Arfando e buscando me controlar, mirei em Beth e retirei minha mão, que estava sobre a perna dela. Ela percebeu, mas não mudou sua postura. Então, comecei a confessar, mas não tive coragem de encará-la, mirando em minhas mãos, agora suando e trêmulas devido à tensão.
— Beth... Elizabeth. Pequei contra ti e contra nosso casamento. Contra minhas filhas, meu filho e nossa família...
Olhei para ela, que continuava firme, embora seus olhos denunciassem a decepção em seu ser. Como demorei, ela insistiu.
— Diga.
Quando a ouvi falar, tive a certeza de que sabia do ocorrido, então, não tive como evitar. Mirando novamente para as mãos, retomei:
— Eu e Sofia cometemos um pecado nesta casa. Na cozinha, durante o blecaute da madrugada.
— Olhe para mim!
Tentei não obedecer, dado não ter como mirá-la, já que minha vergonha era enorme, assim como a culpa.
— Olhe nos meus olhos enquanto diz! Se você teve coragem para pecar, tens que ter também para confessar!
Movi meus olhos em sua direção e vi que os brilhantes verdes de seu oceano estavam avermelhados, como se a morte desse seu sinal... Tomei fôlego e reiniciei.
— Eu e Sofia transamos na cozinha...
— De novo?! — questionou Elizabeth, inconformada.
— Sim... Quando desci para beber água, ela apareceu vestindo uma camisola transparente, que não era mesmo de Susana. Nunca vi minha filha com aquilo...
— Continue! — exclamou Beth, já nervosa.
— Ela queria beber água e com o apagar das luzes, se jogou sobre mim. Bem, então, ela fez novamente como em 2003...
Beth levantou-se rapidamente e andou até a divisa das duas salas, retornando com as mãos no rosto, agora avermelhado.
— Fale Reginaldo! — disse ela em voz alta.
Nervoso, não sabia como continuar e Beth insistiu novamente:
— Diga Reginaldo! O que fizeram depois?!
— Tateei no escuro e achei uma vela na gaveta...
— A minha vela! Aquela do bolo de Ana Maria! Olhe só o que você fez Reginaldo!
— Perdão...
— Perdão?! Você me trai debaixo de nosso teto! E me pede perdão?!
Sentindo que a dor dela estava aumentando, eu precisava dizer toda a verdade, mesmo que isso me carregasse para a Geena...
— Peço! Entretanto, não é tudo! Não é tudo...
— Tem mais Reginaldo?!
— Sim... Subimos as escadas e a levei até o quarto de hóspedes. Quando entramos, a luz voltou e ela se assustou com um ruído. Daí correu e fechou a porta. Então, ela me abraçou novamente e repetiu o que fez na cozinha...
— Essa Sofia é uma puta! Uma vagabunda completa! Mas, você também não fica longe, Reginaldo! Você foi um filho da... Ai! Meu Deus! Sobrevivi para quê?! — lamentou-se Beth ao final.
Comecei a derramar lágrimas, pois, não havia um novo perdão para mim. Não tive coragem de encará-la novamente. Não tinha mais o direito de mirar em seus belos olhos verdes. Arfando intensamente, também possivelmente devido aos efeitos da Covid-19, Beth me revelou algo terrível...
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O que ela viu em mim? - Volume 3
RomanceJá se passaram 17 anos desde que Reginaldo e Elizabeth trocaram olhares no trólebus da Linha 20, em Santos. Punido pela traição, ele aprendeu que mesmo na dor, um amor verdadeiro pode lhe salvar a vida. Ela, que a raiva e o rancor apenas a fizeram p...