Após alguns minutos de alegria com Aninha nos braços, Beth levantou-se e pediu à filha que fosse brincar com Susana. Então, dirigindo-se a mim, indicou o escritório como destino. Quando passamos por Amanda, esta olhou-me com preocupação. O medo dela eu sabia bem...
Beth entrou primeiro e aguardou eu cruzar o umbral da porta dupla daquele recinto. Então, fechou-as e trancou com chave. Vestida da mesma forma que saíra na noite anterior, minha esposa foi em direção à mesa e apoiou-se de costas na mesma. O gesto, no entanto, me lembrou outra pessoa...
— Você me ama? Me ama de verdade? — questionou Elizabeth.
— Claro, Beth, você sabe...
— Não, eu não sei... Você me traiu em minha própria casa. Me apunhalou pelas costas. Acha isso certo?
Busquei os livros, pois, não tinha como encará-la diante de questionamentos terríveis, mas sinceros. Ela queria uma resposta e eu era obrigado a dar-lhe.
— Não... Fui totalmente irresponsável com nosso amor e com nossa família...
Pensativa, Beth continuou:
— Irresponsável? Não, você foi bem mais que isso, Reginaldo. Você se apoia nessa ideia de que nosso relacionamento é indestrutível...
Ao ouvir, fiquei consternado. Pela primeira vez, Beth estava colocando em questão o que ela mesma sentia. Isso foi para mim como um golpe de espada, que me atravessou em cheio. Se ela duvidava disso, então...
— Escute, nada é indestrutível. Nem o que você acredita sentir por mim.
Minha pressão começou subir. Ouvir Elizabeth questionar sobre o que havia entre nós me fez apoiar-me numa das estantes. Em meu coração, uma palavra se formava e ela tinha duplo significado. Só de imaginar o momento em que seria proferida, meu fôlego começou a falhar.
Eu não tinha mais palavras em meu vocabulário. Agora, era ouvir e esperar a sentença daquele julgamento. Desisti de minha defesa, pois, não havia mais argumentos. Falhei e tinha de receber a condenação. Não havia reparação para o que fizera a ela.
— Me trair novamente foi a comprovação de que você realmente não me ama. Então, como posso amar alguém como você?
Fechei os olhos e vi o rosto imaginário de Roberta, a suicida que sempre me assombrava desde 2003. Mesmo sem nunca tê-la visto, imaginei uma mulher morena e jovem a me encarar com sorriso estranho.
— Você não diz nada, né? Sei... Não pode, porque não tem mais argumentos.
Ouvi Beth arfar, buscando fôlego para continuar a dizer a verdade sobre tudo isso.
— Nunca te dei motivo para duvidar de minha lealdade com você. Mesmo quando estávamos distantes, eu decidi manter-me virgem, porque ainda te amava.
Abri os olhos e mirei-a, mas não disse nada. Meu semblante era de tristeza plena.
— Demonstrei isso mais de uma vez e você? Sempre confiei em ti Reginaldo. Quando voltei, acreditei que minha força para viver era você e nossos filhos. Não sabe o quanto agradeci a Deus por estar aqui de novo...
Notei os olhos avermelhados de Elizabeth, mas os meus, de tão culpados, se recusaram a deixar as águas surgirem. Eu não tinha direito nem de derramá-las... Abaixei a cabeça e deixei-a continuar.
— Mesmo com essa mulher tendo provocado você, deveria e poderia, sim, resistir. Não resistiu à Kelly? Ou vocês me ocultaram algo mais?
As palavras me vieram, em defesa daquela que não estava mais entre nós.
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O que ela viu em mim? - Volume 3
RomanceJá se passaram 17 anos desde que Reginaldo e Elizabeth trocaram olhares no trólebus da Linha 20, em Santos. Punido pela traição, ele aprendeu que mesmo na dor, um amor verdadeiro pode lhe salvar a vida. Ela, que a raiva e o rancor apenas a fizeram p...