Ainda abraçado com Susana, ouvi a porta do quarto de Fabinho se abrir. Sonolento, o rapaz se aproximou e nos cumprimentou:
— Bom dia, pai. Bom dia, flor do dia...
No final, ele se referia à Susana, que mantinha um ar triste, limpando os olhos. Imediatamente mirando em mim, Fábio notou o mesmo e ficou preocupado.
— Vocês estão bem?
— Não, filho, nós não estamos. Elizabeth teve uma amnésia total...
— Total? Quer dizer que não lembra nada?
— Isso, nem mesmo de Aninha ou qualquer outra pessoa.
— Caramba, então imagino que não serei um privilegiado...
— Tenta a sorte, senhor "estrela" — desdenhou Susana diante do comentário do irmão.
— Su, de novo não, né? — falei.
— Pai, olha o que ele tá dizendo? "Privilegiado", como se ele fosse o mais importante para ela lembrar...
A implicância juvenil de Susana era uma das coisas que não gostava nela, embora aceitasse, pois fazia parte de sua personalidade forte, digamos assim...
— Fabinho e Susana, olhem, não existe predileção diante de Elizabeth. Nem mesmo de Ana Maria ela lembra e também citei meu filho na conversa, mas não recorda e ponto final!
— Desculpe papai, estou nervosa com tudo isso...
— Ok, minha princesa.
— Pai, eu não tive intenção...
— Eu sei, meu filho, claro que não. Mas, quero que você vá lá e se apresente. Ela está com Aninha. Tente lembrá-la do passado que vocês têm.
— Ok, pai. Vou indo lá...
Susana olhou-o seriamente, enquanto ele entrava em meu quarto. Nisso, mirou-me e disse:
— Pai, me desculpa novamente. Sei que sou intempestiva e, "às vezes", falo o que não devo, mas é que tudo isso mexe comigo.
— Calma, meu amor, eu entendo. Já fui jovem como você e sei o que acontece. Mas, não se preocupe, Elizabeth ficará bem e você também.
— Sim, pai, ficaremos bem.
Após dizer, a garota abriu um sorriso acalentador.
— Venha, que tua... — interrompi, pois, quase acabei revelando um segredo.
— Tua, o quê? — indagou curiosa.
Caramba, quase revelei a visita de Sofia para Susana, dada minha desorientação diante do problema de minha esposa. Então, rapidamente, disfarcei.
— Tua irmã... Logo Aninha descerá para tomar café e você precisa levar o de Elizabeth.
— Ah tá! Sem problemas papi...
Era raro ouvir a jovem falar palavras em espanhol, mas ela tinha sangue argentino correndo nas veias e era bem fluente nessa língua. Sofia a ensinara e, por falar nela, já estava chegando...
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Poucos minutos após descermos, ouvi o portão se abrir e o som de um motor a adentrar na garagem. Observando pelo janelão da sala, mirei no Volkswagen T-Cross de cor prata, com vidros bem escurecidos.
Esse era o carro de Sofia, que rapidamente desceu e se encaminhou à porta, após cumprimentar Rubens.
Num blazer azul-marinho e trajando uma calça preta com risca de giz, a advogada realmente correspondia à sua profissão. Seus cabelos negros haviam crescido na quarentena e o penteado era bem diferente do que vi em março.
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O que ela viu em mim? - Volume 3
RomanceJá se passaram 17 anos desde que Reginaldo e Elizabeth trocaram olhares no trólebus da Linha 20, em Santos. Punido pela traição, ele aprendeu que mesmo na dor, um amor verdadeiro pode lhe salvar a vida. Ela, que a raiva e o rancor apenas a fizeram p...