Capítulo 2 - Separação

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Desde meu casamento com Elizabeth e, ainda mais depois que Sofia retornou com Susana, nunca imaginei que perderia alguém tão próximo para a morte. Joseph foi a primeira grande perda, é verdade, mas a pandemia de Covid-19 foi um golpe terrível!

Era fim de março de 2020 e o Brasil entrava na quarentena do coronavírus. Todos nós nos assustamos com a quantidade de pessoas que começaram a morrer no país. Mas, logo que as baixas nessa guerra injusta se fizeram em Santos, o temor pelos meus parentes e minha família aumentou.

Elizabeth seguiu outras empresas e decretou um lockdown nas operações da construtora, literalmente parando todas as obras e colocando o pessoal administrativo para trabalhar em home office.

Como já estávamos acostumados, as crianças sempre iam e vinham do Castelo Inglês, notadamente Susana e Fabinho que, embora tivessem seus próprios quartos, passavam períodos com suas mães.

Aninha, vendo sempre esse movimento, até queria entrar no "trânsito" de seus irmãos, mas além da casa de meus pais, só havia um destino para minha pequena, o apartamento de Kelly. Lá ela brincava muito com a "tia" e até aprontava das suas...

Contudo, essa rotina acabara ainda no final de março. Logo que a doença chegou a Santos, eu e Elizabeth juntamos a família em casa. Diante da mesma lareira, iniciamos aquela triste conversa com os filhos.

Em pé, ao lado da lareira, eu observei, apreensivo, aqueles que eu mais amava. No sofá grande, estava Fabinho, Aninha e Susana. Eles não pareciam curiosos, já que imaginavam o que poderia acontecer. Bem, pelo menos os dois mais velhos.

Com a pequena entre eles, me fitavam aguardando o que eu tinha para falar. Sentada na poltrona mais próxima da porta dupla, Beth ocupava o lugar preferido de sua mãe. Ela me olhava com ar apreensivo. Naturalmente, eu sabia qual era o motivo disso, mas aquela decisão tinha de ser tomada.

— Meus amores, eu gostaria muito de não ter essa conversa com vocês, mas diante de tudo o que está acontecendo, precisamos tomar providências...

Olhei para Beth, que cerrou os lábios vermelhos, mas rapidamente mirou nos meninos, ainda com seu olhar estampando a importância do assunto. Então, arfei e continuei:

— Fábio, Ana Maria e Susana. Essa pandemia não deveria, mas vai nos separar por um tempo. Sei que será difícil, mas não podemos nos arriscar. Nenhum de nós!

Ao me pronunciar, notei que o semblante de Susana mudara repentinamente. Sentada com as pernas de lado e em seu belo vestido azul, repleto de flores coloridas — um presente dado por Elizabeth — minha garota desfez sua postura e pôs os pés no chão.

Eu podia notar sua respiração acelerar e o brilho de seus olhos castanhos a iniciar o reflexo da alma... Juntou as mãos entre as pernas e manteve total atenção, já imaginando o desfecho.

Já meu filho Fábio, de bermuda tactel e camiseta regata com o símbolo do time do Santos, parecia mais tranquilo.

Magro e com cabelo bem batido dos lados, seus olhos castanhos não demonstravam a mesma apreensão da irmã. Ele mantinha os braços esticados sobre a lateral e o encosto do sofá, com suas pernas cruzadas e esticadas.

Aninha estranhamente estava com os braços cruzados, assim como as pernas dobradas, parecendo fazer uma pose. Também de vestido, mas de cor rosa e com estampa de pássaros, mirava-me quase com um sorriso no rosto. Para ela, conversas assim pareciam gerar muito interesse.

— Olhe, eu queria muito que os três ficassem comigo, mas suas mães precisam de vocês. Eu e Elizabeth ainda precisamos nos arriscar antes de parar com tudo, mas não posso botá-los sob esse risco.

O que ela viu em mim? - Volume 3Where stories live. Discover now