Capítulo 6 - Já vi esse olhar em mim

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No dia seguinte, domingo, Sofia insistiu que eu fosse a sua casa. Eu sabia qual era o motivo e Beth quis me acompanhar, porém, pedi que não fosse. Era melhor evitar uma confusão entre elas, afinal, minha esposa continuava a não gostar da morena. Ela apenas a tolerava...

Chegando lá, Susana já estava no sofá, com olheiras visíveis. Com uma almofada presa aos braços, minha filha nem me olhou quando entrei. Vestida com uma camisa azul e um short preto, estava descalça. Séria, Sofia me beijou mecanicamente e pediu para eu sentar no sofá diante da garota.

Seu apartamento era o mesmo que visitei ao reencontrá-la 10 anos depois. Contudo, antes de me acomodar, aproximei-me da jovem e beijei sua cabeça, dizendo a seguir:

— Bom dia querida.

Erguendo o olhar, a jovem falou:

— Bom dia, papai.

Em pé e de braços cruzados, Sofia começou:

— Reginaldo, eu tentei conversar com ela ontem e hoje de manhã, mas não quer falar. O que acontece?

Mantendo os olhos na filha, falei:

— Eu não sei o que é de fato, porque ela ainda não disse. Mas dirá, não é mesmo Susana?

Assentindo, a garota não falou mais nada. Então, não querendo me estender demais, falei o que vi à Sofia, que ficou de boca aberta depois que revelei a cena. Mirando na filha, questionou:

— Você está ficando com o John?! É isso?!

Novamente ela balançou a cabeça, confirmando a questão. Sofia colocou a mão no queixo e olhou para os cantos do apartamento, desnorteada. Cerrando o olhar, a mãe descortinou suas órbitas magnéticas e esbravejou:

— Sua... Olha, você tem algum problema? Me diz! Com tanto rapaz por aí, muitos que arrastam asa pra você, tinha que buscar logo quem? O John? Tu é louca... Louca!

Eu nunca vi Sofia com tanta raiva e, se fosse aos tempos de Pandora, aquele olhar magnético teria libertado muitos dos demônios daquela caixa... Por um momento, ao vê-la naquele estado, me desprendi do motivo que me levara até ali. Aquela mulher estava muito alterada e com toda a razão.

Busquei então a atenção de Susana.

— Filha, o que vocês fazem não é certo. Ele é seu primo e não um amigo de escola, o qual você pode namorar, naturalmente. Precisa encerrar isso antes que a mãe dele saiba.

Por que eu disse isso? O temor de Kátia descobrir o caso deles me fez colocar um segredo na mesa, sem querer. Isso colocou Sofia na berlinda. Logo que eu disse, Susana "magneticamente" me indagou:

— Pai, por que ela não pode saber?

Mirei em Sofia, assustado, e esta me devolveu da mesma forma. Rapidamente minha filha a olhou e questionou novamente.

— Por que a mãe dele não pode saber?

Sofia, agora séria, me direcionou o olhar e falou:

— Responda pra ela Reginaldo. Ela já é bem grandinha para entender algumas coisas — voltou-se para a filha — não é mesmo Su?

Susana me buscou novamente e eu a encarei, mas não acreditei que a mãe pudesse abrir com a filha esse segredo. Fui sinceramente surpreendido por Sofia e até retruquei:

— Tem certeza de que precisamos falar disso?

— Fale Reginaldo! Quem sabe assim ela não cai na real...

— Mãe, que "real" é essa? — olhando-me de novo — Pai, o que ela tá dizendo?

— Bom, então lá vai! Sua mãe e o pai do John, meu irmão, flertaram no passado. Meses antes de eu te conhecer...

O que ela viu em mim? - Volume 3Onde histórias criam vida. Descubra agora