Capítulo 4 - Ciúmes

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Susana ainda me confortava, quando Amanda retornou do toalete e se aproximou de nós. Ao vê-la, minha filha foi tomada de surpresa e disse:

— Amanda...

Ainda em pé, a mãe de Fabinho — com sua máscara facial — cumprimentou a garota.

— Oi, Susana, tudo bem?

Comedida, minha filha respondeu sem entusiasmo:

— Tudo bem...

Sem jeito, Amanda mirou em Aninha e cumprimentou-a também. Minha pequena ergueu a cabeça, sorriu e respondeu:

— Oi, Amanda...

Após acenar com a mão direita, a mulher sentou-se no sofá menor, que era o preferido de Joseph. Susana a fitou por um tempo, conjecturando algo. Percebi isso e Amanda também, mas decidi interromper os pensamentos dela.

— Su, o que foi?

Buscando-me com seus olhos castanhos, minha filha respondeu:

— Não é nada de mais, apenas penso em como Beth está nesse momento.

Não era verdade, Susana mirava Amanda porque tinha outro assunto em mente. Quando conclui esse pensamento, a mãe de Fabinho questionou:

— Susana, pode falar o que pensa. Sei que é sobre mim...

Frisei diante da questão e mirei em minha filha, que não parecia surpresa.

— Desculpe, mas não é. Apenas perdi meu olhar em você, apenas isso...

Amanda mirou-me e exibia no semblante um ar de desconfiança, que eu confirmei. Minha filha não estava dizendo a verdade. Presumi que uma hora ela iria se abrir sobre a questão. Fiquei até imaginando que poderia ser sobre o destino de Beth, mas não era... Ainda assim, isso era assunto importante.

Se minha amada morresse, a única pessoa que a Grande Roda da Vida havia "designado" para me salvar era Amanda. Ainda assim, retirei esse pensamento da cabeça, ou pelo menos tentei, porque Susana tinha convicção que Beth retornaria.

Mas, conforme os dias foram passando, talvez essa confiança fosse apenas da boca para fora, nutrindo dentro de si a dúvida.

— Bem, acho que é melhor ir embora — disse Amanda.

— Não, fique para o almoço — insisti.

Susana pareceu incomodada, mas não fez objeções. Embora afirmasse gostar de Amanda, minha filha tinha ciúmes da morena de cabelos castanhos. Isso começou a ficar evidente quando ela entrou na adolescência.

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A menina de cabelos longos e negros se incomodava diante da presença de Amanda. Embora já tivesse ido pelo menos três vezes à casa do irmão, ela via a mãe dele como uma rival para Elizabeth. Bem, pelo menos assim imaginávamos...

Susana tentava evitar que eu tivesse contato com Amanda e isso logo ficou nítido para todos. Beth já dissera que teria uma conversa com ela, mas foi Amanda que se adiantou. Ela tinha 13 anos e a morena dos cabelos castanhos pediu para ter um particular com ela.

Foi no quarto de Susana, num apartamento maior que havíamos comprado para abrigar as três crianças. Não estive presente nessa conversa, mas Amanda relatou que esclareceu à pequena que jamais trairia Beth. Ainda assim, ela revelou à jovem que amava, sim, o pai dela.

No final, elas pareceram ficar bem, mas não passou muito tempo e Susana novamente revelava seus ciúmes para com Amanda. Fabinho, centrado na carreira de jogador, nem desejou entrar no assunto. Beth, contudo, me chamou e tivemos uma conversa com minha filha.

Isso ocorreu no início de 2019, quando Susana ainda não completara 15 anos.

— Su, eu e seu pai queremos falar com você sobre Amanda.

— Mãe Beth, está tudo bem.

— Desculpe querida, mas não está. Quando Amanda vem aqui, você arruma uma desculpa para não estar presente. Sei que isso te incomoda, mas tenho de dizer.

Elizabeth me olhou como que pedindo permissão e eu dei, afinal, ela não era sua mãe de fato:

— Olhe, você precisa parar com isso. Se não o fizer, levarei essa história para sua mãe novamente. Amanda não é ameaça e ela não vai "roubar" seu pai.

A jovem fez ar de desagrado e respondeu:

— Eu não confio nela, Beth.

Minha esposa olhou-me preocupada e voltou-se para a menina:

— Susana, olhe bem. Confio em Amanda. Se eu, Elizabeth Smith, posso confiar nela, você também pode.

A garota cruzou e cerrou o olhar. Então, interpelei:

— Querida, em nenhum momento, Amanda me desrespeitou quando voltei para Elizabeth. Eu também confio nela e, se é a declaração que ela te fez aos 13 anos, pode ter certeza que isso não será um problema.

Susana arregalou os olhos, pois, não imaginara que Amanda tivesse contato sobre a conversa que tiveram algum tempo antes.

— Olha aí! Tá vendo Beth? Ela ama o papai e diz isso na cara dura. Contou-me e nem teve medo de minha reação.

Com semblante desanimado, Elizabeth confirmou:

— Minha querida, eu fui a primeira, a saber. Eles já foram casados, você sabe. O amor dela foi bom para ele e é por causa dela que seu pai está ao nosso lado agora.

Minha filha olhou-me e eu aproveitei a oportunidade para dizer:

— Isso mesmo, Su, devo minha vida à Amanda e o amor dela é importante, mas não mais que o de Elizabeth. Olhe, é com essa mulher maravilhosa que fala contigo que viverei até o fim. Quando você crescer mais, entenderá a nossa história. O nosso amor.

Notei o brilho da paixão nos olhos de Beth quando fiz essa confissão para Susana. A mocinha apontou seu olhar para a madrasta e percebeu o mesmo, que a loira estava emocionada.

Nisso, sua admiração para com Beth — algo que incomodava Sofia — se fez presente e ela sorriu. Era assim, se a loira estivesse feliz, para a enteada, isso já bastava.

— Tá bem. Vou "tentar" passar uma borracha de vez nesse pensamento — falou Susana.

Sorri para ela, agradecendo sua compreensão, mas Beth — que estava sentada sobre a mesa de centro como eu — abraçou a pequena, acomodada no "banco das damas" sob o janelão da sala de jantar.

A partir dali, Susana começou a tratar Amanda melhor, até a chamando para ajudar a organizar sua festa de 15 anos. Contudo, a moreninha de cabelos escuros tinha outros segredos que nos trariam problemas...

O que ela viu em mim? - Volume 3Where stories live. Discover now