde ontem. Eu deveria estar preocupada com a loira, mas não estou.

"Ele está fazendo check-in em outro hotel. Um hotel um pouco mais confortável." Ela olha para os lados, ainda duvidando da cama em que está sentada. "Como você está?"

"Estou bem. Eu acho." Apesar do olhar de desconfiança que ela lança para mim, o que foi dito não é mentira.

"E esses olhinhos inchados?" Suas mãos capturam as minhas, fazendo-me questionar se a posição em que ela está sentada é confortável.

"Eu chorei antes de dormir, mas agora estou bem." Tento dar um sorriso, mas não consigo. De certa forma me sinto envergonhada por estar assim, e isso é bem explícito. "Na verdade, não sei porque me sinto tão mal. Nem foi eu quem levou uma surra."

"Reese." Karen começa, sem acreditar no que ouve nem no que vê. "Talvez foram coisas demais para você. Uma carga pesada demais. Uma hora ou outra, você iria explodir."

"Ou chorar." Dou de ombros com a sugestão.

"Sim, ou chorar." A loira sorri, umedecendo os lábios pintados com o seu clássico batom vermelho. "Não sinta que não é merecedora de chorar um pouquinho, está bem? Isso é normal, principalmente na sua condição."

"Na minha condição?" Estreito os olhos.

"Eu também choraria se tivesse que dormir aqui." Ela dá de ombros, os olhos incrédulos passeando pelo quarto.

Duas risadas curtas, que mal foram risadas, escapam de nós duas. Olhar para Karen trás uma sensação de conforto que em nenhum momento desejo rejeitar.

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