Capítulo 16 - Tempestade

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Ainda abraçado com Susana, ouvi a porta do quarto de Fabinho se abrir. Sonolento, o rapaz se aproximou e nos cumprimentou:

— Bom dia, pai. Bom dia, flor do dia...

No final, ele se referia à Susana, que mantinha um ar triste, limpando os olhos. Imediatamente mirando em mim, Fábio notou o mesmo e ficou preocupado.

— Vocês estão bem?

— Não, filho, nós não estamos. Elizabeth teve uma amnésia total...

— Total? Quer dizer que não lembra nada?

— Isso, nem mesmo de Aninha ou qualquer outra pessoa.

— Caramba, então imagino que não serei um privilegiado...

— Tenta a sorte, senhor "estrela" — desdenhou Susana diante do comentário do irmão.

— Su, de novo não, né? — falei.

— Pai, olha o que ele tá dizendo? "Privilegiado", como se ele fosse o mais importante para ela lembrar...

A implicância juvenil de Susana era uma das coisas que não gostava nela, embora aceitasse, pois fazia parte de sua personalidade forte, digamos assim...

— Fabinho e Susana, olhem, não existe predileção diante de Elizabeth. Nem mesmo de Ana Maria ela lembra e também citei meu filho na conversa, mas não recorda e ponto final!

— Desculpe papai, estou nervosa com tudo isso...

— Ok, minha princesa.

— Pai, eu não tive intenção...

— Eu sei, meu filho, claro que não. Mas, quero que você vá lá e se apresente. Ela está com Aninha. Tente lembrá-la do passado que vocês têm.

— Ok, pai. Vou indo lá...

Susana olhou-o seriamente, enquanto ele entrava em meu quarto. Nisso, mirou-me e disse:

— Pai, me desculpa novamente. Sei que sou intempestiva e, "às vezes", falo o que não devo, mas é que tudo isso mexe comigo.

— Calma, meu amor, eu entendo. Já fui jovem como você e sei o que acontece. Mas, não se preocupe, Elizabeth ficará bem e você também.

— Sim, pai, ficaremos bem.

Após dizer, a garota abriu um sorriso acalentador.

— Venha, que tua... — interrompi, pois, quase acabei revelando um segredo.

— Tua, o quê? — indagou curiosa.

Caramba, quase revelei a visita de Sofia para Susana, dada minha desorientação diante do problema de minha esposa. Então, rapidamente, disfarcei.

— Tua irmã... Logo Aninha descerá para tomar café e você precisa levar o de Elizabeth.

— Ah tá! Sem problemas papi...

Era raro ouvir a jovem falar palavras em espanhol, mas ela tinha sangue argentino correndo nas veias e era bem fluente nessa língua. Sofia a ensinara e, por falar nela, já estava chegando...

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Poucos minutos após descermos, ouvi o portão se abrir e o som de um motor a adentrar na garagem. Observando pelo janelão da sala, mirei no Volkswagen T-Cross de cor prata, com vidros bem escurecidos.

Esse era o carro de Sofia, que rapidamente desceu e se encaminhou à porta, após cumprimentar Rubens.

Num blazer azul-marinho e trajando uma calça preta com risca de giz, a advogada realmente correspondia à sua profissão. Seus cabelos negros haviam crescido na quarentena e o penteado era bem diferente do que vi em março.

O que ela viu em mim? - Volume 3Where stories live. Discover now