Capítulo 29 - Refúgio nas Terras Altas de Santos

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Enquanto Amanda preparava o jantar, fiquei a imaginar onde Beth poderia estar. Ela tinha muitos contatos e amigos pela cidade, mas era difícil vislumbrá-la em outro lugar que não fosse seu lar. Tínhamos, de fato, uma casa de praia em Bertioga, no condomínio Morada da Praia, em Boracéia.

Contudo, havia um impedimento legal. A entrada de carros de outras cidades, mesmo que vizinhas, estava restrita devido à pandemia de coronavírus. Então, conjecturei que Beth não poderia estar lá.

Logo, meus pensamentos foram aliviados pelas meninas, que desceram a escada apressadas e rindo. Aninha brincava com Susana e pedi a elas que tomassem cuidado com os degraus. Alegre com o momento, Susana falou:

— Relaxa pai!

Aninha, imitando a irmã, repetiu:

— Relaxa pai!

Sorri e brinquei com ela.

— Pai, não! Papai! — falei em voz alta.

— Paipaizinho! — exclamou a garotinha.

Não pude deixar formar um sorriso diante do dela, a brilhar tanto naquela sala triste. No final da brincadeira, Susana agarrou-a pelas costas e Ana Maria fez o que sabia de melhor, gritar. O som estridente foi terrível, como sempre, mas desta vez não reclamei.

Aqueles sons de gargalhada, gritos, passos rápidos no piso de madeira de Ipê, os cabelos esvoaçantes, colados nos rostos delas com o suor, era tudo o que eu precisava ver naquela noite. Para mim, significava vida. Contudo, se soubesse que havia outra intenção, estaria aos prantos...

Logo que a brincadeira acabou, Amanda apareceu na sala e Aninha comemorou com um abraço, fazendo curvar a morena diante da camareira da rainha... Não obstante, a pequenina logo me questionou:

— Papai, quando a mamãe volta?

Diante da questão sem resposta, mirei nas duas que me observavam com apreensão em seus belos rostos. Devolvi o olhar àquela que me pedia uma explicação e evitei a verdade.

— Logo ela volta. Não será hoje viu? É uma viagem de negócios, sabe como é né?

— Papai, mas ninguém pode viajar...

— Por quê?

— Por causa da Covid, ora!

Como enganar uma criança de sete anos em pleno século XXI? É quase impossível. Teria que dar outra explicação.

— Olhe, sua mãe conseguiu uma permissão especial para viajar. Fica tranquila, viu? Ela está segura, assim como nós.

— Então tá bom, papai. Só quero que ela não demore...

— Não vai, prometo.

Fiz uma promessa que não poderia cumprir, mas não sabia que existia alguém que planejara realizá-la para mim... Aparentemente satisfeitas com minha resposta, as duas morenas me convidaram para o jantar. Naquele sábado triste, sem Beth ao lado, me senti como se tivesse voltado ao martírio da Covid...

À mesa, questionei Amanda sobre Fabinho.

— Ele disse que não estava "a fim" de vir... — disse a morena.

Estranhei sua resposta e fiz um ar de interrogação. Então, a Amanda, após reparar em Susana, falou discretamente.

— Ah! Ficou no computador "conversando"...

— Entendi...

Compreendi o que ela quis dizer. Fabinho estava paquerando uma garota, que jamais imaginaria ser quem era... Nisso, Susana não deixou escapar.

O que ela viu em mim? - Volume 3Where stories live. Discover now