Após o apoio dado pelo amor de minha filha, me enchi de esperança. Elizabeth estava em uma situação ruim e eu precisava reagir diante de mim mesmo. Vencer o mal que habitava meu interior era imprescindível. Para isso, fortalecer aqueles que precisavam era uma forma de enfrentar.
Fui então até o quarto de Ana Maria e a acordei carinhosamente, como sempre fazia. Minha princesa herdeira do reino dos Smith Armstrong não imaginava como estava a mãe. No entanto, a "missão" fixara em sua mente e ela logo questionou:
— Papai, depois do café, eu vou tomar conta das roupas da mamãe.
— Que lindo, minha filha! Mas, preciso falar algo com você.
— O que papai?
— Sua mãe não levantou bem...
— O que ela tem papai?
Difícil explicar algo que parece não ter explicação, não é mesmo? Para mim, foi complicado abordar o assunto e precisava ser o mais lúdico possível.
— Olhe, você lembra quando fomos ao parque no ano passado?
— No parque? Aquele da praia? Sim, eu lembro.
— Então, você lembra, não é mesmo? Assim como se lembra do teu aniversário né?
— Sim, claro que lembro papai.
— Bem, você lembra porque aí na sua cabecinha, existe algo que chamamos de memória.
— Memória...
— Isso! Me lembro de quando conheci sua mãe. Também de quando você nasceu... Lembro das coisas mais lindas que passamos juntos e também tristes. Você também se recorda de muita coisa, meu amor.
— Tá, papai, eu lembro sim. Mas, o que tem isso com a mamãe?
Ana Maria era experta e desconfiou de minha mudança de assunto. Então, fui ao ponto.
— Bom, devido à mamãe ter ficado muito tempo no hospital, ela agora não lembra nada do que aconteceu...
Minha filha fez um ar de interrogação, pois, não entendera o ponto em que eu queria chegar. Eu, incapaz de ser mais lúdico, tive que pisar sobre gelo fino...
— Aninha, a mamãe não se lembra do hospital e nem de mais nada. Nem mesmo quem sou eu...
— Como assim? Ela não se lembra do senhor?
— Não. Nem de mim, nem de Susana e muito menos do Fabio. Bem, pelo menos ela ainda não o viu...
Neste último trecho, falei para mim mesmo, olhando perdido para um abajur rosa com personagens infantis.
— Papai, mamãe não vai me esquecer.
Olhei-a novamente e, apesar de meu sorriso forçado, por dentro estava petrificado. A confiança da menina não me animava, afinal, Elizabeth não se alterou ao ouvir o nome da filha.
— Ana Maria, mamãe está com um problema que a faz esquecer tudo e todos. Mas, olhe, isso vai passar logo, viu?
— Sim, papai, mas minha mamãe vai lembrar da princesa camareira...
A camareira da rainha, naquele momento, parecia a nobre mais confiante da corte, mas eu precisava preparar o seu espírito. Então, resolvi me adiantar.
— Tudo bem. Olhe, levante, vá lavar o rosto e escovar bem esses dentes. Vou pedir para Susana escovar seu cabelo e, só depois — frisei — você vai ver a mamãe, tá?
— Tá bom papai! Eu te amo!
— Eu mais ainda meu bebê!
Depois do beijo sagrado em minha pequena, voltei ao meu quarto. Susana havia descido e Fabinho ainda devia estar roncando... Ao entrar, vi Elizabeth sentada na cama e com as mãos sobre o colo. Imediatamente ela me olhou e parecia preocupada.
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O que ela viu em mim? - Volume 3
RomanceJá se passaram 17 anos desde que Reginaldo e Elizabeth trocaram olhares no trólebus da Linha 20, em Santos. Punido pela traição, ele aprendeu que mesmo na dor, um amor verdadeiro pode lhe salvar a vida. Ela, que a raiva e o rancor apenas a fizeram p...